Razón y Palabra

Medios Audiovisuales

Número 16, Año 4, Noviembre 1999- Enero 2000


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COISA DE CINEMA

Por: Claudio Costa Val

(Brasil)

"Se eu tivesse os trajes bordados do céu, adornados com luz dourada e prateada, e os trajes escuros, sombrios e azuis da noite, à luz e à meia-luz, eu estenderia estes trajes

sob seus pés. Mas eu, sendo pobre, tenho só os meus sonhos. Então estendo meus

sonhos, com suavidade porque você caminha neles"

(do filme "Nunca te vi... sempre te amei")

A beleza da passagem acima é digna de uma cena e tanto de amor. É verídica no cinema. Na vida real, uma frase deste tipo tem poucas probabilidades de ser incluída em um diálogo. Mas, como nada é impossível, ela foi responsável pelo ínicio de um romance. Você duvida? Bem, os fatos dirão.

Ela o conheceu ali, naquele bar derrubado, sentado em uma mesa junto à parede, numa noite de meio de semana. Ele bebia sozinho, com um head-phone colado ao ouvido e um cigarro na mão. Tinha cara de boêmio autêntico, daqueles de dar até dó. Mas, apesar disso, era meu amigo. Chamava-se Davison e, vez por outra, encontrava-se comigo pela noite.

Pois muito bem. Ela apareceu acompanhada de uma amiga e sentou-se em outra mesa. Sem saber porque, reparou naquele sujeito macambúzio com head-phone. Passou a fitá-lo, inicialmente com curiosidade, depois com provável paixão. Ele, por sua vez, permanecia absorto em sua melancolia alcóolica. Nada ao seu redor fazia mais sentido quando bebia. A lua, as estrelas, os automóveis lá fora, as pessoas, a existência, o universo, a vida. Tudo era uma vaga lembrança, muito distante de seu devaneio de botequim (meu deus, que densidade poética!). Mal sabia ele que Raquel em breve iria mudar tudo isso.

Utilizando-se de um pretexto que não me foi contado, ela conseguiu trocar algumas palavras com ele. Acho que foi mais ou menos assim:

_ Você tá ouvindo o que aí, no head-phone?

_ Joy Division.

_ Não conheço. É legal?

A profundidade do diálogo acabou sendo o suficiente para que sentassem na mesma mesa. Inicialmente os três, depois só ela e ele, pois a amiga foi embora. Garota perspicaz, logo percebeu que alguém estava sobrando...

Os dois, por sua vez, foram trocando idéias e se conhecendo. Descobriram que ambos eram fãs de cinema. Cinéfilos de carteirinha. Sabiam nomes de atores, diretores, produtores, nacionalidade dos filmes, fragmentos do texto de alguns e outras peculiaridades.

Tanto assim, que ele acabou recitando para ela a passagem que consta no ínicio. Resultado: sucumbiram à paixão.

O cinema está sempre a retratar a vida. Mas uma coisa é certa: a vida, às vezes, baseia-se no cinema. Os finais? Bem, nunca se sabe. Os roteiros ainda estão inacabados.



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