Razón y Palabra

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Número 16, Año 4, Noviembre 1999- Enero 2000


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CRIATIVIDADE, QUE BICHO É ESSE?

Por: Armando Pilla*

(Brasil)

Talvez a palavra criatividade não retrate exatamente o que ela significa. Dita assim "criatividade" sugere o aparecimento de uma obra instantânea, algo do tipo inspiração . E criatividade não é isto.

Criatividade é sinônimo de SOLUÇÃO DE PROBLEMAS. Ela só existe, ela só se exprime, face a um problema real, como aplicação para um problema real.

Não há criatividade sem problema referente. Ela sempre parte de um problema, na maioria esmagadora ou então vai ao problema em situações excepcionais. Contudo a criatividade é sempre componente ativo de um problema, verdadeira razão de ser de tudo o que se compreende como solução de problemas.

Ela sempre parte do problema. E aqui poderíamos citar milhares, milhões de exemplos. Para ilustrar, pegaremos um bem clássico: Se o leitor fosse escolhido para descer uma máquina em um buraco de 3 metros de profundidade, de diâmetro igual ao do equipamento, como resolveria o problema? Aparentemente o problema é bem complexo, mas de solução muito simples. Encha o buraco com água, congele-o e coloque a máquina sobre o gelo. Aguarde o gelo derreter e com uma bomba vá tirando o excesso de água que irá se formar. A máquina chegará sem muito esforço a seu destino.

O que queremos enfatizar no exemplo acima é que apesar da solução ser óbvia, muitas vezes não nos damos conta de soluções simples e procuramos soluções complicadas e mais demoradas. Certamente alguns teriam aumentado o buraco para nele colocar um rampa e posteriormente descer o equipamento. Outros teriam contratado um arsenal de engenhocas envolvendo muitas pessoas e assim por diante.

Mas como acontece o processo criativo. As soluções não aparecem do nada como que por encanto, mas são sim resultado de um processo criativo que evolui com o passar do tempo. Bem vejamos como funciona tal processo que podemos dividir em quatro fases distintas: preparação, incubação, iluminação e verificação.

Esta divisão é arbitrária, e pode ser feita de maneiras distintas. Ela foi escolhida por sintetizar o processo criativo de maneira mais prática. Vamos então ao processo criativo:

  1. Preparação: Neste momento estamos a frente de um problema (qualquer que seja ele) e partimos para a coleta do maior número de informações sobre ele. Dados, números, etc. Após o levantamento de dados passamos a pensar sobre o problema com base nas informações de que dispomos. Devemos ler, discutir, anotar, colecionar e cultivar nossa atenção sobre o assunto.

Devemos "curtir" o objeto de nosso esforço. Devemos saber tudo sobre o assunto, devemos conviver com ele dia e noite enquanto os nossos 10 bilhões de neurônios se aquecem para responder a nossa crucial pergunta: o que devo fazer para resolver tal problema?

Outras técnicas podem ser utilizadas nesta fase do processo criativo: ler o maior número de catálogos, revistas, assistir filmes variados, prestar mais atenção em conversas informais e nas pessoas caminhando nas ruas, observar mais o cotidiano. Certamente este referenciais servirão de elementos catalisadores no processo seguinte.

  1. Incubação: Nesta fase do processo você se desliga, descansa do problema. Porém mantém uma pequena luz acesa (dizendo que o problema ainda não foi resolvido).

O que acontece então: o inconsciente liberto do consciente procura fazer as diversas conexões que são a essência da criação.

Nesta fase procure ir ao teatro, ao cinema, ouça música, toque um instrumento, leia jornais, jogue, divirta-se. Quanto mais atividades você fizer mais rapidamente virá a solução ou soluções para o seu problema. Era nesta fase que Eistein tocava violino. Beethoven fazia longas caminhadas e rabiscava seus pensamentos.

Jamais tente resolver dois problemas ao mesmo tempo um no consciente e outro no inconsciente. O esforço consciente é a preparação exaustiva para garantir o combustível para o inconsciente. Thomas Edson dizia que "o trabalho inconsciente é impossível se não for precedido pelo trabalho consciente. Já George F. Kneller dizia: "A inspiração não pode vir sem o trabalho do inconsciente, mesmo que seja por seis meses, seis horas ou seis minutos". Modernamente podemos acrescentar seis segundos.

Na incubação todos os nossos referenciais pessoais, isto é, tudo que aprendemos em nossa vida e que está arquivado em nossa memória é vasculhado. Estes referenciais vão desde a fecundação de óvulo até o último segundo vivido. Nossas experiências de vida também fazem parte desde grande arquivo que é manuseado pelo nosso inconsciente.

  1. Iluminação : Esta fase ocorre nos momentos mais inesperados de nossa vida. É o momento em que as soluções aparecem repentinamente. É quando visualizamos a solução do problema. É o clássico EUREKA de Arquimedes.

Muitas vezes a iluminação acontece na rua, no restaurante, no trânsito ou em qualquer lugar, qualquer lugar mesmo.

Um Diretor de Criação de uma grande Agência de Publicidade brasileira estava encarregado de criar uma campanha publicitária para um grande anunciante. As soluções apresentadas eram medíocres e o prazo estava se esgotando. Um dia quando estava indo para a agência, numa manhã de primavera, ficou preso num engarrafamento dentro de um túnel por dez minutos. Quando finalmente saiu estava com as linhas gerais da campanha pronta. Foi para sua sala rescreveu o texto que tinha rabiscado dentro do túnel, desenvolveu os lay-outs e a campanha foi aprovada com louvor. A iluminação aconteceu dentro do túnel, ele escreveu as idéias que afloravam e se encaixavam como se fossem peças de quebra-cabeças.

A iluminação é o processo de maior climax fulgurante em qualquer nível, seja artístico, científico ou meramente publicitário. O autor sente-se tomado pela exaltação, pois é uma das mais intensas alegrias que se conhece, é uma das mais gratificantes faculdades da condição humana.

  1. Verificação: Neste estágio volta tudo à realidade. O intelecto tem de terminar a obra que a imaginação iniciou. Neste momento o isolamento não é aconselhável, pois necessitamos das reações alheias, através de testes, críticas, julgamentos e avaliações.

É o momento em que devemos começar a pensar física e mentalmente. Mentalmente passamos a levantar o problema originário e devemos fazer com que a mente mergulhe literalmente nele. Na parte física cabe-nos executar a criação.

Talvez o ponto mais difícil da verificação é começar. Neste momento tenho um sugestão para o leitor: comece pelo início, sempre.

Organize-se de maneira que as "coisas" fluam naturalmente, que tudo se encaixe como no quebra-cabeças, pois cada peça tem seu lugar definido. Não tente chegar ao final sem ter passado pelo início, pois, até agora o que fizemos foi passar por diversas fases de um processo, portanto não tente atropelar a seqüência dos acontecimentos. Você já esperou por bastante tempo, não custa esperar mais um pouco.

Sugiro que todas as idéias sejam anotadas, de alguma forma elas serão úteis em algum momento. Não tente selecioná-las, apenas as escreva. Aquelas que não forem aproveitadas deverão ficar arquivadas num "banco de idéias" para posterior utilização, neste momento estaremos fazendo um "brainstorm" onde todo o manancial do inconsciente que veio à tona deve ser guardado para não se perder.

Ter idéias é descobrir relações novas entre coisas conhecidas. É por isto que dizemos que as idéias mais simples são as melhores, Normalmente as pessoas tentam complicar o simples e em cem por cento dos casos elas devem rever suas soluções. A simplicidade faz parte da criatividade e muitas vezes a solução por ser tão óbvia nós não a vemos com tanta facilidade.

Criar é resolver problemas. O processo criativo é de domínio público, inerente a cada um de nós. E consciente ou inconscientemente passamos pelos quatro estágios acima relatados. O que sugerimos é que tomando conhecimento deste processo, possamos acelerar as soluções ou simplesmente torná-las mais executáveis.

Cabe-nos ressaltar também que além da criatividade, existem pessoas "inspiradas". Além de criativas são sensíveis aos seus dons. Mozart, Da Vinci, Freud e tantos outros gênios que conhecemos enquadram-se aqui.

Porém, se alguém lhe perguntasse qual a condição para um compositor compor um excelente sonata, certamente teríamos como resposta: a inspiração.

Não, posso responder com toda a minha convicção. A condição para um compositor compor uma excelente sonata é ele ser um excelente compositor...

Na realidade o queremos dizer é que as pessoas possuem núcleos de capacidades e conhecimentos (que nós poderíamos chamar de arquivos específicos). Jamais um filósofo será um excelente relojoeiro. Neste caso seus referenciais de vida o levam a trabalhar em áreas específicas. Muitos dos grande teóricos da física e da matemática nunca viram na prática o resultado de suas descobertas, pois eles eram pensadores. Coube a outros provarem suas teorias, na prática.

Cabe-nos então achar a nossa parte na história da humanidade. E este é o problema que deixo para ser resolvido, individualmente por cada um de nós.

*Armando Pilla: Prof. de la Univ. Internacional de Andalucía, Publicista, Prof. de la Univ. de Sao Paulo en Brasil.



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