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Por Ceci do Eirado Amorim
y Angelo Brás Fernandes Callou
Número
31
INTRODUÇÃO
Contextualização
A mídia impressa tem sido amplamente utilizada na divulgação
das políticas públicas, como também um dos
mais importantes veículos de comunicação para
tornar conhecidas aquelas propriedades com estrutura receptiva para
a modalidade do turismo rural, atividade não-agrícola
que vem sendo apontada como das mais promissoras na revitalização
socioeconômica do espaço rural, cenário onde
a Comunicação Rural esteve presente como instrumento
na implementação das políticas agropecuárias.
Hoje, o espaço rural não mais se limita à produção
de alimentos e a Comunicação Rural expande o seu leque
de atuação, incorporando as novas ruralidades, como
o turismo rural. Diante dessas observações pareceu
interessante investigar como a imprensa pernambucana vem abordando
o tema.
O turismo rural surge em Pernambuco
na década de 90, quando os problemas decorrentes do processo
da globalização estão mais evidentes. Ao expandir-se
por todos os cantos e recantos do mundo, principalmente após
o término da Guerra Fria e da queda do Muro de Berlim (1989),
a globalização foi levando consigo um capitalismo
que tem acentuado as desigualdades sociais, econômicas, políticas
e culturais4. Além do mais,
a concentração do poder econômico tem contribuído
para o agravamento da questão social5.
Diante de um cenário nada promissor, observa-se o aumento
do número de desempregados e da violência social. Nas
ruas se avolumam os lumpens. Fatos tão comuns, hoje, no Brasil
e em tantos outros países do mundo. Contraditoriamente, a
"... globalização do mundo ao mesmo tempo em
que integra e articula, desagrega e tenciona, [sic] reproduzindo
e acentuando desigualdades em todos os quadrantes"6.
O capitalismo se fortalece com a
desarticulação da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas - URSS e frente à ideologia
neoliberal - que juntos vão ocupando mais e mais o espaço-mundo,
cujas barreiras geográficas tornam-se invisíveis diante
do avanço das novas tecnologias da informação
que propiciaram uma outra dinâmica à economia e à
sociedade em sentido amplo7. A
modernização de todos os setores da economia não
foi capaz de modernizar as formas de vida de modo igualitário,
mas sim, de modo excludente. Complementando:
"Mais do que nunca, as desigualdades
sociais, econômicas, políticas e culturais estão
lançadas em escala mundial. O mesmo processo de globalização,
com o que se desenvolve a interdependência, a integração
e a dinamização das sociedades nacionais, produz
desigualdades, tensões e antagonismos. O mesmo processo
de globalização, que debilita o Estado-Nação,
ou redefine as condições de sua soberania, provoca
o desenvolvimento de diversidades, desigualdades e contradições,
em escala nacional e mundial"8.
Não há mais como tentar
disfarçar a gravidade do quadro em que se encontra grande
parte das populações rurais no país. Um quadro
visivelmente agravado não só pelas questões
aqui já apontadas mas, também, pela inserção
de políticas públicas que excluem as forças
endógenas e que privilegiam modelos e práticas alheias
à situação real do local. Para minimizar ou
evitar que isso se mantenha, entende-se que um instrumento como
a Comunicação Rural na perspectiva do desenvolvimento
local, como propõem Tauk Santos e Callou9
seja capaz de, num ponto de vista mais amplo e adequado à
realidade, trabalhar de forma harmônica as forças exógenas
e endógenas, visando a uma concertação10.
Para Callou "a noção
de desenvolvimento em seus diferentes matizes se mantém colada,
ainda hoje, à concepção de Comunicação
Rural"11. Mantém-se,
assim, como salienta Tauk Santos, a sua característica fundamental
que é "se constituir em processo comunicativo na perspectiva
de construir mudança"12.
Com essa preocupação, os autores propõem o
conceito de Comunicação Rural na perspectiva do desenvolvimento
local adotado nesta pesquisa.
"é um processo que
sai do patamar genérico das interações entre
populações rurais e organizações não-governamentais,
para legitimação de políticas agrícolas
ou transformações estruturais e torna-se um instrumento
prioritariamente viabilizador de um 'fórum' local com capacidade
de definir e gerar localmente políticas de desenvolvimento"13.
Os autores afirmam que essa Comunicação
Rural preocupada com o desenvolvimento local deverá "...
promover uma ação econômica-produtiva imediata;
garantir a oportunidade para que os projetos de desenvolvimento
sejam resultado das aspirações das pessoas envolvidas
e que o apoio governamental, em seus diferentes níveis, sirvam
como reforço à lógica local"14.
Nesse aspecto, percebe-se uma ação,
ainda pontual, que parece estar seguindo um modelo de desenvolvimento
identificando as potencialidades locais, a partir de um trabalho
de construção coletiva, em que os mais diferentes
representantes da sociedade e dos governos marcam presença
na discussão dos problemas e dos indicadores de possíveis
soluções15. Atrelado
às regras econômicas mundialmente ditadas, e diante
da situação em que se encontram as populações
menos favorecidas, o poder público trata de buscar parcerias
e de trabalhar localmente com a intenção de transformar
esse quadro social em que elas se encontram. Todo o esforço
volta-se para a formação de uma cultura que contemple
a parceria, a solidariedade e a cooperação dos diferentes
atores, tendo em vista o aproveitamento das potencialidades locais.
Essa nova cultura começa a ser plantada nos fóruns
de construção do desenvolvimento local compreendido,
neste trabalho, como:
"Um modo de promover o desenvolvimento
que abarca várias dimensões e leva em conta o papel
de vários fatores - econômicos e extra-econômicos
- para tornar dinâmicas potencialidades que podem ser identificadas
quando focalizamos as atenções e os esforços
numa unidade socioterritorial delimitada"16.
O Desenvolvimento Local ou como
trata Franco, o Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável
parece estar em pauta, como também a Comunicação
Rural, na perspectiva do desenvolvimento local como sugerem Tauk
Santos e Callou.
TURISMO RURAL E DESENVOLVIMENTO
LOCAL
Em Pernambuco, políticas públicas17
começam a ser discutidas em fóruns promovidos
localmente com a presença dos mais diversos atores sociais.
Nessas discussões coletivas, o turismo rural tem surgido
como uma possível nova atividade econômica para as
áreas rurais, considerando-se as potencialidades do Estado.
A visível crise das atividades agrícolas, ao longo
das últimas décadas, tem levado o espaço rural
a não se restringir apenas às atividades agropecuárias.
A implantação de novas atividades e o resgate de outras
objetivando o desenvolvimento sustentável do campo foi sugerida
por Graziano ao afirmar que o rural deveria ser visto não
apenas como espaço agropecuário, mas também,
como espaço de produção de serviços
e de bens não-agrícolas19.
Começa-se a ver um "novo
rural". Essa percepção ainda não se dá
de forma homogênea em todo o território brasileiro.
Algumas regiões, por motivos que não serão
aqui tratados por fugirem ao âmbito deste trabalho, desenvolvem-se
num ritmo mais acelerado, outras menos e outras, ainda, se mantêm
em total estagnação. Uma das propostas que acena com
grande capacidade para reformular e revitalizar algumas dessas áreas
é o turismo rural. Experiências nesse sentido vêm
sendo desenvolvidas em vários estados do país e em
outros continentes20.
Em Pernambuco, na última
década, o turismo deslocou-se da faixa litorânea e
se adentrou para a zona rural, chamando a atenção
do potencial do Estado para o novo segmento do turismo, o rural,
e as opções de lazer nas fazendas e engenhos que acolhem
turistas e excursionistas21
interessados em vivenciar o dia-a-dia no campo.
Essa idéia só começa
a ser concretizada, no início dos anos 90, quando fazendas
de café do agreste e engenhos de açúcar começam
a oferecer essa modalidade de turismo. Além dessas iniciativas,
o Projeto Agroecoturístico de Barra Azul22,
no Engenho Barra Azul (desapropriado pelo Instituto Nacional da
Reforma Agrária - INCRA), município de Bonito, vem
tendo apoio dos governos estadual e federal através do INCRA,
da Empresa de Abastecimento e Extensão Rural do Estado de
Pernambuco - EBAPE, da Empresa de Turismo de Pernambuco S/A - EMPETUR
e da Fundação Municipal de Pernambuco - FIDEM23.
O projeto não foi totalmente concluído e o antigo
engenho ainda não é comercializado como produto turístico.
Outra iniciativa em andamento, para
incrementar o turismo nas propriedades rurais, é o Projeto
Turismo Rural e Ecoturismo que faz parte da Componente Diversificação
Econômica do PROMATA, coordenado pela Secretaria do Planejamento
e Desenvolvimento Social do Estado de Pernambuco - SEPLANDES. Essas
e outras ações e intenções começam
a acenar com uma perspectiva de mudança no cenário
rural pernambucano, ao lado de atividades agropecuárias que
atendem a nichos de mercado e de outras atividades não-agrícolas
que estão sendo gestadas e, ao que parece, poderão
indicar saídas para minimizar as graves questões econômicas
e sociais.
O turismo, e, em especial o turismo
rural, começa a ser visto pelos setores público e
privado como uma das atividades não-agrícolas mais
promissoras na revitalização do espaço rural
pernambucano24. Vale ressaltar
que as tradicionais e as "novas atividades agrícolas"
- "piscicultura, criação de aves nobres e exóticas,
criação de rãs, criação de outros
animais para corte, produção orgânica de ervas
medicinais, produção orgânica para o mercado
internacional diferenciado, produção de verduras e
legumes para as redes de supermercado e de fast-food, floricultura
e mudas de plantas ornamentais, fruticultura de mesa, produção
de sucos naturais e polpa de fruta congelada, reprodução
de plantas extrativas, cultivo de cogumelos"25
- são fundamentais a esse segmento turístico. Assim,
uma atividade não exclui a outra, pelo contrário,
complementam-se. Trata-se, portanto, de uma atividade que revaloriza
o campo "desencadeando o tradicional efeito multiplicador da
atividade turística"26.
Além disso, como diz Rodrigues, "o turismo vive das
especificidades dos lugares. Quase todos partem em busca do novo,
do diferente, do exótico"27.
O turismo vem ocupando espaços
diversos em nosso território brasileiro e, nas duas últimas
décadas, o agroturismo vem se difundindo em algumas propriedades
rurais. A crise das atividades agrícolas seja por questões
climáticas, tecnológicas ou da globalização
vem, há algum tempo, concebendo um novo cenário, o
que aí está. Esse fenômeno tem mostrado, ao
longo dos últimos anos, que o espaço rural vem sofrendo
transformações gradativas em suas atividades produtivas.
A introdução de novas atividades e o resgate de outras
objetivando o desenvolvimento sustentável do campo vêm
sendo amplamente discutidos. A diversificação28
faz-se necessária e dentre as atividades não-agrícolas
apontadas como das mais promissoras na retomada do desenvolvimento
das áreas rurais tem sido o turismo29.
No que se refere ao turismo rural,
de fato, ele vem se instalando aos poucos, nas propriedades pernambucanas.
Observa-se que há um grande potencial para esse segmento
turístico - os engenhos de açúcar da Zona da
Mata, hoje, de "fogo morto"30
são registros do ciclo da cana-de-açúcar que
teve início no século XVI. Alguns engenhos, ainda,
conservam um patrimônio edificado de rara beleza em meio a
paisagens naturais típicas daquela região; os engenhos
de rapadura de Triunfo e de Santa Cruz da Baixa Verde; as fazendas
de café e de criação de animais do agreste,
e as fazendas do Vale do São Francisco, do sertão,
com o cultivo de frutas, são alguns dos locais vocacionados
para esse segmento turístico. Em cada uma dessas regiões,
expressões culturais se manifestam por meio da gastronomia,
do artesanato, da música e da dança, atrativos turísticos
que integram e enriquecem o produto turismo rural.
O segmento turístico em estudo
é uma atividade recente do ponto de vista comercial e, pelo
que foi exposto, parece ter todas as condições para
promover o desenvolvimento local. Políticas públicas
que contemplassem esse segmento, até bem pouco tempo, inexistiam.
Da mesma forma, ações que promovessem o desenvolvimento
local compreendido como aquele que é planejado e construído
juntamente com a população, considerando as potencialidades
do lugar, gerando renda e receita para a localidade. Além
disso, a escassez de material promocional e informativo não
tem promovido suficientemente esse turismo em Pernambuco. A ausência
de campanhas publicitárias, a escassa distribuição
de folders e de sites na Internet, têm mantido
a imprensa como uma das poucas formas de se obter esse tipo de informação32.
Palestras sobre o tema têm sido promovidas por algumas instituições
a exemplo da EMPETUR, do Instituto de Administração
e Tecnologia - ADM&TEC, do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, da Associação
Pernambucana de Ecoturismo - APECO, entre outras. Esses eventos
têm contribuído na divulgação dessa modalidade
de turismo, na atração de proprietários rurais
e, também, têm despertado o interesse da imprensa que
tem dedicado espaço de destaque nas páginas dos principais
jornais do Estado.
A IMPORTÂNCIA DA IMPRENSA
PERNAMBUCANA DA DIVULGAÇÃO DO TURISMO RURAL
A imprensa tem se mostrado um importante veículo na transmissão
de informações sobre o turismo rural em Pernambuco.
Fato confirmado através de conversa informal com América
Regher, proprietária da Fazenda Sambaíba, localizada
no município de Brejão, pioneira nesse segmento do
turismo em nosso Estado e com Ricardo Cavalcanti, proprietário
da Fazenda-Engenho Cordeiro, em Carpina/Lagoa do Carro, há
dois anos na nova atividade. Eles afirmaram que o crescimento da
procura, em seus empreendimentos, se dá quando a imprensa
veicula matéria sobre as opções de turismo
rural no Estado. Isso ocorre nos meses de férias e próximo
aos feriados prolongados. Enfaticamente, Cavalcanti disse que "a
imprensa é, sem dúvida nenhuma, responsável
pelo aumento do fluxo turístico do segmento turismo rural.
Quando sai uma matéria sobre a Fazenda, a resposta é
imediata. O que está faltando é publicidade institucional"33.
A imprensa atinge um número
significativo de pessoas e, como pode ser constatado pelas palavras
do proprietário da Fazenda-Engenho Cordeiro, influencia nas
decisões de compra do produto turístico e de lazer;
e, porque não, também, nas decisões de investimentos,
como é o caso da fazenda-pousada ou da fazenda-hotel e dos
pesque-pague nas propriedades rurais.
Os jornais ressaltam, por exemplo,
os atrativos e as vantagens das opções de turismo
e de lazer nas fazendas e engenhos do Estado, agindo, dessa forma,
como estímulos sedutores para que haja o deslocamento em
direção ao campo. Assim entendido, concorda-se com
Medina quando afirma que a mensagem jornalística "vista
no complexo da comunicação de massa, é realmente
um dos produtos de consumo da indústria cultural"36
e que, esse "produto/matéria desenvolveu uma linguagem
própria para atrair o consumidor-leitor"35.
Pode-se afirmar que a imprensa tem
sido, realmente, um dos mais importantes veículos de comunicação
na transmissão de informações sobre o turismo
rural. Esse novo segmento turístico, essa nova atividade
não-agrícola que começa a emergir, mesmo que
de forma tímida em nosso espaço rural, interfere,
de alguma maneira, na paisagem e na ocupação daqueles
que, até então, eram exclusivamente agricultores,
enfim, no cotidiano do homem rural. Nesse contexto, a Comunicação
Rural passa a se preocupar, também, com o modelo de inserção
dessas novas atividades e assume o papel de articuladora nas ações
de desenvolvimento local.
O turismo rural vem se espalhando
no corpo dos jornais pernambucanos. Parece que a idéia dessa
modalidade começa a ser mais absorvida pela mídia,
pelos proprietários rurais, pelos governos e pelo consumidor-leitor.
Vislumbram-se seus efeitos por dinamizar os mais diversos setores
da economia, como também, por conservar os valores culturais
das áreas rurais e otimizar os recursos endógenos.
Mas estará o turismo rural, em Pernambuco, realmente promovendo
o desenvolvimento local por meio da Comunicação Rural
no Estado?
Ao pesquisar o turismo rural na
imprensa pernambucana, constatou-se que ele tem ocupado espaço
tanto nos cadernos de turismo como nos de economia e, até,
nas colunas sociais. Ele não tem sido visto apenas como mais
um segmento do turismo, mas, também, como uma atividade econômica
que começa a despontar no espaço rural.
As matérias publicadas sobre
o turismo rural, em Pernambuco, pelos jornais -Diario de Pernambuco
e Jornal do Commercio - no período pesquisado36,
abordando assuntos que davam subsídios às respostas
das questões formuladas, levaram às seguintes constatações:
1. O turismo rural ganha espaço
na mídia impressa a partir de 1993, quando a Fazenda Sambaíba,
localizada em Brejão, agreste meridional, passa a receber
turistas e visitantes interessados nesse segmento turístico.
A partir dessa iniciativa, outros proprietários rurais daquela
região, da Zona da Mata e da Região Metropolitana
do Recife começam, também, a pensar na possibilidade
de diversificação das atividades produtivas. Alguns
chegaram a implantar infra-estrutura, e já ampliaram suas
instalações. Também, no ano de 1993, o Governo
do Estado começa a chamar a atenção para a
importância do turismo rural, ao promover o I Seminário
sobre Turismo Rural. Apesar das iniciativas pública e privada
terem dado o primeiro passo no agreste meridional, observou-se uma
maior concentração de equipamentos de turismo e de
lazer rural, de estudos e de projetos na Zona da Mata Norte e na
Região Metropolitana do Recife.
2. O potencial turístico
do Estado para o segmento turismo rural é exposto pelos jornais
pesquisados, como também a preocupação com
a conservação do patrimônio cultural edificado,
que vem se deteriorando pela ausência de ações
de conservação e de uso.
3. Ao abordar a diversificação
das atividades econômicas no campo, a imprensa aponta o turismo
rural como uma opção e como uma atividade que deve
ser complementar à atividade existente na fazenda ou no engenho,
ou seja, na propriedade rural.
4. Ao descrever os estudos e os
projetos que contemplam o turismo rural, as matérias jornalísticas
enfocam preocupações que vão ao encontro da
filosofia do desenvolvimento local, como: promover o desenvolvimento
socioeconômico da população; incentivar a preservação
ambiental; criar processo de interação homem x meio
ambiente; incentivar a produção local; aumentar a
renda do homem do campo; evitar ou reduzir o êxodo rural;
preservar o patrimônio rural; divulgar e preservar o modo
de vida e as tradições culturais e estimular atividades
produtivas através do turismo.
5. Os jornais também apontam
a dificuldade de se estabelecer uma cultura associativa. Um obstáculo
que se julgava mais restrito ao Estado ou à região,
mas parece ser quase que generalizado, no país, como pontuou
o presidente da Associação Brasileira de Turismo Rural
- ABTR durante palestra. Esta dificuldade pode ser um dos entraves
à formação da cultura da participação
e da parceria, fundamentais ao desenvolvimento a partir da base
local. Mas, no final do mês de abril deste ano, O Diario de
Pernambuco publica matéria informando a criação
da Associação das Propriedades de Turismo Rural de
Pernambuco, o que pode ser um bom sinal para o crescimento de um
turismo integrado e promotor do desenvolvimento local.
6. Alguns proprietários,
empresários do turismo rural, vêm promovendo a interação
dos turistas com outras propriedades. São pequenos e médios
proprietários rurais que se beneficiam com essas visitas
ao vender parte da produção de doces, geléias,
queijos, ovos, licores, frutas e legumes, entre outros. Uma maneira
inteligente de distribuir os gastos dos turistas na localidade e
de promover os primeiros passos do desenvolvimento local. Uma maneira,
também, de ampliar a oferta de lazer daqueles que procuram
o turismo rural.
7. Constatou-se que há uma
tendência em reproduzir modelos europeus de turismo rural.
Palestrantes e consultores de Portugal, da Espanha e da Itália
expuseram suas experiências e deixaram algumas contribuições.
A experiência do italiano Romano Toppan parece ser a que realmente
se fundamenta nos princípios do desenvolvimento local e que
se utilizou estratégias de Comunicação Rural
para transformar Veneto.
8. Pelo que a imprensa divulgou,
nos oito anos e meio pesquisados, apesar das trocas de informações
com especialistas internacionais e nacionais, ainda não se
concretizou, de fato, uma experiência de desenvolvimento local
resultante da inserção do turismo rural em Pernambuco.
9. A grande imprensa pernambucana
descreveu, ao longo dos últimos anos, uma quantidade considerável
de propostas em que estavam envolvidos diversos órgãos
estaduais, organizações não-governamentais,
poder municipal e instituições internacionais. Em
alguns casos, mais de um estudo, desenvolvido por diferentes executores,
para a mesma localidade.
10. Uma outra observação
que merece registro é que as matérias jornalísticas
analisadas contemplam, apenas pontualmente, a população
como participante nas decisões e na construção
das políticas públicas.O que leva à inferência
de que ela não é consultada, como deveria, se forem
levadas em consideração as características
do desenvolvimento local. Nesses casos, constata-se, por conseqüência,
a ausência da Comunicação Rural.
11. A falta de uma formação
mais profunda dos profissionais e/ou a exigência das editorias
de uma maior rapidez, na cobertura jornalística de temas
como o turismo rural, tem levado a imprensa a reproduzir informações
superficiais e incompletas. Em alguns momentos, recorreu-se ao site
da ADM&TEC para complementar análise dos assuntos
abordados, constatando-se a omissão de informações
aqui consideradas importantes para o público-leitor.
CONCLUSÃO
Em síntese, pode-se dizer que o desenvolvimento local está
presente nas intenções daqueles que planejam o turismo
rural em Pernambuco. Esse segmento é reconhecido como vetor
do desenvolvimento local, por sua capacidade de estimular diversas
outras atividades produtivas agrícolas e não-agrícolas.
Constatou-se que a imprensa dá leves sinais da intenção
da presença da Comunicação Rural. Indícios
ocorrem mais claramente no Projeto de Revitalização
Produtiva Engenhos da Mata Norte, absorvido pelo Programa de Apoio
ao Desenvolvimento Sustentável da Zona da Mata Pernambucana
- PROMATA e no Projeto Rio Formoso, da Universidade Católica
de Pernambuco - UNICAP.
Conclui-se este estudo alertando
os responsáveis pelas políticas públicas do
turismo rural, em Pernambuco, que sem o envolvimento da Comunicação
Rural, como está sendo compreendida na atualidade, não
se promove o desenvolvimento local. Ou seja, não se concretiza
o efeito multiplicador do turismo de maneira a que haja uma distribuição
mais eqüitativa dos benefícios gerados. Complementando,
não se reduz o êxodo, nem a miséria do campo;
não se preserva o meio ambiente, nem o patrimônio cultural;
não se incentiva a produção local, nem se redistribui
melhor a renda e a receita geradas. A mudança do cenário
que aí está e que a tantos incomoda poderá
tornar-se realidade com a incorporação de uma nova
cultura. A cultura "da parceria, da participação
e da solidariedade"37.
A Comunicação Rural como estratégia fundamental
ao desenvolvimento precisa ser absorvida, definitivamente, para
atingir-se o modelo ideal de sustentabilidade no meio rural pernambucano.
Notas:
1
Este artigo é parte da dissertação de mestrado
da primeira autora, sob a orientação do segundo autor.
4 IANNI, Octavio. A grande transformação.
In: A sociedade global. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1995a. p. 32.
5 Id., A dialética da globalização.
In: Teorias da globalização. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1995b. p. 147.
6 Id., As formas do poder global.
In: A sociedade global. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1995a. p. 145.
7 Ver: Id., A sociedade global.
3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995a.
194 p.; Id., Teorias da globalização. 3. ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1995b. 225 p.
8 IANNI, Octavio. A sociedade...
op. cit., 1995a., p. 50.
9 Ver TAUK SANTOS, Maria Salett;
CALLOU, Angelo Brás Fernandes. Desafios da comunicação
rural em tempos de desenvolvimento local. Signo, João
Pessoa, n. 3, p. 42-47, 1995.
10 Concertação
- uma analogia à orquestração. Termo utilizado
no sentido de combinar o conjunto de objetivos comuns aos diversos
atores sociais e institucionais de forma harmônica, buscando
a conciliação e a concretização de interesses
que levem ao desenvolvimento local.
11 CALLOU, op. cit., 1999. p.
182.
12 TAUK SANTOS, op. cit., 2000a.
p. 292.
13 TAUK SANTOS; CALLOU, op.
cit., p. 46.
14 Ibid.
15 Isso é o que parece
estar acontecendo no Projeto-piloto (inclui cinco municípios
da Zona da Mata Norte) do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável
da Zona da Mata Pernambucana - PROMATA, programa coordenado pela
Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Social - SEPLANDES
do Governo do Estado de Pernambuco, que busca encontrar soluções
para a crise que se instalou naquela região.
16 FRANCO, Augusto de Porque
precisamos de desenvolvimento local integrado e sustentável?
In: Porque precisamos de desenvolvimento local integrado e sustentável.
2. ed. Brasília, DF: Instituto de Política, 2000.
p. 79.
17 Referindo-se às políticas
de turismo, Rodrigues diz que "estabelecidas no bojo das instituições
nacionais, são sempre orquestradas pela política econômica
vigente, hoje macroescala, com vistas ao mercado global. Indiferentes
às características dos lugares, contemplam as elites
hegemônicas do capitalismo transnacional, expressando-se pelas
'verticalidades', que segundo Milton Santos, constituem os 'vetores
de uma racionalidade superior'". RODRIGUES, A. B., op. cit.,
1997, p. 56.
18 "... o turismo rural
tem papel fundamental na gestão do território, dada
a sua capacidade de estimular o aproveitamento do potencial de desenvolvimento
endógeno de um determinado local". Cals, Capellà
e Vaquè por GRAZIANO DA SILVA, José; VILARINHO, Carlyle;
DALE, Paul J. Turismo em áreas rurais: suas possibilidades
e limitações no Brasil. In: ALMEIDA, Joaquim Anécio;
FROEHLICH, José Marcos; RIEDL, Mário (Org.). Turismo
rural e desenvolvimento sustentável. Santa Maria: UFSM,
1998. p. 13.
19 GRAZIANO DA SILVA, José.
Por um novo programa agrário. Reforma Agrária,
[S. l.], v. 23, n. 2, p. 11, maio/ago. 1993.
20 Ver: EMBRATUR. Manual
operacional do turismo rural. Brasília, DF, 1994, p.
6-7; GRAZIANO; VILARINHO; DALE, op. cit., p. 39.
21 A título de esclarecimento,
entende-se como turista toda pessoa que se desloca e permanece por
mais de 24 horas distante de onde mantém residência
fixa, efetuando pernoite. O motivo desse afastamento não
pode ser o de fixar residência nem o de assumir atividade
remunerada, mas sim, o de lazer, de negócios, de rever parentes
e amigos, entre outros. Já excursionista ou 'turista itinerante'
é toda pessoa que permanece por menos de 24 horas, sem efetuar
pernoite, em cidade que não seja a de sua residência
permanente, por motivo de recreação e lazer. EMBRATUR.
Município: potencial turístico: orientação
às prefeituras municipais. Brasília, DF, 1992. p.
47.
22 Projeto mencionado em GRAZIANO
DA SILVA; VILARINHO; DALE, op. cit., p. 39.
23 A Fundação do
Desenvolvimento Municipal do Interior de Pernambuco - FIAM, órgão
incorporado à FIDEM em 1999, fez parte do grupo interinstitucional
que desenvolveu o projeto.
24 Labat e Perez "consideram
que na Espanha o turismo rural é a atividade econômica
que tem maior futuro como motor do desenvolvimento rural".
LABAT; PEREZ apud GRAZIANO DA SILVA; VILARINHO; DALE, op. cit.,
p. 25. Da mesma idéia compartilham PORTILLO e ALAMO apud
GRAZIANO DA SILVA; VILARINHO; DALE, op. cit., p. 25.
25 GRAZIANO DA SILVA, José;
CAMPANHOLA, Clayton. Diretrizes de políticas públicas
para o novo rural brasileiro: incorporando a noção
de desenvolvimento local. In: (Ed.). O novo rural brasileiro:
políticas públicas. Jaguariúna, SP: EMBRAPA,
2000. v. 4, p. 67. Nota 4. Ver matéria: DUARTE, Dina. Mar
de rosas. Produtores de Pernambuco lucram ao trocar antigos canaviais
pelo cultivo de flores. Veja, São Paulo, ano 32, n. 44, p.
114, nov. 1999.
26 RUSCHMANN, Dóris van
de Meene. O turismo rural e o desenvolvimento sustentável.
In: ALMEIDA, Joaquim Anécio; FROEHLICH, José Marcos;
RIEDL, Mário (Org.). Turismo rural e desenvolvimento sustentável.
Santa Maria: UFSM, 1998. p. 50.
27 RODRIGUES, A. B., op. cit.,
1997. p. 58.
28 A pesquisa intitulada "O
Novo Rural Brasileiro", coordenada pelo Projeto Rurbano da
Universidade de Campinas - UNICAMP, constatou que "o 'novo
rural' ainda é muito limitado em Pernambuco, principalmente
no tocante ao seu componente não-agrícola..."
BALDASI, op. cit., p. 148. Em 1993, matérias veiculadas no
Jornal do Commercio já tratavam da diversificação
da produção na Zona da Mata. CASTANHA Cláudio.
Surge uma nova ordem econômica. Jornal do Commercio,
Recife, 7 dez. 1993. Economia, p. 1; CASTANHA, Cláudio. Começa
a diversificação. Jornal do Commercio, Recife,
8 dez. 1993. Economia, p. 1.
29 Matéria intitulada
"A salvação da LAVOURA" relata a experiência
de proprietários rurais que vêm complementando a "produção
da propriedade cultivando turistas". EDWARD, José. A
salvação da LAVOURA. Veja, São Paulo,
ano 34, v. 9, p. 94-95, mar. 2001.
30 Fogo morto - "No Nordeste,
especialmente, na região produtora de açúcar,
diz-se do engenho que não funciona mais".FOGO MORTO.
In: CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do
folclore brasileiro. 3. ed. Brasília, DF: Instituto Nacional
do Livro, 1972. p. 380. Mesmo não produzindo o açúcar
mascavo, grande parte dessas propriedades continua cultivando e
fornecendo a cana-de-açúcar para as usinas; outras
diversificaram suas atividades produtivas. Muitas delas abrigam
um patrimônio arquitetônico impar composto por casa-grande,
capela, senzala, engenho.
31 Ver: SILVA, Geraldo Gomes
da. Engenho&arquitetura. Recife: Fundação
Gilberto Freyre, 1997. 136 p.
32 Uma outra maneira de obter
esse e outros tipos de informações é por meio
do serviço de informações turísticas
disponibilizado pela EMPETUR. Ao consultar o Sr. Eduardo Travassos
Bandeira, chefe desse setor, sobre o volume de consultas feitas
sobre turismo rural, o mesmo afirmou que é pequeno e que
o mês que concentra o maior volume de informações
é o de julho. Além de ser o período de férias
escolares, coincide com o Festival de Inverno em Garanhuns onde,
a poucos quilômetros, encontram-se fazendas com esse tipo
de oferta de turismo. Vídeos destinados a empreendedores
estão disponíveis no mercado como também alguns
programas de televisão dirigidos aos investidores rurais.
Nas duas situações, geralmente, apresentam experiências
de turismo rural nas regiões Sul e Sudeste.
33 Informou Ricardo Cavalcanti
por meio de contato telefônico em fevereiro de 2002.
34 MEDINA, Cremilda. Formulação
verbal (subcategorias). In: Notícia, um produto à
venda: jornalismo na sociedade urbana e industrial. 2. ed. São
Paulo: Summus, 1988. p. 118. (Coleção novas buscas
em comunicação, 24).
35 Id., Conceito de mensagem
jornalística como informação. In: Notícia,
um produto à venda: jornalismo na sociedade urbana e
industrial. 2. ed. São Paulo: Summus, 1988. p. 40. (Coleção
novas buscas em comunicação, 24).
36 De janeiro de 1993 a julho
de 2001. Estabeleceu-se como ponto de partida o ano de 1993 para
o início do levantamento das matérias jornalísticas,
ano em que a Fazenda Sambaíba, pioneira nessa modalidade
de turismo em Pernambuco, coloca à disposição
do turista uma estrutura receptiva e, a partir daí se começa
a falar em turismo rural no Estado.
37 JARA, Carlos Julio. Introdução.
In: A sustentabilidade do desenvolvimento local: desafios
de um processo em construção. Brasília, DF:
IICA, 1998. p. 11.
Mtr.
Ceci do Eirado Amorim
Dr.
Angelo Brás Fernandes Callou
Professor do Curso de Mestrado
em Administração Rural e Comunicação Rural
da Universidade Federal Rural de Pernambuco -
UFRPE. Recife, Pernambuco |