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Febrero - Marzo 2003

 

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Por um Modelo de Comunicação Hipermidiática
 

Por Geane Alzamora
Número 31

Introducción
Vários autores discutem a natureza ímpar da comunicação na internet (ver, por exemplo, Rheingold, 1996, Outing, 1998, Parente, 1999 e Johnson, 2001). Para eles, os recursos de linguagem oferecidos pelos new midia alteram nossa forma de comunicar e interagir culturalmente. A situação é absolutamente original, conforme Steifk.

Athough thinkers like Vannevar Bush and J.C.R. Licklider anticipated the problem of the information explosion several decades ago, their solutions for dealing with it were never tested - because the large on-line databases needed to do so did not exist in their time. Meanwhile, our experience with such systems has revealed deeper issues in using large collections of infomation that they never anticipated (Stefik, 2000, pag. 130).

Segundo Alsina (1989, pag. 21), inovações tecnológicas desencadeiam novas mensagens, novos usos, novos efeitos. "ya se apuntado como la aparición de las nuevas tecnologias obliga a una redefinición de lo que se entiende por comunicación social". Dizard (1998, pag. 24) vê na internet uma espécie de "divisor de águas" na communiation research. "Por enquanto, é mais prudente usar os termos "mídia antiga" e "mídia nova", pelo menos até que saibamos mais sobre como elas interagirão e, eventualmente, se fundirão num padrão diferente". Idéia similar é defendida por Lévy:

Mídias híbridas e mutantes proliferam sob o efeito da virtualização da informação, do progresso das interfaces (...). Cada dispositivo de comunicação diz respeito a uma análise pormenorizada, que por sua vez remete à necessidade de uma teoria da comunicação renovada, ou ao menos de uma cartografia fina dos modos de comunicação. (Lévy, 1999, pag. 82)

Na mesma linha de raciocínio dos autores mencionados, este trabalho defende a idéia de que a comunicação que se processa na internet é de natureza parcialmente distinta da comunicação de massa e demanda, portanto, revisão de modelos e teorias. Sugere-se que a semiótica peirceana, entendida como uma teoria da comunicação, possa se traduzir em um modelo hipermidiático de comunicação, como se verá a seguir.

As características singulares de uma linguagem emergente
Boa parte das informações que atualmente se processa na internet ainda apresenta referência nas reflexões teóricas características da comunicação de massa, mas já é possível notar algumas especificidades nesse processo, como sinalizam formas comunicativas irreverentes observadas em alguns weblogs, webzines, sites independentes de informação e de comunidades virtuais que se formam em torno de listas de discussões temáticas (ver, por exemplo, <http://www.rizoma.net>, <http://www.plural.cjb.net> e <http://www.palindromo.org.br>) .

Em relação às comunidades virtuais, especialmente aquelas que usam programas como o ICQ, nota-se que a internet já permite, a exemplo da comunicação interpessoal, a construção de mensagens em tempo sincrônico, de modo que estas nunca precisam estar totalmente concluídas para serem distribuídas, conforme exigência da comunicação de massa, nem se destinam a gama tão diversificada e ampla de receptores. A mensagem, neste caso, passa a se caracterizar pelo processo e não mais pelo produto. Entende-se por produto a clássica definição de mensagem: "grupo finito e ordenado de elementos de percepção tirados de um "repertório" e reunidos numa estrutura". (Moles, 1987, pag. 24).

Emissor e receptor, cada vez mais agenciados em função de interesses comuns, cambiam freqüentemente seus papéis. Isso coloca em segundo plano a noção de autoria e privilegia a composição de mensagens coletivas, de complexa assinatura, em permanente processo de construção. "A escritura, confundida com leitura, tenderá a se tornar coletiva e anônima. A separação entre autor e leitor será apenas contingencial." (Machado, apud Domingues, 1997, pag. 147)

Deslocam-se, portanto, os locais legitimados pela comunicação de massa para busca de informação, pois na internet coexistem informações típicas de ambientes massificados e outras claramente segmentadas, profundamente marcadas por interações sociais típicas da comunicação interpessoal.
Processadas no mesmo ambiente, essas informações hibridizam modos comunicativos singulares, o que tende a se traduzir em um outro modelo, híbrido, plural, multifacetado. "A fusão na internet de um sistema tradicional broadcasting (centro irradiador da emissão) com um sistema interpessoal de comunicação (como o telefone) desmantela boa parte das teorias da comunicação (...)." (Menezes, 2001, pag. 123)

Mesmo que a maior parte das experiências comunicativas observadas em sites jornalísticos não se diferenciem muito dos modos comunicativos processados nos suportes que lhes são referenciais (ver, por exemplo, <http://www.lemond.fr>, <http://www.nytimes.com>, <http://www.estado.estadao.com.br>, <http://www.folha.uol.com.br> e <http://www.oglobo.com.br>), a internet permite experimentar possibilidades de interação social e de circulação da informações jornalísticas razoavelmente distintas da comunicação de massa.

Por exemplo, é possível receber todos os dias, gratuitamente e por e-mail, The New York Times On The Web através de um serviço que rastreia se o destinatário acessa regularmente o webjornal. Já sites como <http://www.webfind.com.br> prestam gratuitamente serviços de clipping personalizados.

Observa-se, porém, que características típicas do ambiente hipermidiático da rede, como interatividade, hipertextualidade e multimidialidade (sobre o assunto ver Lévy 1999, 1997 e 1994), não são suficientemente exploradas por sites jornalísticos (ver resultados de pesquisa sobre uso de recursos de linguagem da internet em webjornais brasileiros em <http://www.facom.ufaba.br/panopticon>).

Tais recursos costumam ser melhor utilizados por sites independentes, que participam, ao lado dos sites de veículos de comunicação de massa, do processo de circulação de informação na rede. Nota-se, porém, que sites independentes geralmente manejam mal a técnica da informação e não oferecem mesma confiabilidade que sites informativos derivados de experiências adquiridas anteriormente nos meios tradicionais de comunicação de massa. Por outro lado, revelam possibilidades de elaboração de outros modos comunicativos, provavelmente mais adequados às características de linguagem da rede.

A profusão contemporânea de quantidade e qualidade diversificada de informação na internet redefine lugares de busca de informação e, conseqüentemente, problematiza o papel dos filtros informativos, até então predominantemente sob responsabilidade de editores socialmente legitimados pelos meios de comunicação de massa.

Quando surge a necessidade de informação específica, de uma opinião especializada ou da localização de um recurso, a comunidade virtual funciona como uma enciclopédia viva. As comunidades virtuais podem auxiliar os respectivos membros a lidar com a sobrecarga de informação, independente de serem profissionais ligados à informação. O problema da era da informação, especialmente para estudantes e trabalhadores do saber, é haver demasiada informação disponível e poucos filtros efetivos passíveis de reterem os dados essenciais, úteis e do interesse de cada um. (Rheingold, 1996, pag. 78)

Steven Johnson (2001) discute o modo como os recursos de linguagem da internet podem se traduzir em zonas específicas de produção de sentido, alterando o uso tradicional da informação na rede. Para Johnson o aperfeiçoamento de algumas ferramentas, como os "agentes", combinado com usos mais adequados de recursos de linguagem, como os links, pode levar a um novo paradigma comunicacional.

(...) um agente que fosse capaz de avaliar nossos gostos em matéria de cinema ou de vinhos, ou até de pessoas, que fosse capaz de construir um modelo nuançado da nossa sensibilidade estética ou interpessoal - essa seria uma mudança de paradigma digna desse nome (Johnson, 2001, pag. 140)

Questões como essas são subtraídas não apenas por aqueles que lidam profissionalmente com a informação na rede, quanto por teorias e modelos de comunicação vigentes. De modo geral, despreza-se a capacidade semiótica do canal, explora-se de modo inadequado as dimensões verbal, visual e sonora da informação híbrida e minimiza-se a participação autoral do receptor na construção de uma mensagem potencialmente coletiva.

Por que discutir o modelo de Shannon e Weaver e dois de seus desdobramentos?
O hibridismo de linguagens característico da internet parece encontrar ressonância no hibridismo teórico marcante na communication research que, ao longo de sua história, tomou emprestado conceitos oriundos de diversas disciplinas, como sociologia, psicologia, biologia, física e lingüística para compor as chamadas teorias da comunicação.

Segundo Alsina (1989), pela plurisdisciplinaridade, a Teoria da Comunicação, ou teorias da comunicação, como preferem Mattelart (1999) e Wolf (1987), compartilha com outras disciplinas seu objeto e, pela interdisciplinaridade, o que aparece em comum são os métodos. Os modelos teóricos sistematizam métodos e objetos, de modo a estabelecerem variáveis e relações que dêem conta dos conjuntos de fenômenos complexos sobre os quais se projetam.

A comunicação de massa inspirou a elaboração de diversos modelos, mas poucos se tornaram hegemônicos (sobre o assunto ver Alsina, 1989, Mattelard, 1999 e Wolf, 1987). Este trabalho discute o modelo matemático de Shannon e Weaver (1949) por ser ainda hoje um dos modelos de comunicação mais referenciados, além de ter sido, simultaneamente, largamente criticado e usado como fundamento para diversos outros modelos.

Optou-se aqui por discutir o referido modelo no contexto da internet, levando-se em conta seu gradativo aperfeiçoamento nos modelos de Jakobson (1960) e de Eco-Fabri (1978). Segundo Alsina (1989), o modelo de Jakboson deriva do funcionalismo lingüístico e o modelo semiótico-textual de Eco-Fabri (1978) situa-se na corrente da sociosemiótica.

Os dois desdobramentos do modelo de Shannon-Weaver foram selecionados para efeito de análise por serem bastante referenciados (ver, por exemplo, Wolf, 1987 e Alsina 1989) e por apresentarem formulações teóricas compatíveis com o diálogo que se pretende estabelecer mais à frente com a semiótica peirceana.

O modelo de Shannon-Weaver
Este modelo, que serve de fundamento teórico para diversos outros, deriva da cibernética e se traduz na Teoria Matemática da Comunicação ou Teoria da Informação, ainda hoje referencial para a communication research. Nele o processo de comunicação é abordado a partir da idéia de transmissão de informação de uma fonte a um receptor, mediante o uso de um canal e conforme incidência de ruídos no processo.

De fundamento físico-matemático, o modelo utiliza recursos conceituais como probabilidade e entropia, relacionados a redundância e novidade, para mensurar a quantidade de informação transmitida no sistema. O modelo é amplamente aplicável, podendo se verificar na comunicação de massa, interpessoal ou mesmo na comunicação processada entre máquinas.

Mas, mesmo no âmbito da comunicação de massa, o modelo foi questionado por não considerar aspectos relacionados ao significado da mensagem e aos modos prováveis de produção de sentido desta, atendo-se predominantemente ao domínio quantitativo da informação. "Este realce do valor quantitativo de uma mensagem é inteiramente constestável; sempre se imporá, para o analista da informação social (...) o problema do significado da mensagem" (Coelho Netto, 1973, pag. 20).

Mais recentemente, Armand Mattelart retoma crítica similar. "Com a teoria matemática da comunicação fica completamente esquecida a questão do sentido e, além disso, da cultura, pois aí não há qualquer interrogação sobre cultura". (Mattelart, 2000, pag. 08).

No que se refere à informação processada na internet, o problema do significado "esquecido" cresce exponencialmente, uma vez que o contexto de emissão, recepção e produção/difusão da mensagem é outro. Nesse contexto, interessa menos saber a quantidade de informação processada que a qualidade desta para o receptor-usuário, também considerado, eventualmente, co-autor da mensagem.

A idéia de comunicação como transmissão de informação é questionável, mas especialmente constestável no âmbito da internet. Ao se considerar os desdobramentos prováveis dos recursos atuais de linguagem do meio e usos mais adequados dos já existentes, a idéia de transmissão tende a ser substituída por algo como interatividade homem-máquina-homem, na qual as informações, em vez de serem meramente transmitidas, passam a ser construídas coletivamente, em um processo no qual todas as variáveis, inclusive o canal, tendem a ser ativas. "O ato de comunicar não se traduz por uma transferência de informação do emissor a um destinatário, mas antes pela modelagem mútua de um mundo comum no meio de uma ação conjugada". (Varela, citado por Quere, 1991, pag. 02).

O modelo de Jakobson
Fundamentado duplamente na Teoria Matemática da Comunicação e na Lingüística, o modelo de Jakobson pressupõe relações de linguagem delineadas a partir das variáveis emissor, mensagem, código, contexto, canal e destinatário, que se traduzem, respectivamente, nas funções de linguagem emotiva ou expressiva, poética, metalingüística, referencial, fática e conativa (sobre o assunto ver Alsina, 1989).

Ressalta-se que, para este modelo, um mesmo ato de linguagem pode reunir várias funções. "A diversidade reside não no monopólio dessas diversas funções, mas numa diferente ordem hierárquica de funções". (Jakobson, 1973, pag. 123). Altera-se, pela diversidade funcional, a noção de comunicação como transmissão quantificada de informação e, sob esse aspecto, o modelo pode ser entendido como uma espécie de superação do modelo de Shannon -Weaver.

La importancia del modelo de Jakobson está, apesar de la influencia de la teoria matemática de la comunicación, em que el mensaje ya no se considera como una mera transmisión de informacion. Se descubre la riqueza comunicativa del mensaje. (Crisell, citado por Alsina, 1989)

Embora não se traduza em uma metodologia clara de análise do discurso, o modelo tem sido utilizado de modo eficiente nesse campo. "A legitimação e difusão proporcionadas pela lingüística jakobsiana à versão "moderada" da teoria informacional, constituíram indubitavelmente um dos motivos de seu "êxito" como teoria comunicativa adequada e bastante indiscutida". (Wolf, 1987, pag. 105).

Mas, uma vez que o modelo circunscreve somente a linguagem verbal, parece metodologicamente arriscado utilizá-lo para se compreender outras modalidades de linguagem. "Novos paradigmas da semiótica geral, que não consideram mais os signos audiovisuais das mídias como meras deduções dos signos lingüísticos, levaram a novas abordagens pluralistas da semiótica das mídias". (Nöth, 1996, pag. 53). Em casos de linguagens extremamente híbridas, cujo exemplo mais sofisticado é a internet, a necessidade de modelos pautados por abordagens semióticas mais pluralistas parece evidente.

O modelo de Eco-Fabri
O modelo semiótico-textual de Eco-Fabri, apresentado em 1978, pode ser entendido como uma revisão do modelo semiótico-informacional, também de Eco-Fabri, formulado anteriormente (sobre o assunto ver McQuail, 1975, Wolf,1987 e Alsina, 1989). Faz-se necessário, portanto, remeter ao primeiro para entender o segundo.

O modelo semiótico-informacional supera a idéia de comunicação por transferência (Shannon-Weaver), substituindo-a por transformação de um sistema a outro - e não meramente de uma fonte a um destinatário, conforme Jakobson - mediante a concepção de código. "Por conseguinte, em relação à teoria da informação, a noção de código, entendida neste modelo como correlação entre elemento de sistemas diversos, muda profundamente." (Wolf, 1987, pag. 108).

O problema do "significado esquecido" no modelo de Shannon-Weaver é trabalhado por este modelo de Eco-Fabri. Nele, mensagem é entendida como forma significante que pode ser preenchida por vários significados, desde que os códigos usados dêem conta de estabelecer correlações específicas entre significantes e significados. Nesse processo, emissores e destinatários eventualmente fazem uso de subcódigos independentes, que incidem sobre os processos de codificação e decodificação acrescentando novas informações às mensagens.

Para Wolf , a influência do modelo sobre a communication research foi inferior a seu relevo teórico, embora, na opinião do autor, o modelo não seja perfeito. "Faltou, no entanto, a ligação com a questão dos efeitos (...). O modelo semiótico-informacional achou-se, assim, confinado ao âmbito da análise das mensagens, dos seus códigos, da estrutura comunicativa". (Wolf, 1987, pag. 110)

O modelo semiótico-textual representa um avanço em relação ao precedente na medida em que substitui a noção de mensagem por conjuntos textuais e código por conjuntos de práticas textuais depositadas culturalmente, o que complexifica a diversidade de sentidos processados.

Desloca-se, neste modelo, a ênfase que o modelo anterior colocava no processo de codificação e decodificação, indiferenciado em qualquer processo comunicativo, para o campo específico da comunicação de massa. Avanço similar pode ser assinalado em relação ao modelo de Jakobson, no qual as funções de linguagem servem, indistintamente, para comunicação interpessoal e massificada.

No âmbito da internet, porém, o modelo apresenta lacunas. Ao destinatário, na internet, não cabe apenas a interpretação, por mais multifacetado que esse processo possa ser. Na internet, as funções de emissor e destinatário tornam-se, muitas vezes, indiferenciadas. Como os conjuntos de práticas textuais na internet estão em processo de construção cultural e os conjuntos textuais são processos híbridos de linguagens, a aplicação do modelo semiótico-textual na internet torna-se ainda mais problemática.

Possíveis contribuições da semiótica peirceana
A semiótica peirceana tem sido recorrentemente acionada para se investigar processos comunicativos, embora não tenha sido ainda satisfatoriamente explorada para sistematizar modelos específicos de comunicação. Provavelmente, a natureza complexa e processual da teoria encontre ressonância nas características singulares da comunicação hipermidiática.

The most widely accepted classification today, however, is not binary but one based on a trinary principle, established by Peirce. Peirce's classification is complex and has many far-reaching ramifications, but is rooted in a three-way distinction between icon and index, with both opposed to symbol, all of wich are really different facets of one generic sign. (Sebeok, 1991, pag. 24)

Além das gradações sígnicas ícone, índice e símbolo, relativas às relações do signo com o objeto, apontadas por Sebeok, há ainda, em Peirce, relações triádicas que se traduzem em 10 classes sígnicas, organizadas logicamente a partir de relações complexas entre signo/signo, signo/objeto e signo/interpretante (sobre o assunto ver Merrel, 1995).

Uma diferença marcante entre Peirce e outros teóricos da semiótica refere-se à própria noção de signo. Para Peirce, signo é uma tríade semiótica em aberto, processual, contínua, abrangente, sendo a dimensão cultural apenas uma faceta desse processo amplo e infinito, também chamado semiose. Nota-se, nesse aspecto, uma diferença relevante entre modelos derivados do estruturalismo - centrados na idéia dicotômica de signo, ou símbolo - e um possível modelo derivado da semiótica peirceana.

For Eco, following Saussure and Morris, nothing is intrinsically a sign (Morris 1975, 45). Signs are madeby us by means of the application or creation of a code. This would, for Peirce, be a form of nominalism, since it results in stripping reality of its intrinsic connections and in attributing these connections exclusively to the human mind. According to Peirce, signs are part of the very fabric of reality. They are, in some sense (admittedly in an extremely vague sense), there in reality, independent of our conventions and our consciousness. This marks a very deep division between Peirce and Eco. (Colapietro, 1989, pag. 33)

Os estudos dos signos são apenas uma parte da teoria peirceana, que se estende por domínios bem mais abrangentes que a comunicação humana. Mas, sob alguns aspectos, a teoria peirceana pode ser entendida como uma teoria da comunicação.

That's Peirce's semiotics is a theory of communication is implicit, in the first place, in the fact that there can be no communication without signs. In the second place, it is implicit in the fact that semiosis is above all a process of interpretation. How could there be communication if there was no production of signs to be interpreted? (Santaella, 2000, pag. 07)

Santaella (2000) propõe que a semiótica peirceana seja entendida também como teoria da comunicação a partir da tríade semiósica objeto, signo e interpretante, relacionada respectivamente às noções de emissor, mensagem e receptor. Segundo ela, essa correspondência se desdobra em uma teoria triádica da objetivação (signo/objetos), significação (signo/signo) e interpretação (signo/interpretantes).

Conforme Alsina (1989), os três termos - emissor, mensagem e receptor - são denominadores comuns nos diversos modelos de comunicação. Donde se conclui que a semiótica peirceana, como uma teoria da comunicação que articula semiosicamente os lugares lógicos de emissor, mensagem e receptor, pode se traduzir em um modelo específico de comunicação.

Se puede afirmar que todo modelo tiene como armazón principal una serie de coneptos básicos. Estos conceptos son los que van adeterminar, en gran parte, la estructura del modelo. Por ejemplo, por lo que se refiere a la Teoría de la Comunicación, los conceptos básicos que tienen como mínimo en común todos los modelos son: emissor, mensaje, receptor. Como ya apuntaba Aristóteles en su Retórica, los tres componentes de la comunicación son: el orador, el discurso y el auditorio. (Alsina, 1989, pag. 19)

Mas como a noção de signo em Peirce remete à idéia de mediação e, portanto, semiose, observar-se-á que em um possível modelo peirceano de comunicação, emissor, mensagem e receptor não são termos excludentes, mas relacionados de modo bastante complexo, em alguns momentos quase simultâneos. Poderíamos no máximo dizer que na tríade semiósica emissor, mensagem e receptor ocupam os lugares lógicos de objeto, signo e interpretante e, conseqüentemente, herdam desses termos suas intrínsecas e complexas relações.

O que está em jogo, na perspectiva peirceana, é o modo como emissor, mensagem e receptor - na ausência de uma terminologia mais adequada - cambiam seus papéis no processo semiótico, no qual prevalece a função mediadora sobre as demais. Nas palavras de Peirce: "Todas as minhas idéias são muito limitadas. Ao invés de "signos", eu não deveria dizer meio?" (Peirce, citado por Nöth, 1996, pag. 54)

Na perspectiva da hipermídia, o signo, ou meio, poderia ser entendido como fluxos semióticos complexos que articulam relações simultâneas com o lugar lógico da referência (objeto/emissor), com o lugar lógico da significação (signo/signo) e com o lugar lógico da interpretação (interpretante/receptor).

Mas como a referência é também espaço sígnico parcialmente construído e parcialmente revelado pelos fluxos semióticos, o emissor, então, também é signo, parcialmente diagramado pelos fluxos semióticos intermediários. E como o interpretante é um outro signo, mais complexo e desenvolvido, que representa o objeto através do signo mediador, então a recepção também é fluxo semiótico, ocupando no processo semiótico eventualmente os lugares lógicos da emissão e da significação. Nessa perspectiva, a comunicação hipermidiática é entendida como processo signico complexo, aberto e auto-referente.

Com um tal ceticismo contra a suposição ingênua de uma realidade por trás das mídias, a semiótica dá sua resposta à pergunta sobre a realidade por trás das mídias na era das hipermídias. Se as mídias não podem mais se referir a uma realidade por trás dos signos, mas sempre somente a outros signos, as mensagens das mídias não tratam absolutamente de um mundo de relações referenciais. Ao invés de referência, confrontamo-nos, ao final, com auto-referência (cf. Marcus 1997). O slogan ainda vago de Marshal McLuhan nos anos 60 das mídias, que são sua própria mensagem, encontra nesta consideração sua motivação mais profunda. (Nöth, 1996, pag. 57)

Pela abordagem semiósica aqui proposta, emissor, mensagem e receptor deixam de ser temos excludentes para se tornarem fluxos semióticos apenas logicamente distintos. Trata-se, portanto, de abolir dicotomias tradicionais, como emissão/recepção, sujeito/objeto e objetividade/subjetividade, para dar lugar a uma abordagem mais complexa e maleável da questão.

In fact, the very idea that the observer-observed barrier has been broken down is yet another illlusion, for, Schrödinger (1967:137) continues, "Subject and objetct are only one. The barrier between them cannot be said to have broken down as a result of recent experience in the physical sciences, for this barrier did not exist." The barrier was, in other words, from the very beginning a figment of the imagination - or as Peirce would have put it, the result of na infrence: the dichotomy is itself a sign. Mind and sign are now properly seen to be one, as are mind and matter. (Merrel, 1991, pag. 148)

O canal, na abordagem peirceana da hipermídia, cada vez mais se revela um componente semiótico autônomo, capaz de assumir eventualmente níveis rudimentares de emissão, recepção e mensagem. "Embora os computadores sejam uma espécie de máquina, eles respondem de uma maneira que é mais que mecânica. São uma espécie de "outro", se não são totalmente um "eu". (Lyman, 1997, pag. 120)

Observados pelo prisma da semiótica peirceana e da hipermídia, o modelo de Shannon-Weaver e seus dois desdobramentos, aqui discutidos, tornam-se inadequados especialmente por identificarem de modo estanque os lugares lógicos da emissão, mensagem e recepção, diferenciando sujeito (emissor e receptor) de objeto (mensagem).

Mesmo o modelo semiótico-textual de Eco-Fabri, que significou um avanço em relação aos demais, não resolve satisfatoriamente esses problemas. O modelo avança ao relativizar a noção de mensagem e sistematizar processos comunicativos complexos, típicos da comunicação de massa, em contraposição à comunicação interpessoal. Mas a internet demanda, ao contrário, um modelo que engendre modos comunicativos diversos. Além disso, a ênfase que o modelo semiótico-textual coloca nos processos de codificação/decodificação na comunicação de massa subtrai a relevância da mediação no processo.

Também parece problemática a ênfase que o modelo semiótico-textual coloca no paradigma textual, o que dificulta abordagens mais sofisticadas da linguagem híbrida. O paradigma textual não especifica modos signicos característicos de linguagens visuais e sonoras, o que se traduz em metodologia de exploração de signos híbridos pautada por derivações conceituais do verbo.

This fundamental intersmiotic reality of semiotic process is often neglected by the tradition of formal semiotics, derived from Ferdinand de Saussure's linguistics, because its basic asumption is that the verbal sign system, due its specific but generalizable structrual qualities, is the system of system. Contrasting semiotic traditions, like the one rooted in Charles Sanders Peirce, focus in stead on the general properties of semiotics processes as such, emphasizing their basic representational character. This may lead to a more fruitful approach to the complexity of the object and its semiotic representations, but with a possible disregard of the specific features of the individual sign systems (verbal, visual etc) in which the intersmiotic process materializes. (Larsen, in Parret, 1996, pag 256)

Santaella (2001) propõe uma complexa relação de domínios lógicos para se pensar, a partir das três categorias peirceanas, diversos níveis intersemióticos de linguagens. Tais relações aportam-se, segundo a autora, nas matrizes de linguagem sonora (primeiridade, domínio icônico-remático), visual (secundidade, domínio indicial, dicente) e verbal (terceiridade, domínio simbólico, argumental).

As três matrizes se referem a modalidades de linguagem e de pensamento. O pensamento verbal pode se realizar em sintaxes que o aproximam do pensamento sonoro e em formas que o aproximam do pensamento visual. Este, por sua vez, pode se resolver em quase-formas que o colocam nas proximidades do pensamento sonoro ou em convenções tomadas de empréstimo ao pensamento verbal. Da mesma maneira, o pensamento sonoro pode se encarnar em formas plásticas tanto quanto pode absorver princípios que são mais próprios da discursividade. As três matrizes de linguagem e pensamento não são mutuamente excludentes. Ao contrário, comportam-se como vasos intercomunicantes, num intercâmbio permanente de recursos e em transmutações incessantes. (Santaella, 2001, pag. 373)

A diversidade de experiências comunicativas na rede aponta para um modelo multifacetado de comunicação, que engendre modos distintos de comunicar ao mesmo tempo que demonstre como tais modos tendem a se expandir e a se transformar. Sugere-se que um modelo de comunicação hipermidiática articule logicamente situações mais convencionais, domínio da terceiridade (sites de veículos de comunicação, que meramente reproduzem modos comunicativos de seus suportes de origem), conexões existenciais, domínio da secundidade (chats e listas de discussão, por exemplo) e experiências estéticas mais livres, domínio da primeiridade (weblogs, webzines e sites independentes de informação em geral).

Cada um desses modos engendra domínios específicos de interação verbo-som-imagem, o que se traduz em níveis intersemióticos diferenciados. Provavelmente esses domínios específicos encontram ressonância nas 10 classes de signos e o modo como tendem a se expandir em situações comunicativas originais deve retratar o mecanismo da semiose. Sistematizar essas relações e variáveis, delineando métodos singulares de abordagem da questão é a tarefa de um possível modelo peirceano de comunicação hipermidiática.

Pseudo-conclusão: Em busca de um possível modelo de comunicação hipermidiática
Segundo Alsina (1989), um modelo científico parte de um corpo de conhecimentos prévios e se traduz, posteriormente, em um novo corpo de conhecimentos. Este trabalho funda-se na metodologia de construção de modelos científicos, proposta por Alsina.

Se es una teoría, nos encontramos ante un modelo en sentido estricto. Si, por contra, se trata de un conjunto de dados, sería un modelo en sentido lato, seria um modelo simplesmente descritivo. (...) a partir de aquí surge algún problema que dará lugar a una hipótesis. Esta hipótesis se convierte en un modelo básico. (...) Se se confirma la hipótesis, el paso siguiente es proceder a relacionar sitemáticamente las leyes resultantes de la comprobación de las hipótesis y se forma o valida una teoría. Teoría que sería un cuerpo de conocimientos previos susceptibles de falsabilidad, y de nuevo se inicia el proceso. (Alsina, 1989, pag. 23)

O modelo aqui esboçado, conforme foi anteriormente exposto, aporta-se na suposição de que a teoria peirceana, sob alguns aspectos, é também uma teoria da comunicação. Problematizou-se a legitimidade de se utilizar modelos forjados no âmbito da comunicação de massa para se pensar o ambiente híbrido e plural da rede. A seguir, levantou-se a seguinte hipótese: a teoria peircena da comunicação presta-se melhor para ancorar processos comunicativos na internet por relacionar de modo complexo e semiósico gradações sígnicas derivadas das relações signo/signo, signo/objeto e signo/interpretante.

De acordo com Alsina (1989, pag. 25), "hay una correlación unívoca entre las proposiciones de la teoría y las del modelo". Sugere-se, portanto, que um modelo peirceano de comunicação funde-se nas mesmas considerações que sustentam a idéia de uma teoria peirceana da comunicação.

O mecanismo desse modelo reflete o mecanismo da semiose e especifica-se no engendramento fenomenológico das relações signo/signo, signo/objeto, signo/interpretante. Assim, supõe-se que fluxos semióticos de informação hipermidiática erijam-se a partir de uma imbricada arquitetura sígnica e deve ser pelo dissecamento de tal arquitetura complexa que, provavelmente, melhor se compreenderá a comunicação na rede.

Nessa perspectiva, sugere-se que o lugar lógico da emissão (objeto) determina o fluxo semiótico (signo), ao mesmo tempo que é delineado por um fluxo semiótico posterior, mais complexo e desenvolvido (interpretante). Emissores e receptores, ambos também fluxos semióticos, cambiam freqüentemente seus papéis pela interatividade homem-máquina-homem. Á medida que tais fluxos são simultaneamente produzidos, interpretados, interceptados e processados, cresce a complexidade semiótica na rede.

Como as relações sígnicas dão lugar a tipos específicos de signos, observar-se-á que os fluxos semióticos compõem-se de enorme diversidade de manifestações sígnicas, adequadas a cada situação transitória de comunicação na rede. Tais manifestações sígnicas referem-se simultaneamente ao tipo de comunicação em uso e aos tipos de linguagens imbricadas nesse processo (dominância verbal, visual, sonora e híbrida). Tem-se, portanto, um modelo fluido, multifacetado, maleável e constantemente em aberto.

La posibilidad de hacer un modelo perfecto no sólo depende del conocimento del fenómeno. Hay fenómenos que por su natureza no pueden ser representados de una manera completa, ya que no son susceptibles de ser examinados bajo un único criterio. Sería el caso de los modelos abiertos, que permiten su continua modificación incorporando los cambios que sufre lo representado (...) los modelos abiertos sólo permiten explicaciones probables. (Alsina, 1989, pag. 21)

Ficamos por aqui. A composição diagramática de um possível modelo peirceano de comunicação hipermidiática, assim como o detalhamento de sua sistematização, é assunto para um trabalho posterior. Neste momento, interessa apenas lançar o problema, a hipótese e os passos iniciais para a construção de um possível modelo peirceano de comunicação hipermidiática.


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Geane Carvalho Alzamora
PUC-Minas/PUC-SP, Brasil