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Por Rogério da Costa
Número 41
A assimetria na relação
indivíduo/grupo
Nos últimos
30 anos, alguns estudiosos vêm se dedicando à tarefa
de pensar os coletivos, as redes sociais e sua dinâmica própria
(M. Granovetter1, M. Olson2,
B. Wellman, M. Authier3 , K. Arrow4).
Pesquisas desenvolvidas no cruzamento da economia com a sociologia
têm apresentado resultados importantes para a reflexão
sobre a ação coletiva. Elas tratam da forma como os
indivíduos atuam em grupo e de como suas preferências
e interesses pessoais podem não ser determinante para sua
ação na dimensão do coletivo. Sociólogos
e economistas clássicos acreditam, como o senso comum, num
prolongamento natural dos interesses individuais no contexto
de grupos. No entanto, como nos lembra Mancur Olson: “Não
é fato que só porque todos os indivíduos de
um determinado grupo ganhariam se atingissem seu objetivo grupal
eles agirão para atingir esse objetivo, mesmo que todos eles
sejam pessoas racionais e centradas nos seus próprios interesses”5.
Isso pode ser verificado, por exemplo, em problemas envolvendo a
tomada de decisão. Indivíduos tomam decisões
sobre sua participação numa ação coletiva
determinados por fatores que não se reduzem a seus próprios
interesses e preferências (M. Granovetter6).
Outro aspecto correlato é o da aderência dos indivíduos
às inovações (idéias, comportamentos,
regras...), fato que não depende exclusivamente de preferências
pessoais, mas requer, além disso, uma negociação
dentro da dinâmica do coletivo no qual estão inseridos
(E. Rogers7, T. Valente8,
M. Granovetter).
No mesmo sentido, as inteligências
individuais parecem não se prolongar naturalmente numa inteligência
coletiva. O fato de indivíduos estarem em grupo não
significa que haverá entre eles uma tal sinergia de idéias
que resultará numa ação conjunta. Essa é
a razão de nosso interesse específico no campo da
ação coletiva, pois ela é a expressão
genuína de uma inteligência afluente, que também
chamamos de ação coletiva inteligente. Howard Rheingold
narra, em seu último livro Smart Mobs, como o recente
movimento social nas Filipinas, que depôs o então presidente
Estrada, resultou da inteligência afluente da população.
No dia do julgamento do processo de impeachment do presidente,
mensagens enviadas através de celulares conseguiram mobilizar
em questão de minutos mais de um milhão de cidadãos
diante do Congresso. É válido dizer que esse movimento
de confluência de pessoas numa direção física
foi também acompanhado por um fluxo de inteligência
afluente, que se traduziu na percepção pública
da força de uma idéia, capaz de mobilizar a tantos
de forma consciente9. A inteligência
afluente é aquela que permite ao coletivo lidar com o imprevisto,
que lhe dá flexibilidade na ação. Mas qual
o potencial de inteligência de um determinado grupo, comunidade,
nação? Seria possível mensurar essa disposição
para a ação inteligente em conjunto?
Esses são apenas alguns dos
aspectos que apontam para uma espécie de assimetria
entre a dimensão do indivíduo (com suas preferências,
interesses, inteligência) e aquela do coletivo, onde os indivíduos
são convocados a agir, decidir, adotar comportamentos não
apenas em função de si mesmos, mas também conjuntamente.
Conhecer uma delas não necessariamente nos garante compreender
a outra. Vencer essa distância é o que deve mobilizar
parte de nossos esforços para entender e atuar em projetos
que envolvam redes sociais e que dependem, portanto, do engajamento
efetivo das pessoas.
As redes digitais
As redes digitais,
por sua vez, são hoje um fator chave para a compreensão
da lógica da ação coletiva e de sua evolução.
Testemunhos como os de Howard Rheingold, por exemplo, vêm
comprovando que a sinergia entre as pessoas via web, dependendo
do projeto em que estejam envolvidas, pode ser multiplicada com
enorme sucesso. As diversas formas de comunidades virtuais, a estratégia
P2P, as comunidades móveis, a explosão dos blogs e
wikis, a recente febre do orkut são prova de que o ciberespaço
constitui um fator crucial no incremento do capital social e cultural
disponível10.
Junte-se a isso a possibilidade
real de se mensurar e cartografar a atividade coletiva por meios
digitais, quer seja de forma direta com pesquisas on-line,
de forma indireta via agentes inteligentes ou ainda de forma concedida
via tracking. Atualmente, são várias as análises
de redes sociais que se valem da Internet para realizar mapeamentos
e pesquisas11. Esse
aspecto foi também decisivo para a elaboração
do projeto da inteligência coletiva proposto por Pierre Lévy
e que está inserido na vertente da cartografia baseada em
softwares de rede. Lévy conceitua a inteligência coletiva
como um jogo entre o capital social, cultural e técnico de
uma comunidade12. De forma diferente,
Michel Authier vem propondo também uma cartografia dos coletivos
inteligentes, mas baseada na própria dinâmica dos indivíduos,
em sua micropolítica, e acompanhada de análises importantes
sobre a ação coletiva e a formação de
comunidades13.
Não se pode deixar de mencionar,
igualmente, o enorme esforço de construção
de uma teoria das redes empreendido por vários teóricos
da atualidade, e que tem como um dos inspiradores mais conhecidos
a figura do psicólogo americano Stanley Milgram. Lembremos
que, nos anos 60, Milgram propôs uma descrição
sobre a rede de conexões interpessoais que ligam os indivíduos
numa comunidade. Sua hipótese impulsionou as formulações
matemáticas de Duncan Watts e Steven Strogatz sobre a teoria
do "mundo pequeno" e a dinâmica coletiva em rede
(teoria dos seis graus de distância ou seis passos)14.
Também o físico Albert-László Barabási
tem se destacado por suas pesquisas sobre o papel que os nós
"especialistas" (hubs) desempenham nas redes em geral
e no ciberespaço em particular. Da mesma forma que Rheingold,
Barabási tem se referido com frequência a uma sociologia
de afluência na web, promovida pela forma como os links entre
páginas se estabelecem15.
Essa relação entre a sociologia e a teoria das redes
tem motivado inúmeras pesquisas, como nos mostra Mark Buchanan,
que em seu livro Nexus estabelece uma série de associações
entre os trabalhos de Granovetter e Fukayama, por exemplo, e as
teses matemáticas de Watts e Strogatz16.
Dentro do novo contexto de expansão
das redes digitais, nota-se que os desafios colocados pela assimetria
na relação indivíduo/grupo, à qual nos
referíamos mais acima, apesar de persistirem, podem ser tratados
segundo novas abordagens e metodologias. Isso inclui, por exemplo,
a possibilidade de cartografias dinâmicas do capital social
e cultural de uma comunidade, o levantamento dos limiares de decisão
dos membros de um coletivo, o estímulo à formação
de redes de contatos etc. Com a nova cultura do ciberespaço
a assimetria indivíduo/grupo ganhou em complexidade, o que
requer novas investigações dentro de uma perspectiva
científica.
De qualquer modo, o caminho adotado
aqui destaca o fato de que indivíduos devem negociar suas
preferências pessoais no momento em que estão em grupo,
em sociedade. A grande aposta que fazemos é que será
possível desenvolver modelos que possam nos explicar de que
forma se dá essa negociação e de que maneira
seria possível interferir em seu jogo.
O jogo das preferências
individuais
Uma discussão
conduzida por Kenneth Arrow na década de 50 tornou-se hoje
absolutamente atual17. Trata-se
do já antigo problema da relação entre as preferências
individuais e coletivas, hoje retomado com muito mais força
devido exatamente à explosão das redes de comunicação
em todo o mundo. A interconexão generalizada entre as pessoas
tem chamado a atenção de muitos teóricos sobre
seus efeitos no quadro de decisões individuais e igualmente
na forma como os coletivos se comportam quando se constituem como
redes de alta densidade. Dessa forma, decisões individuais
e coletivas parecem estar chamando a atenção não
apenas dos interessados de sempre – os que trabalham com marketing
– mas também dos estudiosos de redes sociais, dos sociólogos,
etnógrafos virtuais, dos ciberteóricos, dos especialistas
em gestão do conhecimento e da informação,
enfim, de todos aqueles que pressentem que há algo de novo
a ser investigado, que a interação coletiva pode ser
compreendida dentro de uma certa lógica, dentro de certos
padrões18.
Temas como “inteligência
emergente” (Steven Johnson), “coletivos inteligentes”
(Howard Rheingold), “cérebro global” (Francis
Heylighen), “sociedade da mente” (Marvin Minsk), “inteligência
conectiva” (Derrick de Kerckhove), “redes inteligentes”
(Albert Barabasi), “inteligência coletiva” (Pierre
Lévy) são cada vez mais recorrentes entre teóricos
reconhecidos. Todos eles apontam para uma mesma situação:
estamos em rede, interconectados com um número cada vez maior
de pontos e com uma freqüência que só faz crescer.
A partir disso, torna-se claro que podemos hoje compreender muito
melhor a atividade de uma coletividade, a forma como comportamentos
e idéias se propagam, o modo como notícias afluem
de um ponto a outro do planeta etc.
É importante salientar que
todo tipo de grupo, comunidade, sociedade é fruto de uma
árdua e constante negociação entre
preferências individuais. Exatamente por isso, o fato de estarmos
cada vez mais interconectados uns aos outros implica que tenhamos,
de algum modo, que nos confrontar com nossas próprias preferências
e sua relação com aquelas de outras pessoas. E não
podemos esquecer que tal negociação não é
nem evidente nem tampouco fácil. Além disso, essa
discussão não deixa de envolver outros aspectos que
hoje mobilizam os teóricos do ciberespaço como, por
exemplo, o problema da captação da atenção
dos usuários em rede, a técnica de sugestões
dos agentes inteligentes ou das comunidades virtuais, o problema
da decisão ou da escolha, e os riscos que isso muitas vezes
implica. Todos esses aspectos parecem ter como pano de fundo a negociação
das preferências individuais e sua posição no
coletivo. Lembrando que, via de regra, as preferências ditas
“individuais” são na verdade fruto de uma autêntica
construção coletiva, num jogo constante de sugestões
e induções que constitui a própria dinâmica
da sociedade.
Para refletir sobre esse jogo de
preferências e suas implicações, seja na adoção
de uma inovação, na troca de conhecimentos ou simplesmente
no confronto de opiniões, dois pontos que consideramos cruciais
para nossa análise devem ser abordados: o primeiro é
a avaliação ou leitura do capital social de uma comunidade
ou grupo; o segundo são os limiares de decisão dos
indivíduos dentro de um coletivo.
O capital social
Desde os anos 90,
vários autores das ciências sociais passaram a investigar
o conceito empírico de capital social19.
Uma extensa pesquisa conduzida recentemente pelo Banco Mundial –
Social Capital Initiative, liderada por Christiaan Grootaert,
Deepa Narayan, Veronica Jones, Thierry van Bastelaer e Michael Woolcock20,
propõe uma série de procedimentos para que possamos
reconhecer e mensurar o capital social de uma comunidade. Essa iniciativa
vem de encontro às expectativas e necessidades do projeto
de uma cartografia da inteligência coletiva, uma vez que as
bases da construção do conhecimento repousam, justamente,
na capacidade de inter-relação das pessoas e na conseqüente
circulação de idéias que daí decorre.
É importante notar que a inteligência coletiva deve
ser entendida, antes de tudo, como um potencial de uma população,
sua disponibilidade para a ação coletiva. A cartografia
da inteligência coletiva seria a fotografia do ecossistema
de idéias de um grupo ou comunidade. No entanto, da mesma
forma que a inteligência individual requer certas condições
para fluir como, por exemplo, a saúde física, a criação
familiar, a situação afetiva, também a inteligência
coletiva deve requerer outras condições para afluir
entre os indivíduos. No caso da inteligência coletiva,
como sugere Pierre Lévy21,
essas condições poderiam ser dadas pela situação
do capital social, cultural e tecnológico de uma coletividade.
Dessa forma, o potencial de relação dos indivíduos
(capital social), seja ele mensurado qualitativa ou quantitativamente,
constituiria um dos índices de referência para se compreender
a forma de propagação das idéias no interior
de uma comunidade e seu conseqüente desdobramento ou não
em ações coletivas inteligentes.
|
Inteligência
Individual |
|
Inteligência
Coletiva |
Potencial Individual |
Saúde física
(Competências)Educação (Conhecimentos)Relação
familiar e social (Valores, Intenções) |
Potencial Coletivo |
Capital TecnológicoCapital
CulturalCapital Social |
|
||
V
FLUIR |
|
||
V
AFLUIR |
Atualização |
Agir
Pensar/Refletir
Expressar |
?
---- > |
Ação Coletiva
Difusão de Inovações
Manifestação Pública |
|
Ação individual |
|
Ação
Coletiva / Inteligência Afluente |
É neste sentido que o capital
social de uma comunidade pode ser entendido como a capacidade
de interação dos indivíduos, seu potencial
para interagir com os que estão a sua volta, com seus parentes,
amigos, colegas de trabalho, mas também com os novos vizinhos,
com alguém novo no bairro ou no trabalho etc. Quanto mais
um indivíduo interage com outros, mais ele está apto
a reconhecer comportamentos, intenções, valores, competências
e conhecimentos que compõem seu meio. Inversamente, quanto
menos alguém interage (ou interage apenas num meio restrito),
menos tenderá a desenvolver plenamente essa habilidade fundamental
que é a percepção do outro.
Ora, um dos aspectos essenciais
para a consolidação de projetos coletivos, projetos
que necessitam do engajamento de muitos em ações específicas
é, sem dúvida, o sentimento de confiança mútua
que precisa existir em maior ou menor escala entre as pessoas. A
construção dessa confiança está diretamente
relacionada com a capacidade que cada um teria de entrar em relação
com os outros, de perceber o outro e inclui-lo em seu universo de
referência. Esse tipo de inclusão diz respeito à
atitude tão simples e por vezes tão esquecida que
é justamente a de reconhecer, no outro, suas habilidades,
competências, conhecimentos, hábitos... Em outras palavras,
reconhecer é a aptidão que um indivíduo
desenvolve para perceber, detectar, localizar numa outra pessoa
uma característica que não havia sido percebida antes
e que, por isso mesmo, simplesmente não tinha existência
dentro do campo de sua percepção. Mas reconhecer
é também, e ao mesmo tempo, dar valor a alguém,
aceitá-lo em seu meio, inclui-lo como colega ou parceiro.
Essa dinâmica do reconhecimento
é com certeza uma das bases para a construção
da confiança não apenas individual, mas coletiva.
Coletivos inteligentes só podem ser construídos com
base na confiança mútua disseminada entre os indivíduos.
Isso pode se verificar em maior ou menor grau, mas de qualquer forma
a confiança deve estar presente da forma a mais ampla possível.
É essa confiança
que as pesquisas sobre capital social pretendem, de alguma maneira,
mensurar. James Coleman22 e
Robert Putnam23, que estão
entre os primeiros a analisar o capital social, procuram defini-lo
como a coerência cultural e social interna de uma sociedade,
as normas e valores que governam as interações entre
as pessoas e as instituições com as quais elas estão
envolvidas. A importância do papel das instituições
é muito clara aqui, pois funcionam como mediadoras da interação
social, uma vez que propagam valores de integração
entre homens e mulheres. Escolas, empresas, clubes, igrejas, famílias
ainda funcionam como referência para as relações
sociais, apesar de todas as crises que vêm enfrentando. Compreender
seu papel e influência numa comunidade faz parte do processo
de avaliação do capital social. Países arrasados
por guerras civis ou invasões (Rwanda e Iraque, p.ex.)24
percebem uma degeneração acentuada de seu tecido social,
causada justamente pela ausência do papel ativo das instituições.
Reconstruí-las é o meio mais seguro para se restaurar
parte do capital social perdido (que é, basicamente, a confiança
perdida). Por outro lado, é fato que há instituições
decadentes ou obsoletas, cujo destino é a defesa de valores
desvinculados dos processos reais de mudança do social. Estas
deixam simplesmente de atuar como promotoras das inter-relações
humanas, tornando-se, ao contrário, foco de conflitos e desagregação
social (os remanescentes hospitais psiquiátricos, reformatórios,
presídios, arcaísmos religiosos...). Isso faz com
que o levantamento do capital social seja também um meio
de se perguntar sobre o papel das instituições: elas
estariam funcionando realmente como mediadoras? A falência
ou crise de algumas e o surgimento de outras não apontaria
para a mudança nas relações humanas? Não
é fato que algumas delas, dentre as mais recentes, têm
servido sobretudo de apoio ao controle da sociedade ao invés
de trabalhar para o seu fortalecimento (as sofisticadas indústrias
de segurança, de manipulação genética,
de biotecnologia...)?
Assim, a mensuração
do capital social estaria baseada justamente no levantamento do
grau de interação apresentado entre as pessoas em
tal ou tal comunidade. No fundo, trata-se aqui de avaliar variáveis
microssociológicas, como a participação em
redes sociais, a capacidade institucional, a sociabilidade, a cooperação,
a reciprocidade, a proatividade, a confiança e mesmo a saúde
e a educação. E essa interação é,
na maioria dos casos, mediada por algum tipo de instituição.
Daí o fato do projeto conduzido por Grootaert e Woolcock
apontar para o levantamento de uma série de informações
sobre o cotidiano das pessoas como, por exemplo, saber se elas conversam
com seus vizinhos, se recebem telefonemas, mas também se
freqüentam clubes, igrejas, escolas, hospitais etc. Traduzindo
de outra forma, é preciso levantar a implicação
dos indivíduos em associações locais e redes
(capital social estrutural), avaliar a confiança e aderência
às normas (capital social cognitivo) e, igualmente, analisar
a ocorrência de ações coletivas (coesão
social). Estes seriam os três indicadores básicos do
capital social de uma comunidade.
Mas por que seria isso considerado
precisamente como “capital”? Ora, as relações
sociais passam a ser percebidas como um “capital”, justamente,
quando o processo de crescimento econômico passa a ser determinado
não apenas pelos capitais natural, produzido (infraestrutura
e bens de consumo) e financeiro. Além desses, seria ainda
preciso determinar o modo como os atores econômicos interagem
e se organizam para gerar crescimento e desenvolvimento. A
compreensão dessas interações passa a ser considerada
como riqueza a ser explorada, capitalizada. Como assinalam C. Grootaert
e M. Woolcock em seu relatório:
Um dos conceitos de capital social,
que encontramos nos sociólogos R. Burt, N. Lin e A. Portes,
refere-se aos recursos – como, por exemplo, informações,
idéias, apoios – que os indivíduos são
capazes de procurar em virtude de suas relações
com outras pessoas. Esses recursos (‘capital’) são
‘sociais’ na medida em que são acessíveis
somente dentro e por meio dessas relações, contrariamente
ao capital físico (ferramentas, tecnologia) e humano (educação,
habilidades), por exemplo, que são, essencialmente, propriedades
dos indivíduos. A estrutura de uma determinada rede –
quem se relaciona com quem, com que freqüência, e em
que termos – tem, assim, um papel fundamental no fluxo de
recursos através daquela rede. Aqueles que ocupam posições
estratégicas no interior da rede, especialmente aqueles
cujas ligações percorrem vários grupos, potencialmente
têm mais recursos do que seus pares, precisamente porque
sua posição no interior da rede lhes proporciona
maior acesso a mais e melhores recursos25.
No entanto, para se incrementar
os laços sociais é preciso investir na construção
e no desenvolvimento de relações de confiança
e isso requer, no mínimo, anos de encontros e interações.
É fato que a confiança é mais facilmente destruída
do que construída e que sua produção não
é sem custos, requer investimento, pelo menos de tempo e
esforço, se não financeiro. Manter o capital social
também é dispendioso.
Por outro lado, cabe lembrar que
o capital social, assim como o capital intelectual, possui essa
característica sui generis que faz com que seu uso não
seja equivalente ao seu gasto e sim ao seu incremento. Ambos são,
igualmente, o input e o output de operações
envolvendo a ação coletiva e a disseminação
do conhecimento. É preciso capital social para as ações
coletivas, e essas ações, como conseqüência,
enriquecem o patrimônio da inter-relação humana.
No fundo, capital intelectual e social se reforçam mutuamente,
já que o primeiro se amplia com o fortalecimento do segundo,
e vice versa.
Mais profundamente, pode-se constatar
que o nível do capital social de uma comunidade, além
de ser um fator que aponta para o potencial de inter-relação
das pessoas e para essa capacidade de construção da
confiança coletiva, é também um indicador do
nível de negociação das preferências
de cada indivíduo. Nesse sentido, avaliar o capital social
de um coletivo é compreender em que etapa ou estágio
se encontra a negociação das pessoas naquele momento,
se ele é precário, com instituições
fracas e violência social, ou se ele é rico, com ações
coletivas claras e nível de confiança elevado.
Os limiares de decisão
No final da década
de 70, o famoso sociólogo Mark Granovetter publicou no American
Journal of Sociology um artigo intitulado "Threshold Models
of Collective Behavior". Na tradução teríamos:
modelos de limiares no comportamento coletivo. Neste artigo Granovetter
trata de forma direta da questão das preferências individuais
e de seu papel nas negociações coletivas.
O conceito de limiar de decisão
é chave para a compreensão das mais diversas
ações coletivas, sobretudo aquelas em que o indivíduo
precisa decidir sobre duas atitudes possíveis distintas.
Os exemplos mais citados por Granovetter são a participação
ou não em manifestações públicas, entrar
ou não em greve, adotar ou não uma idéia, eleger
A ou B, migrar ou permanecer em seu país etc. Aqui são
decisões binárias que constituem um dos requisitos
do modelo, aquelas em que o ator possui dois comportamentos distintos
e mutuamente exclusivos26. Nesses
casos e em muitos outros, precisar o limiar de decisão dos
indivíduos seria responder à seguinte pergunta: qual
o número ou proporção de outros indivíduos
que devem tomar uma certa decisão antes que um determinado
ator decida-se a tomá-la também? O limiar é
esse ponto onde a percepção de benefício para
um indivíduo tomar sua decisão excede a percepção
dos custos.
Um exemplo claro do que Granovetter
quer dizer com isso são as manifestações públicas.
Se você cruzar na rua com algum tipo de movimento popular
que reflita suas preferências ou inclinações
políticas, não necessariamente você se desligará
do que está fazendo para participar da manifestação.
O limiar de decisão é exatamente isso: quantas pessoas
precisam estar nesse movimento para que você se decida a participar?
Caso haja algum conhecido seu isso mudaria sua posição?
O importante aqui é que essa perspectiva chama nossa atenção
para a dinâmica do coletivo, e não apenas para a contabilização
das preferências e inclinações, neste caso políticas,
de cada indivíduo. Granovetter enfatiza que grupos com média
similar de preferências podem gerar resultados muito diferentes
em sua ação coletiva. Isso significa que é
perigoso inferir disposições individuais de resultados
de agregação ou assumir que um comportamento foi dirigido
exclusivamente por um acordo com normas.
Como a teoria sociológica
tende a explicar os comportamentos individuais pelas normas e valores,
o estudo de comportamentos inexplicáveis sempre ocupou uma
posição periférica nessa ciência. No
caso de comportamentos coletivos que fogem à regra, sempre
houve a crença de que novas normas ou crenças “emergem”
nas situações onde as antecedentes falham. Granovetter
argumenta que conhecer as normas, preferências, motivos e
crenças dos participantes de um comportamento coletivo nos
dá a condição necessária, mas não
suficiente para compreender os resultados daí advindos. Além
disso, precisamos de um modelo de como as preferências individuais
interagem e se agregam, de um modelo que leve em conta justamente
a dinâmica do coletivo.
Seria a ausência desse modelo,
segundo Granovetter, que faz com que teorias orientadas pela norma
acabem assumindo, implicitamente, uma relação simples
entre resultados coletivos e motivos individuais. Ou seja: se muitos
entraram numa manifestação, todos acabarão
por entrar nela também.
O modelo de limiares toma como mais
importante na análise de resultados a variação
de normas e preferências dentro de um grupo interagindo. Por
esse modelo, o comportamento coletivo parecerá muitas vezes
paradoxal, ou seja, inconsistente com as intenções
dos indivíduos que o produziram. O modelo trata então
do modo como as preferências individuais se agregam. E isso
não será o resultado da simples adição
ou contagem das preferências.
Essa discussão pode ser ampliada
com a perspectiva da análise estrutural do social, que se
segue aos estudos de Granovetter, na linha de pesquisa de Barry
Wellman. Essa nova perspectiva procura se distanciar do método
adotado pela sociologia que se fundamenta na análise dos
comportamentos tendo como base as normas sociais e os valores individuais.
O problema da abordagem do social segundo um tal método é
que ele trata os indivíduos como unidades independentes e
percebe o comportamento social como determinado principalmente por
normas adotadas pelas pessoas e organizações. Trata-se
de uma análise das coisas em termos de características
intrínsecas de suas partes individuais. Já a abordagem
inaugurada por Granovetter procura se instalar diretamente nas redes
sociais e em seus padrões de comportamento, deduzindo daí
as ações individuais. O mesmo que é proposto,
por exemplo, por Wellman, Wasserman e Faust27.
Há fatores que desempenham
um importante papel na mudança de limiares. Um deles é
o da chamada rede pessoal ou rede de amizades, que modifica os limiares
dos indivíduos em função das relações
de proximidade entre eles. Granovetter afirma que há uma
produção significativa de mudanças em ambientes
onde as pessoas conhecem pelo menos ¼ do resto do grupo –
o que é considerado um nível moderado de amizade.
A estrutura social causa, portanto, um impacto em comportamentos
coletivos, o que difere de estudos e pesquisas que baseiam seu levantamento
de dados em grupos de estranhos (e não levam em conta, portanto,
as influências das redes pessoais na decisão dos indivíduos).
Outro aspecto são os efeitos
espaços-temporais que colaboram para as mudanças dos
limiares. Os modelos convencionais partem do princípio de
uma conectividade completa do coletivo, onde cada indivíduo
é responsável pelo comportamento de todos os outros,
independentemente do tamanho ou da dispersão temporal do
agregado de preferências. O que Granovetter defende é
que a base de seu modelo estaria na substancial heterogeneidade
das preferências e na interdependência das decisões
no curso do tempo. Como decisões são tomadas no tempo,
os limiares de uns só são vencidos na medida em que
decorre o tempo das decisões dos outros indivíduos.
Mas o que poderia causar diferenças
nos resultados e distorcer a avaliação dos limares?
Dentre as causas de dificuldades para se avaliar os limiares encontramos
a má percepção, de um indivíduo, da
proporção de outros atores que adotaram um determinado
comportamento. Isso ocorre muitas vezes pela precariedade na divulgação
de informações que poderiam orientar as pessoas sobre
as decisões de outras. Há também os que decidem
fazer algo, mas não o fazem publicamente, causando erro de
avaliação do nível de limiares dos outros integrantes
de sua comunidade. Igualmente, existe a dificuldade dos indivíduos
em fazer distinções finas de seus verdadeiros limiares
para terem uma compreensão operacional da situação.
Finalmente, Granovetter considera que a medida e verificação
dos limiares de decisão não é algo fácil.
Como os limiares são disposições de comportamento,
eles são difíceis de se medir com confiabilidade antes
que o comportamento ocorra. Mas é possível tentar
indexar o limiar de um indivíduo pelo número exato
de pessoas que tomaram uma decisão antes dele. O que se faz
atualmente é seguir regressivamente a adoção
de um dado comportamento e inferir daí a distribuição
de limiares. Isso nos possibilita investigar a relação
entre os limiares e o background de características,
atitudes, valores e posição social de cada indivíduo
num coletivo.
A difusão de inovações
Seguindo as inspirações
de Granovetter, Thomas Valente propõe um modelo de limiar
de difusão de inovações28.
Valente reconhece que os indivíduos variam em sua vontade
de correr riscos ao adotar uma idéia ou produto novo. Poucos
indivíduos aceitam o risco de adotar uma nova idéia,
produto ou comportamento antes de qualquer outro. Muitas pessoas,
ao contrário, relutam em adotar uma nova idéia, produto
ou comportamento e preferem esperar até que outra pessoa
tenha feito isso. Como podemos determinar quem correrá riscos
e quem não? Como podemos descrever o processo de influência
que ocorre entre os indivíduos que correm riscos ao adotar
uma inovação cedo e aqueles que não correm?
Mais uma vez pode-se ver aqui o papel das redes sociais na difusão
de inovações e sua relevância para se compreender
a propagação das idéias e da inteligência
afluente.
Cabe lembrar que a difusão
de idéias esteve durante muito tempo associada ao papel dos
inovadores ou líderes de opinião e sua influência
sobre comunidades, grupos, associações etc. Essa abordagem
foi substituída por uma mais estrutural, baseada nos limiares
de decisão. Como acabamos de ver, o modelo de limiares de
comportamento coletivo postula que um indivíduo se engaja
num comportamento baseado na proporção de pessoas
do sistema social já engajadas nesse comportamento.
A diferença introduzida aqui por Valente em relação
às análises de Granovetter é uma distinção
mais acentuada entre rede pessoal e rede social. A rede pessoal
seria o conjunto de laços diretos que um indivíduo
possui dentro de um sistema social. Isso significa que haverá
mais chances de alguém adotar uma certa inovação
na medida que indivíduos de sua rede pessoal também
o façam.
Contudo, duas dificuldades chamam
a atenção de Valente. Uma delas, já apontada
por Granovetter, é que os indivíduos podem não
monitorar adequadamente a adoção de comportamento
de todos os outros do sistema. Isso é particularmente verdadeiro
em relação às inovações difíceis
de se observar diretamente. A segunda dificuldade é que inovações
são em geral incertas, ambíguas e arriscadas. Quando
se percebem incertezas e riscos, há a tendência dos
indivíduos se voltarem para aqueles que já tiveram
uma experiência com a inovação, justamente para
aprender mais sobre ela e determinar o quão efetiva pode
ser. Com isso, Valente considera que o conceito de “limiar
de adoção” deve ser medido em termos da comunicação
direta de uma rede de laços com outros, que é o que
se entende por rede pessoal. Embora influências externas sejam
geralmente responsáveis por fazer com que os indivíduos
tomem consciência de inovações em curso, é
na maioria das vezes a influência interpessoal com amigos
e vizinhos que conduz a uma adoção real de uma nova
idéia.
Conclusão
Neste momento, só
podemos concluir com mais perguntas do que respostas. Se a base
da inteligência coletiva de uma população está
na relação entre seus capitais social, cultural e
tecnológico, resta saber de que forma podemos não
apenas mensurá-los, mas, sobretudo, relacioná-los
de forma coerente. Desta relação depende nossa compreensão
do potencial para a ação coletiva de uma dada comunidade.
Ora, sabemos que é possível obter dados sobre o capital
social, sobre as relações entre indivíduos
e entre indivíduos e instituições numa coletividade.
Sabemos que o capital social está baseado na confiança
entre as pessoas, e que o nível de confiança indica
a coesão entre redes pessoais e sociais. Portanto, o nível
da interação social parece depender da forma como
os indivíduos negociam entre si suas preferências,
opiniões, crenças e valores. Esta negociação,
contudo, depende profundamente da afluência de idéias
entre as redes, da forma como antigos ou novos valores, conhecimentos,
opiniões transitam no coletivo, se disseminam entre os indivíduos
e se estabelecem como comportamentos e práticas. O capital
cultural disponível, portanto, é o signo maior desse
potencial disseminador das inovações. Ele é
a energia disponível no ecossistema de idéias. As
idéias circulam, e com isso entram em competição,
cooperação, sinergia, mutação. Mas são
os indivíduos que interagem, trocam e adotam idéias.
Tanto diretamente de outros indivíduos, quanto por influência
diversa, de líderes, dos meios de comunicação,
das instituições etc. Por detrás de uma idéia
há sempre muitos indivíduos.
Se buscarmos os meios de intervenção
junto a uma comunidade que possam ampliar a sinergia entre seus
membros, sua inteligência coletiva, é possível
vislumbrar alguns elementos essenciais. O primeiro deles é
o papel das instituições no incremento tanto do capital
social quanto do capital cultural. Outro elemento é o capital
tecnológico, que permite ao mesmo tempo um melhor suporte
às instituições e uma melhor circulação
de idéias, conhecimentos, informações. Sobre
esses dois aspectos é possível dizer que já
possuímos expertise para intervir junto a grupos e coletivos.
Contudo, temos discutido uma dimensão absolutamente essencial
às populações, e para a qual ainda temos pouca
ou nenhuma experiência: os métodos de acolhimento.
No nosso entender, o acolhimento é o grau zero do capital
social e cultural. Sem um pertencimento qualquer, nenhum indivíduo
se capacita a interagir com outros, a propagar o que recebeu. O
acolhimento é a atitude essencial que pode ser disseminada
em escolas, postos de saúde, infocentros, bibliotecas, associações,
clubes etc. Ela marca o ponto de referência básico
para a construção do capital social.
A ciência da dinâmica
social tem ganhado muitos adeptos, tanto entre os estudiosos de
topologia das redes, quanto entre os sociólogos, comunicólogos,
teóricos da cibercultura entre outros. A vertigem da web
com certeza é uma das razões pelas quais procuramos
hoje compreender de que forma agimos e pensamos em multidão.
A urgência dessa ciência, contudo, não é
tanto em relação aquilo que queremos obter como benefícios,
mas aquilo que todos queremos evitar: a ação coletiva
autômata da sociedade de controle, onde padrões de
comportamento coletivo orientam o mercado e os organismos de vigilância.
A inteligência afluente, os smart mobs, os ativismos na rede
são a prova de que é possível construir um
tal conhecimento que se oponha ao que os teóricos do controle
acreditam ser uma tendência.
Notas:
1
Granovetter, M., Getting a Job: a study of contacts and careers,
Chicago Press, 1995
2 Mancur Olson, A Lógica
da Ação Coletiva, Edusp, 1999.
3 Michel Authier, Le Pays des
Connaissances, Le Rocher, Paris, 1998.
4 K. Arrow, Social Choice and
Individual Value, Yale U. Press, 1970.
5 Ibid. Introdução.
6 Mark Granovetter, “Threshold
Models of Collective Behavior”, American Journal of Sociology
83, 6 (1978): 1420-1443.
7 Everett Rogers, Diffusion of
Innovations, Free Press, 2003 (5.ed)
8 Thomas Valente, Network models
of the diffusion of innovations, Hampton Press, 1995
9 Movimentos desse gênero
são bem diferentes da ação coletiva de um exército,
por exemplo, que tem suas ações espaciais determinadas
pela forma altamente hierarquizada de sua organização.
Esse tipo de formação dificulta a circulação
de idéias e a conseqüente inteligência coletiva
que daí possa afluir.Pode-se dizer que um exército
possui ação organizada, mas não ação
coletiva (exceção aos grupos de combate e também
aos movimentos de guerrilha).
10 Vide Howard Rheingold, Smart
mobs: the next social revolution, Perseus, 2002. Rogério
da Costa, A Cultura Digital, Publifolha, 2002.
11 Pode-se consultar por exemplo
os sites Social Network Analysis e Cyberatlas,
12 Para maiores informações
consulte-se <http://www.collectiveintelligence.info/documents>.
13 Para maiores info sobre o
trabalho de Authier consultar <http://www.trivium.fr>.
14 Stanley Milgram, “The
Small-World Problem”, Psychology Today 1 (1967); Duncan Watts
and Steven Strogatz, “Collective Dynamics of ‘Small-World’
Networks”, Nature 393 (1998).
15 Consultar <http://www.nd.edu/~alb>.
16 Mark Buchanan, Nexus: small
worlds and the groundbreaking theory of networks, Norton, 2002.
17 K. Arrow, Social Choice and
Individual Value, Yale U. Press, 1970.
18 O que já era anunciado
nos anos 80 pelos analistas estruturais de redes sociais. Vide ref.
Barry Wellman.
19 R. Putnam, N. Lin, R. Burt,
A. Portes, A. Degenne, M. Forsé, P. Bullen, B. Onyx, Falk,
Harrison, M. Woolcock, D. Narayan, C. Grootaert, P. Evans, D. North,
J. Coleman, F. Fukuyama.
20 Grootaert, C. e Bastelaer,
T. , Understanding and Measuring Social Capital: a synthesis of
findings and recommendations from the Social Capital Initiative,
in <http://www.worldbank.org/socialdevelopment>
21
Consultar <http://www.collectiveintelligence.info/documents>.
22 James Coleman. 1990.
Foundations of Social Theory. Cambridge, Mass: Harvard
University Press.
23 Robert Putnam with R. Leonardi
and R. Nanetti. 1993. Making Democracy Work: Civic Traditions
in Modern Italy. Princeton: Princeton University Press.
24 Nem mesmo a Cruz Vermelha,
que se acreditava ser uma instituição imune às
convulsões sociais, foi poupada de ataques no Iraque.
25Cf. Grootaert e M. Woolcock.
Vide Ronald Burt (2000) “The Network Structure of Social Capital”,
in Robert Sutton and Barry Staws (eds) Research in Organizational
Behavior Greenwich, CT : JAI Press.
26 Alguns exemplos que se tornaram
clássicos: a) mulheres coreanas e adoção de
programa familiar. Mulheres diferentes tiveram limiares diferentes,
dependendo da educação, idade, opinião do marido,
posição na hierarquia das lideranças informais,
gosto pessoal; b) Rumores. Os níveis de credulidade variam
nos rumores e isso é o mesmo que os limiares; c) Doenças.
Aqui são os níveis de vulnerabilidade que contam.
Um indivíduo deve ser exposto a quantos infectados para ficar
doente? Mas é preciso distinguir da idéia de “contágio”,
já que limiares não se confundem com a mera imitação
do que o último ator fez; d) Greves. Número de trabalhadores
influi no cálculo de custo-benefício; e) Votação.
Situação de não querer “jogar o voto
fora”; f) Educação. Influência do grupo
de pares; g) Situações sociais. Deixar uma reunião
social implica em limiares de decisão; h) Migração.
Idéia da “cadeia de migração”.
Todos esses exemplos são discutidos tanto no artigo citado
de Granovetter quanto no artigo de Thomas Valente.
27 Cf. Barry Wellman. Igualmente,
Wasserman, S. & Faust, K., Social Network Analysis, Cambridge
U. Press, 1999. Cabe lembrar que também aqui tratamos do
problema amplo das preferências coletivas, que tem sua fonte
em Condorcet e alguns de seus desdobramentos em Kenneth Arrow e
Michel Authier.
28 Thomas Valente, Network models
of the diffusion of innovations, Hampton Press, 1995.
Rogério
da Costa
Filósofo, engenheiro,
prof. Programa de pósgraduação PUCSP,
coordenador do Laboratório de Inteligência Coletiva PUCSP
, Brasil |