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2000

 

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"Navegando" por novos mares...
 
Por Eduardo Franco
Número 18


Embora somente 7% da população brasileira tenha acesso à Rede Mundial de Computadores - Internet- , ela já vem determinando novos padrões de comportamento. Afinal, o mundo virtual traz benefícios ou prejuízos à vida das pessoas?

Será que a Internet integra ou isola as pessoas? Essa dúvida tem preocupado pais e educadores que vêem seus filhos e alunos ficarem horas a fio na frente do computador. O temor aumentou ainda mais quando, há algumas semanas, a imprensa divulgou uma pesquisa feita pelo jornal New York Times, que constatou que muitas pessoas estavam ficando boa parte do seu tempo livre "navegando" na Internet, deixando de lado os maridos, esposas, pais, irmãos, filhos e amigos. Em suma, gente que se relacionava de forma virtual com pessoas de vários Estados e até mesmo de outros países, mas que mal tinham tempo de brincar com os filhos ou sentar-se com os amigos depois do trabalho para "conversar fiado".

Na opinião do professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Virgílio Fernandes de Almeida, se essa pesquisa fosse feita no Brasil certamente o resultado seria outro. Ele argumenta que a cultura dos brasileiros faz com que eles sejam mais calorosos e prezem mais o contato pessoal que os norte-americanos. Coisas típicas dos brasileiros como se encontrar, abraçar e beijar os amigos são coisas que os norte-americanos não costumam fazer. "Eles nem pegam na mão das pessoas para cumprimentá-las", comenta o professor.

Também é de praxe nos Estados Unidos os filhos deixarem a casa dos pais bem mais cedo que no Brasil. Geralmente, aos 17, 18 anos, eles vão para as universidades, que na maioria das vezes estão localizadas longe da casa dos pais. Ficam morando lá enquanto estão estudando e depois que se formam vão morar sozinhos. Almeida diz que com a ausência dos filhos e essa tendência de viverem isolados, os norte-americanos encontram na Internet uma forma de se relacionarem com outras pessoas. Segundo ele, uma pesquisa feita naquele país verificou que muitos idosos encontram na Internet uma forma de fugirem da solidão. Na Finlândia, que é um país extremamente frio e as pessoas saem pouco de casa, a Internet está em grande parte das casas – é o país com o maior percentual de utilização dessa tecnologia no mundo – e ajuda as famílias a se comunicarem.

A Rede na vida dos jovens

Quem também discorda do resultado da pesquisa do New York Times para o Brasil é a professora de Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Beatriz Bretas, doutoranda em Ciência da Informação que pesquisa a interferência da Internet na vida dos jovens. Ela acompanhou e entrevistou um grupo de 42 jovens, de 12 a 20 anos, de Belo Horizonte, que possuem home pages ou que utilizam a Internet regularmente. Na maioria dos casos, a professora verificou que o tempo que eles ficam plugados na Internet não é longo, principalmente por causa da vigilância dos pais, que ficam preocupados com o valor da conta telefônica. Outra coisa que ela observou foi que eles utilizam a Internet para fazer novos amigos e o objetivo maior é de se encontrar pessoalmente com essas pessoas.

Por esse motivo, Beatriz encontrou casos de adolescentes que se conheceram pela Internet e que se encontram regularmente para conversar ou namorar. Ela observou que são raros os casos de "viciados" em Internet, ou seja, aqueles ficam regularmente várias horas "navegando". Normalmente, esses jovens costumam ficar na Internet durante a madrugada, quando os impulsos telefônicos são mais baratos. O problema é que no dia seguinte se levantam para ir para a aula "morrendo" de sono e costumam até dormir em sala de aula. Mas, mesmo esses "viciados" não deixam de se encontrar com amigos ou namorado (a) para ficarem "grudados" com a Internet.

Uma enquete sobre o assunto feita pela revista brasileira semanal "Época" no período de 18 a 24 de fevereiro último corrobora o que Almeida e Beatriz pensam. Um grupo de 1.349 pessoas responderam à seguinte questão: "Você acha que a Internet ajuda a aumentar a solidão das pessoas?". Um percentual de 57,6% responderam que depende da maneira como ela é utilizada; 14% acham que sim, pois as pessoas acabam passando mais tempo na frente do computador; 13% pensam que não, pois ela permite a comunicação a distância; outros 7,% disseram que sim, já que se trata de uma atividade individual; e mais 7,6% responderam que não, em razão dos chats poderem favorecer o encontro entre as pessoas.
 

É preciso Ter visão crítica

Para responder se a Internet traz mais coisas boas ou ruins para as pessoas, o professor Virgílio de Almeida cita uma passagem do personagem Riobaldo, de "Grande Sertão Veredas", do escritor brasileiro João Guimarães Rosa. Ele pergunta a um velho homem: "Acha mesmo assim que o sertão é bom?" Este lhe responde: "Sertão não é maligno nem caridoso... ele tira ou dá, ou agrada ou amarga, ao senhor, conforme o senhor mesmo". Dessa maneira, o professor avalia que as pessoas precisam ter uma visão crítica para poderem aproveitar o que há de melhor na Internet. "Com uma boa educação os jovens podem fazer esse discernimento", acredita.

A professora Beatriz Bretas defende que pais e professores fiquem mais inteirados sobre o que se passsa na Internet para poderem orientar seus filhos. Ela diz que é possível encontrar-se "de tudo" na rede, por isso a necessidade de se acompanhar de perto as "navegações" dos jovens. A educadora notou, no entanto, que os seus entrevistados têm um certo discernimento sobre o que é bom e ruim. Por exemplo, quando ela perguntou a eles o que consideravam ruim na Internet eles responderam quase em uníssono que era a pedofilia. Beatriz também não viu nos sites em que pesquisou em Belo Horizonte casos de "grupos de ódio", ou seja, aqueles que pregam a violência, o racismo ou coisas do gênero.

Uma das coisas que deixou a pesquisadora bastante animada foi o espírito de solidariedade que há entre os internautas. Por exemplo, o quesito música é o mais acessado por essas pessoas, que se valem do sistema MP3 para capturar músicas e gravá-las CD. Beatriz verificou que esses jovens estão sempre trocando informações sobre o assunto e gravações de determinadas músicas. É curioso, mas a Internet tem servido até para se formar correntes de oração. Segundo a professora, há um tempo atrás ela recebeu um E-mail de um senhor pedindo que ela rezasse por uma sobrinha de 9 anos que ia sofrer uma cirurgia bastante delicada. Ela respondeu, tentando animar a família. Depois de dois meses, a própria menina enviou uma mensagem com uma fotografia dela, dizendo que tinha corrido tudo bem e agradecendo as orações.
 

Poucos ainda têm acesso


Ao contrário de levar as pessoas à solidão, o grande problema que os especialistas estão vendo na Internet é que ela está aumentando ainda mais a distância que existe entre ricos e pobres. O professor Virgílio de Almeida comenta que o percentual de indivíduos que têm acesso a essa sociedade de informação, que tem na Internet o seu principal símbolo, é muito pequeno e é justamente nesse meio que estão surgindo mais empregos e onde acaba se formando um nicho privilegiado. Há várias limitações para as pessoas aderirem à essas novas tecnologias como a dificuldade para se comprar um computador, uma linha telefônica, pagar uma mensalidade ao provedor da Internet e falar inglês.

Nos Estados Unidos, foram feitas algumas pesquisas que comprovam que os latinos e os negros têm menos acesso à Internet que os norte-americanos brancos. Uma delas verificou que os latinos têm metade das chances de ter um computador e duas vezes e meia menos chance de usar a Internet que os norte americanos. Os filhos dos latinos também encontram mais dificuldades que os colegas norte-americanos para entrar na Internet disponível em bibliotecas, igrejas ou órgãos públicos. Os negros norte-americanos também têm duas vezes menos chances que seus compatriotas brancos de ter acesso à Internet.

A vantagem, segundo Almeida, é que o governo norte-americano já percebeu que a dificuldade de fazer parte dessa sociedade da informação pode agravar ainda mais a desigualdade social e tem tomado medidas no sentido de mudar essa situação. Algumas providências estão sendo tomadas com o propósito de democratizar o acesso a essas novas tecnologias. No Brasil, ao contrário, o professor acha que os governantes estão deixando a coisa correr muito solta e com isso apenas um grupo pequeno tem se beneficiado. Para se ter uma idéia, apenas 7% da população tem acesso à Internet. Ele ressalta que é urgente que seja feita alguma coisa para ampliar esse acesso às novas tecnologias para se evitar uma separação ainda maior das classes sociais e o crescimento da exclusão social.

Essa mesma opinião é compartilhada pela professora Beatriz Bretas, que defende a necessidade de uma ampla campanha de "alfabetização digital". Ela salienta que o crescimento da Internet está num ritmo mais acelerado do que qualquer outra mídia e já está mais do que na hora de se fazer alguma coisa para que a população como um todo seja integrada à essa rede de informação. A professora acredita que o antídoto para se acabar com essa "exclusão tecnológica" seja ampliar a rede e facilitar o acesso das pessoas. "Penso que podemos criar uma rede de solidariedade através da Internet, onde as pessoas possam se integrar e se ajudar", enfatiza.


Eduardo Franco
Colaborador del Jornal de Opinião Belo Horizonte, MG, Brazil.

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