|
Por Ana Franchon
Número
43
Nas
últimas décadas, o modelo de gestão
organizacional sofreu alterações,
desenvolvendo mecanismos para adaptação
às rápidas e numerosas transformações
econômicas e tecnológicas pelas
quais o mundo tem passado. A organização,
enquanto sistema aberto, passou a ser fortemente
influenciada por quatro novos paradigmas: nova
tecnologia, nova ordem geopolítica, novo
ambiente empresarial e nova empresa (Kunsch,
2003, p. 58).
Entre os paradigmas
citados, a questão das novas tecnologias
abarca o desenvolvimento de novas metas para
a tecnologia de informação (IT)
e uma computação em rede, aberta
e centrada no usuário. Na área
de comunicação organizacional,
a preocupação não poderia
ser diferente: é crescente o esforço
para a utilização adequada e integrada
dessas novas tecnologias ao plano de comunicação,
destacando-se o uso da tecnologia para melhorar
o relacionamento entre a organização
e seus públicos.
Durante dois
anos e meio, desenvolvi trabalhos na área
de assessoria de comunicação para
empresas de tecnologia (Palm, Pioneer, Seagate
e Polycom). Na maior parte do tempo, atendi diretamente
a Palm do Brasil (hoje, PalmOne), empresa multinacional
com sede nos Estados Unidos que manufatura e
comercializa computadores de mão. Apresentando
um produto que oferece o que existe de mais recente
em tecnologia, um problema trazido pelo cliente
foi: “Não estamos conseguindo “vender”
para as mulheres. Será que as mulheres
são avessas à tecnologia?”.
A pergunta permaneceu
solta até meu ingresso como aluna ouvinte
na disciplina “Ética e Comunicação
Institucional”, que faz parte do programa
de pós-graduação da ECA/USP.
No início da disciplina, foi abordada
a questão histórica das relações
de gênero, com a leitura do livro “A
Dominação Masculina”, de
Pierre Bourdieu. Segundo o autor, a divisão
social do trabalho estabelecia que a manipulação
de objetos técnicos e máquinas,
símbolo de poder, caberia ao homem: “Entre
os cabilas, como em nossa própria tradição,
os órgãos sexuais masculinos são,
pelo menos nas designações eufemísticas,
comparados a instrumentos (“aparelho”,
“máquina” etc.), o que talvez
se deva relacionar com o fato de que, até
hoje, a manipulação dos objetos
técnicos caiba sistematicamente aos homens.”
(Bourdieu, 1930, p. 23)
Porém,
como já mencionado anteriormente, a sociedade
está passando por transformações
muito rápidas. O poder masculino não
é mais absoluto e incontestável,
já que as mulheres da “sociedade
pós-moderna” estão invadindo
o mercado de trabalho e, cada vez mais, ocupando
cargos elevados nas organizações,
que exigem o conhecimento e domínio na
utilização das mais recentes tecnologias.
Dentro deste
cenário de mudanças, a área
de comunicação das empresas modernas
ganhou destaque, ocupando uma posição
estratégica, já que possui o poder
da informação. As mulheres, que
até então exerciam um papel secundário
na sociedade, estão cada vez mais presentes
também nos departamentos de comunicação
e, nesta condição, acabam como
detentoras de dois tipos de poder: o poder da
informação e o poder conferido
pelo uso da tecnologia para difundir a informação.
A questão
é que as transformações
sociais ocorridas, em especial nas últimas
décadas do século XX, foram responsáveis
por uma grande mudança do cenário
do mundo do trabalho no século XXI. Porém,
a sociedade ainda está precariamente preparada
para lidar com esta nova situação
e existem poucos estudos que tratam da relação
da mulher com este novo instrumento de poder,
a tecnologia.
Diante de tudo
isso, torna-se imprescindível o estudo
da relação da mulher que trabalha
na área de comunicação com
as novas tecnologias disponíveis, para
entender um novo papel da mulher na sociedade:
o de detentora do poder da informação
e do poder conferido à ela pelo domínio
da tecnologia.
Segundo levantamento
da Fundação Getúlio Vargas,
em 1999 a participação das mulheres
brasileiras no mercado de trabalho representava
40% da População Economicamente
Ativa do país e, conseqüentemente,
também houve um aumento no número
de mulheres que ocupam cargos de liderança
nas empresas modernas.
O caráter
estratégico da área de comunicação
de qualquer empresa moderna supõe um maior
uso de tecnologia dentro deste departamento.
Atualmente, o domínio e conhecimento de
instrumentos de tecnologia é um forte
indício de poder dentro das organizações
e pretende-se estudar a forma como a mulher está
entrando neste universo.
Desenvolver
um estudo sobre a temática Mulher, Informação
e Tecnologia não é tarefa das mais
fáceis, em razão da frugal literatura
sobre o assunto. Encontra-se uma vasta obra bibliográfica
relativa às questões de gênero,
contrapondo a situação feminina
à masculina, mas são poucos os
trabalhos relacionados à mulher no campo
da comunicação e tecnologia, a
razão desse artigo.
Durante uma
pesquisa exploratória inicial, realizada
para a monografia de conclusão do curso
de especialização latu-senso em
Gestão Estratégica em Comunicação
Organizacional e Relações Públicas,
foi verificada a literatura disponível,
buscando-se fontes junto às bibliotecas
e à Internet. O material mais significativo
encontrou-se em artigos recentes publicados na
Internet.
Para entender
o contexto social, cultural e econômico
em que se insere a mulher na era tecnológica,
torna-se importante registrar o desenvolvimento
das sociedades, que se acelerou na segunda metade
do século XX. O período da existência
do homem sobre a Terra abrange quase dois milhões
de anos. As culturas de coleta e partilha constituíram
o mais longo núcleo dessa existência.
As culturas de caça não têm
mais que quinhentos mil anos e as horticulturas,
uns cinqüenta mil. A história que
começa com o patriarcado e as sociedades
agrárias tem aproximadamente dez mil anos,
e a industrialização, apenas duzentos.
Durante a Pré-História,
a divisão social do trabalho já
acontecia: “o homem saía para caçar
e a mulher, impossibilitada de locomover-se devido
às maternidades freqüentes, usava
o tempo livre para a colheita de frutas”
(De Masi, 2000, p.29). Nesta fase, descobre-se
que o macho participa no nascimento dos filhos
e é diante de tudo isso que o sistema
social passa a ser o patriarcado, sistema social
de divisão de papéis, em que cabe
aos homens o papel social de trabalhar para sustentar
financeiramente a casa. Como detentor do poder
financeiro, o homem também passa a exercer
automaticamente o papel de chefe da família,
responsável pela tomada das decisões
familiares. A mulher, na sociedade patriarcal,
atua como coadjuvante, sendo responsável
pelas atividades secundárias que oferecerão
o suporte necessário para o sucesso do
chefe da casa.
Para Pierre
Bourdieu, a diferença anatômica
entre homens e mulheres influencia a justificativa
da divisão social do trabalho: aos homens
são atribuídas qualidades como
força1,
razão e atividade, enquanto que as mulheres
são vistas como frágeis, sensíveis
e passivas/submissas. Ao mesmo tempo que essa
diferença anatômica é utilizada
para explicar a divisão social do trabalho,
é a própria visão social
que determina essas diferenças anatômicas,
ou seja, trata-se de uma relação
circular.
Nos anos 80,
verificou-se uma mudança de atitude das
jovens em relação à escola:
elas começam a se colocar não mais
como sujeitos submissos à socialização,
mas como sujeitos de sua própria ação.
Esse fato gerou a necessidade de elaboração
de um outro tipo de saber, construído
a partir da perspectiva feminina. Ou seja, é
cada vez mais necessária a proposição
de uma pedagogia mais igualitária, na
qual o acesso às atividades tecno-científicas
pressuponha a adoção de medidas
corretivas.
O século
XX, em geral, foi um século marcado por
uma série de mudanças em todos
os campos (social, tecnológico, político,
econômico) e que aconteceram em uma velocidade
muito grande. Com relação ao patriarcado
e à dominação masculina
implícita, o marco para o início
da mudança no Brasil foi, sem dúvida,
a conquista ao direito de voto em 1934 e, posteriormente,
a possibilidade da candidatura de mulheres a
cargos políticos. Esta conquista feminina
teve papel importante mais tarde, na década
de 60, quando se iniciou o movimento feminista.
Esse movimento
é o marco da entrada da mulher na História
do mundo; aos poucos, a mulher está deixando
de ser coadjuvante para ser personagem principal.
O fato da mudança ter início com
sua inserção na área política,
área marcada pelo poder que até
então era negado a mulher, carregou o
movimento feminista de ideologia política.
O apelo econômico
para a inserção das mulheres no
mercado de trabalho já vinha sendo utilizado
desde a Segunda Guerra Mundial, quando a força
do trabalho feminino sustentou a economia de
diversos países, já que os homens
haviam partido para a guerra.
Para uma competição
mais justa com os homens no mercado de trabalho,
as mulheres começaram a freqüentar
cada vez mais escolas e universidades e, segundo
Scott (1992, p. 68-69), eram estimuladas para
tanto: “Durante os anos 60, também
as faculdades, as escolas de graduação
e as fundações começaram
a estimular as mulheres a obterem PhDs, oferecendo
bolsas de estudo e um considerável apoio
financeiro.” A realidade é que estava
claro para o movimento feminista que o nível
de escolaridade das mulheres acabaria influenciando
a queda do argumento de que elas não serviam
para trabalhos intelectualizados por não
estarem preparadas.
Profissões
como a de historiador, por exemplo, exigia apenas
que seus profissionais tivessem o domínio
do conhecimento. Por isso, o que as mulheres
historiadoras alegavam era que elas não
poderiam ser segregacionadas porque tinham esse
domínio e, diante disso, queriam o seu
reconhecimento como profissionais.
Nos anos 70,
houve um distanciamento do movimento feminista
da política. A idéia era que o
movimento partisse para a ação,
não ficando apenas com ideologias no papel.
Agora, as feministas exigiam igualdade com reivindicações
claras: a diminuição das diferenças
salariais entre homens e mulheres e o fim da
discriminação nos contratos, títulos
e promoções.
Nos anos 80
houve a introdução do termo gênero
para os estudos relacionados à divisão
de papéis sociais. O termo começou
a ganhar terreno como uma tentativa das feministas
em buscar uma definição diferente
das teorias existentes, menos ideológica,
para explicar as desigualdades entre homens e
mulheres.
Alguns estudiosos
consideram que as numerosas transformações
que estão ocorrendo nos últimos
anos e sua velocidade vertiginosa caracterizam
um novo período histórico, que
foi denominado “pós-modernidade”.
Nessa nova era, novas formas de socialização
se convertem pela velocidade, em bits de passagem,
em novos hábitos de ser e de se relacionar,
numa verdadeira dança de encontros virtuais.
Territórios são criados e ao mesmo
tempo desfeitos, extrapolando fronteiras, via
trajetórias on-line. E fica o que fica,
num jeito único de se compreender um novo
mundo que ainda está por nascer.
A “pós-modernidade”,
devido às suas características,
acaba favorecendo o modo de pensar feminino,
já que valoriza a estética em lugar
da racionalidade modernista. “A experiência
do tempo e do espaço se transformou, a
confiança na associação
entre juízos científicos e morais
ruiu, a estética triunfou sobre a ética
como foco primário de preocupação
intelectual e social, as imagens dominaram as
narrativas[...]” (Harvey, 1993, p. 293).
Ainda mais,
a “pós-modernidade” e a globalização
são movimentos que favorecem a intensificação
da comunicação e uma maior circulação
de informações. “Chega-se
assim a definir a intensificação
dos fenômenos comunicativos, a acentuação
da circulação das informações
não somente como um aspecto a mais da
modernização, senão como
o próprio centro e o sentido mesmo deste
processo” (Lopes, 2003, p. 55).
No Brasil, em
especial, o desenvolvimento da comunicação
foi favorecido pelo fim da ditadura e democratização
em todos os níveis, inclusive da informação.
Porém, os novos Meios de Comunicação
de Massa tanto abriram novos canais de informação
como não conseguiram, ainda, acompanhar
a intensa velocidade da metamorfose da sociedade,
provocada pela inserção das modernas
tecnologias. Assim, “[...] os Meios agem
como aguçadores de tensões sociais:
ao serem submetidos às pressões
do aumento das necessidades de consumo (material
e imaterial, potencial e efetivo) que não
se satisfazem pela insuficiente oferta de oportunidades
de vida[...]”(Lopes, 2001, p. 22).
Hoje a questão
não é mais sobre a busca das mulheres
pela igualdade, mas sobre a conquista de um espaço
feminino na sociedade, independente do espaço
dos homens. Segundo um estudo feito pelo Ibope
Solution sobre a mulher do novo século
(apresentado no evento Maximídia 2004),
“ [...] as mulheres são diferentes
entre si e querem ser tratadas assim. Há
mais espaço para tecnologia e modernidade
em suas vidas e elas participam ativamente da
decisão de compra em artigos antes dominados
pelos homens, como imóveis. Além
disso, assumiram diferentes papéis nas
últimas décadas, como a da efetiva
atuação profissional e busca de
realização pessoal. O desafio hoje
é como conciliar suas novas funções
na sociedade”.
A chamada dupla
jornada de trabalho, que é a conjugação
das atividades domésticas (cuidados com
a casa e a família) com as atividades
profissionais (entrada da mulher no mercado de
trabalho), hoje passou a ser tripla. A conscientização
de sua posição desfavorável
na competição pelo mercado de trabalho
leva cada vez mais mulheres às escolas
e universidades, a procura de uma formação
intelectual mais justa.
No mercado de
trabalho, a maioria das mulheres acaba se concentrando
nas áreas de pesquisa ou gerenciamento
enquanto que as áreas mais técnicas
ainda são de responsabilidade masculina,
de acordo com a tendência apontada anteriormente
por Bourdieu.
Segundo estudos
da Fundação Americana de Mulheres
de Negócios, acredita-se que existam,
hoje, 9,2 milhões delas exercendo cargos
de liderança em organizações
de informática no mundo todo. Mesmo assim,
por incrível que pareça, ainda
existe o preconceito de que as mulheres que ocupam
altos cargos têm que pagar com um menor
sucesso na ordem doméstica e vice-versa.
No universo
da tecnologia, é raro encontrar profissionais
com mais de vinte anos de experiência.
Por isso, na hora de competir no mercado de trabalho
ligado à tecnologia, a cargos de alta
envergadura, a mulher não encontra um
concorrente do sexo oposto com o dobro de sua
experiência e acaba competindo, relativamente,
nas mesmas condições. Ou seja,
a hipótese levantada pelo cliente Palm
no início deste artigo, de que as mulheres
são avessas à tecnologia, encontra,
nestes dados, um ponto que a refuta.
Outro ponto
que contradiz essa hipótese é que,
de acordo com as pesquisas da diretora da Unidade
de Pesquisa sobre Cultura Cibernética
da Universidade de Warnick, Estados Unidos, Sadie
Plant (apud Araújo, Sanches e Lopes, 1999),
toda a maquinaria que compõe o computador
sempre foi operada por mulheres. Para a pesquisadora,
os homens têm organizado claramente a atividade
tecnológica, mas, agora, com a mudança
cultural que está ocorrendo, o papel por
eles assumido está diminuindo. Na sua
concepção, ser o organizador não
é, atualmente, o fator mais importante.
A inserção
da mulher no mercado de trabalho do homem acontece
exatamente na conturbada era “pós-moderna”,
marcada por uma característica bastante
peculiar, a Revolução Tecnológica
Informacional. Esta Revolução “[...]
está reconfigurando o conjunto das sociedades
humanas em todos os seus aspectos, implodindo
barreiras de Tempo e Espaço, colocando
a Informação como elemento central
de articulação das atividades humanas”
(Lemos e Palacios, 2001, p. 5).
Graças
à introdução de modernas
invenções tecnológicas,
hoje, pode-se ter acesso a notícias de
qualquer parte do mundo, instantaneamente, conhecer
cidades, museus, fazer negócios com alguém
que esteja em outro país, enfim, o universo
de informações disponíveis
foi rapidamente ampliado.
O crescimento
do uso da tecnologia chega a ser exponencial.
No Brasil, por exemplo, o Ibope vem apontando
um aumento no número de horas mensais
de uso da Internet. Enquanto em setembro de 2004
esse número era de 13h55, em outubro,
do mesmo ano, ultrapassou a marca das 14h10,
com 11,6 milhões de internautas domiciliares.
É importante destacar que, apesar de esse
número parecer pouco significante, dentre
os países monitorados pela Nielsen/NetRatings,
somente o Japão apresentou maior intensidade
no uso domiciliar da rede: 15h27.
Outra tendência
que acontece com o desenvolvimento tecnológico
é a personalização dos meios
de comunicação de massa. “Uma
teoria amplamente difundida afirma que a individualização
é a extrapolação do narrowcasting
– parte-se de um grupo grande para um grupo
pequeno; depois, para um grupo menor ainda; por
fim, chega-se ao indivíduo” (Negroponte,
1995, p. 158). Por sua vez, a personalização
dos meios de comunicação estimula
a comunicação de mão-dupla,
a troca de informações em veículos
cada vez mais interativos.
As distâncias
foram reduzidas e a informação,
agora, é instantânea. A socialização
do indivíduo acontece em comunidades e
bairros digitais. A informação
está sendo digitalizada, deixando de ser
física para transformar-se em bits. No
mundo digital, o meio não é mais
a mensagem, é apenas uma das formas que
ela assume, variando de acordo com a tecnologia
empregada para sua disseminação:
“[...] uma mensagem pode apresentar vários
formatos derivando automaticamente dos mesmos
dados” (Negroponte, 1995, p. 73).
A secretária
eletrônica ou o uso do correio de voz apresentam
outra característica da Revolução
Tecnológica Informacional, que é
a possibilidade de assincronia. “A vantagem
que ambos [a secretária eletrônica
e o correio de voz] oferecem tem menos a ver
com a vez e mais com a possibilidade de processar
tais mensagens off-line e a qualquer momento.
Em vez de se envolver uma pessoa sem necessidade
numa conversa online, deixa-se uma mensagem”
(Negroponte, 1995, p. 161).
A previsão
de muitos especialistas em tecnologia é
a de que, no futuro, todos os meios de comunicação
assumirão a característica de assincronia,
quando não houver a necessidade de transmissão
de informações em tempo real. Assim,
a televisão e o rádio, por exemplo,
poderão ter alguns filtros que selecionarão
a programação e ordenarão
as informações de acordo com o
gosto particular de cada um. “À
medida que as transmissões televisivas
forem se tornando digitais, os bits não
apenas poderão ser deslocados no tempo
com facilidade, como também não
precisarão ser recebidos na mesma ordem
ou à mesma velocidade segundo a qual serão
consumidos” (Negroponte, 1995, p.162).
As mudanças
que aconteceram com a Revolução
Tecnológica Informacional foram tantas
e tão grandes que em poucos anos nos deparamos
com novidades como as cidades digitais ou cibercidades
(digitalização das características
e serviços de cidades reais), ou a necessidade
de novas legislações para regulamentar
um novo tipo de comércio totalmente online
ou, ainda, a aproximação de pessoas
de todas as partes do mundo que compartilham
os mesmos interesses.
Obviamente que
todas as mudanças afetaram, de uma maneira
singular, a comunicação. Em poucos
anos, pode-se citar as seguintes transformações:
- foram criados os jornais online, com linguagem
e posicionamento no tempo e no espaço
completamente distintos de tudo o que vinha sendo
feito;
- a Intranet surgiu como uma rede interna de
informações específicas
para o público interno;
- os diários pessoais passaram a ser públicos,
sendo veiculados em sites pessoais no formato
de Blogs e Fotoblogs;
- pessoas que não se encontram há
anos estão formando comunidades no Orkut;
- reuniões entre cidades de várias
partes do mundo acontecem graças a aparelhos
de videoconferência, que transmitem som
e imagem em tempo real;
E tudo isso,
provavelmente, daqui há alguns anos, quando
alguém tiver a curiosidade de ler este
estudo, estará completamente obsoleto.
O problema,
agora, parece não ser mais a escassez
de informações que caracterizou
a sociedade durante tanto tempo, mas aprender
a selecionar o que é mais importante para
cada um.
Do outro lado,
o lado do emissor das informações,
é preciso que haja um esforço para
diferenciar as mensagens emitidas, para que as
mesmas consigam atingir o receptor. Mais do que
isso, é preciso o domínio das ferramentas
tecnológicas, acompanhar esta Revolução,
para que não se perca tempo com ações
de comunicação que não levam
à lugar nenhum.
Pode-se dizer
que hoje em dia existe um certo modismo na utilização
dos modernos recursos digitais para a comunicação,
o que acaba levando algumas organizações
a utilizá-los de maneira indiscriminada
e sem critérios. Os problemas de inadequação
no uso de meios digitais ocorrem, principalmente,
porque a comunicação digital deve
estar integrada à um plano estratégico
de comunicação, considerando sua
ligação com os demais instrumentos
da comunicação institucional e
mercadológica.
No caso das
organizações, meios como a Internet
(sites institucionais), Intranet e o e-mail marketing
devem ser estudados e bem conhecidos pelos comunicadores,
a fim de que, sabendo suas funções
e especificidades, sejam devidamente utilizados.
A Internet, por exemplo, é um meio de
rápida exposição, já
que em geral o usuário fica pouco tempo
navegando no mesmo site, além de ser um
meio que está sempre em movimento. Mesmo
na comunicação digital como um
todo, o fator humano é indispensável,
já que são ferramentas que pressupõem
a interatividade, combinando elementos como a
imagem, o som e a escrita.
Outras características
importantes dos meios digitais são a linguagem
não-linear (hipermídia), flexibilidade,
rapidez, convergência e a criação
de comunidades virtuais. Quando comparados com
os outros meios de comunicação,
enquanto a comunicação de massa
preza pela homogeneização e uniformização
da informação, é necessário
aprender a usar a comunicação digital
de forma dirigida para criar um diferencial (a
Internet não é mídia de
massa) – a quantidade de informações
que se recebe é muito grande e, por isso,
muito acaba sendo perdido. O conhecimento sobre
o público receptor é outro aspecto
importante: as ferramentas devem sempre ser testadas
antes de serem divulgadas e são importantes
as pesquisas contínuas de mercado e de
opinião, além do uso de software
de auditoria para monitoramento. O conteúdo
tem que estar de acordo com a cultura organizacional
e suas ações, mostrando-se relevante
para o público, além de respeitar
as políticas de privacidade e estimular
o feedback (participação,
interação).
Enfim, os comunicadores,
de uma maneira geral, devem estar atentos às
inovações tecnológicas e
procurar utilizá-las apropriadamente,
de forma integrada com os outros instrumentos
existentes, alinhada à cultura organizacional
e ao plano estratégico elaborado.
Uma nova forma
de comunicação que vem conquistando
cada vez mais espaço entre as mulheres
é a Internet. Enquanto “[...] meio
de comunicação, de interação
e de organização social[...]”
(Castells, 2003, p. 255), a Internet favorece
a transformação da sociedade para
uma sociedade em rede. Ainda segundo Castells
(2003, p. 273), “[...] a Internet é
um instrumento que desenvolve, mas que não
muda os comportamentos; ao contrário,
os comportamentos apropriam-se da Internet, amplificam-se
e potencializam-se a partir do que são”.
Segundo o artigo
“Flores Tecnológicas”, de
Rosa Alegria, “[...] quando falamos das
novas funções de comunicação
na Internet, falamos dos padrões femininos
de se comunicar. Comunicar-se para as mulheres
é essencialmente criar relacionamentos.
É aqui que reside o poder da Internet:
na representação da mulher em sua
atitude não linear, funcional, orgânica,
totalmente fluida como a Internet.”
A questão
da globalização e esses novos meios
de comunicação deixam as diferenças
sociais mais evidentes devido, principalmente,
à enorme quantidade de informação
disponível e alto custo para acesso. Por
outro lado, a comunicação, na era
da globalização, favorece o reconhecimento
das diferenças e a abertura para o cultura
do outro. Os jovens, por exemplo, que vivem nas
grandes cidades e têm acesso à tecnologia
estão cada dia mais “conectados”
com esta recente cultura tecnológica e
têm cada vez mais facilidade para lidar
com a tecnologia e a Internet.
Para a mulher,
a prioridade em utilizar os serviços tecnológicos
como uma ferramenta de trabalho explica-se pelo
fato de, nos EUA , ela ser a responsável
pelo controle da economia doméstica em
70% dos lares. Por essa razão estaria
mais interessada na difusão dos serviços
online pela sua praticidade e conforto
de comprar sem sair de casa. Este seria um canal
interessante de comunicação para
que as empresas de tecnologia atingissem as consumidoras
potenciais. Para complementar esses dados, em
uma pesquisa feita nos Estados Unidos pela NetSmart,
coordenada pela psicóloga Bernardet Tracy,
chegou-se à conclusão que, em 2005,
a maioria dos usuários do mundo digital
será de mulheres.
Conforme essa
mesma pesquisa, a mulher acessa a Internet buscando
informação. Nesse sentido, como
um instrumento de trabalho e estudo, aproveitando-a,
também, para fazer compras sem sair de
casa. Os homens norte-americanos, em geral, acessam
a rede com a finalidade de entretenimento.
Em 1996, a pesquisa
Cadê/Ibope constatou que 17% das pessoas
que acessavam a Internet no Brasil eram mulheres.
Em meados de 1997 realizou-se uma nova pesquisa
em que se avaliou que esse número aumentou
para 25%. A pesquisa apontou também que
é o sexo feminino o que mais se interessa
pelo comércio eletrônico também
no Brasil.
No entanto,
muitas mulheres ainda se dizem assustadas com
os códigos dessa linguagem, que tem muitas
características masculinas, como a sua
linearidade e racionalidade tecnológica.
Uma outra questão que deve ser abordada
é a do estereótipo feminino neste
novo meio de comunicação. Em geral,
a imagem da mulher retratada na Web ainda é
estereotipada como a imagem da dona-de-casa.
A concepção
e o design das novas tecnologias ainda estão
pautados nas diferenças entre ricos e
pobres (que podem ou não pagar para ter
acesso à tecnologia), entre quem fala
e não fala inglês, entre homens
e mulheres. Nessa última questão,
é preciso repensar a realidade tecnológica
e a realidade da mulher. Ao invés da mulher
trabalhar com a tecnologia, os produtos também
deveriam ser “feminilizados” a fim
de que eles trabalhem para as mulheres.
Para a doutora
em Ciências pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro - UERJ, Heloísa Cardoso,
(apud Araújo, Sanches e Lopes, 1999),
o neo-feminismo dos anos 90 é diferente
do feminismo de outras décadas, já
que a mulher não deseja mais igualdade
de condições com os homens, mas
encontrar seu próprio espaço. Cardoso
diz acreditar que a tecnologia foi um dos aspectos
que facilitou esta mudança de comportamento
do sexo feminino. Para ela, o crescimento da
mulher no uso da Internet pode ser explicado
através da psicologia junguiana por meio
da figura do "animus" mais incentivado
pelas características do mundo virtual.
"Com a ampliação dos papéis
sociais e a conquista do espaço público
oferecidos pela Internet, a mulher estaria consideravelmente
ampliando a exploração de suas
potencialidades".
Para este artigo,
partiu-se do ponto de vista que o profissional
da comunicação é formador
de opinião e detentor da informação,
o que lhe confere poder. Como as profissões
relacionadas à Comunicação
são tidas como femininas e a maioria dos
profissionais é mulher, escolheu-se, neste
estudo, a realização de entrevistas
com comunicadores para saber sobre a utilização
de um instrumento moderno de poder, que é
a tecnologia.
Para a análise
da relação da mulher “pós-moderna”
com a tecnologia no seu universo de trabalho,
foi estabelecido o estudo do caso da área
de comunicação de um banco paulista
com um nome bastante forte no mercado, o Grupo
Santander Banespa.
A escolha deve-se,
em primeiro lugar, ao caráter estratégico
que a área de comunicação
de qualquer empresa de grande porte assumiu nas
últimas décadas. Esse posicionamento
essencial para o bom funcionamento da empresa
supõe que o departamento de comunicação
esteja equipado com os mais novos recursos de
tecnologia, para tornar o trabalho mais eficaz
e eficiente.
O Santander
Banespa atua em todos os segmentos do mercado
financeiro com uma completa gama de produtos
e serviços. Concentra suas operações
de varejo nas regiões Sul e Sudeste e
atende todo o país com produtos de atacado,
sendo a instituição privada líder,
no interior do Estado de São Paulo e no
Estado do Rio Grande do Sul.
A Vice-Presidência
de RH, Assuntos Corporativos e Jurídicos
do Santander Banespa possui 77 funcionários,
dos quais 55 são mulheres e 22 homens
(o departamento é responsável pelas
diversas áreas de comunicação
do Banco).
O Santander
Banespa demonstra ser uma empresa bastante informatizada,
na qual grande parte dos funcionários
possui acesso a modernos recursos tecnológicos
durante o dia a dia de trabalho. Porém,
sabe-se que muitas pessoas necessitam, ainda,
de acesso à materiais impressos para apreender
a informação. Muitas das ações
de comunicação já estão
substituindo o “papel” pela Internet
ou Intranet, por exemplo.
Foram realizadas
10 entrevistas nos dias 27 e 28 de janeiro de
2005, por telefone, com os executivos da área
de comunicação do Santander Banespa.
Como o departamento é constituído
em sua maioria por mulheres (aproximadamente
71% dos funcionários do departamento é
do sexo feminino), o número de mulheres
entrevistadas foi alto (90%).
Pode-se dizer
que a área de comunicação
é formada, em sua maioria, por mulheres
jovens (50% dos entrevistados tem menos de 30
anos de idade), com ensino superior completo
(70%) e especialização (30%). A
formação acadêmica entre
os entrevistados variou bastante, sendo a maioria
dos entrevistados jornalistas (30%) ou relações
públicas (20%) ou, ainda, publicitários
(20%). É interessante notar que duas entrevistadas
possuem mais de uma formação acadêmica,
o que demonstra que o grau de instrução
dentro do departamento é bastante elevado.
Todos os entrevistados
disseram conhecer os programas do Pacote Office
(Word, Excel e Power Point). Metade dos entrevistados
citou o programa Access e poucos entrevistados
dominam programas ligados à edição
de textos, como o Page Maker (10%), ou programas
relacionados à edição de
imagens, como Photoshop (20%) e Corel Draw (10%).
A grande maioria
dos entrevistados disse possuir dois e-mails,
um para uso profissional (endereço do
Banco) e outro para uso pessoal. A única
entrevistada que possui apenas um e-mail, o do
Banco, afirmou que “tinha um e-mail do
iG, mas foi bloqueado por falta de uso”.
Todos os entrevistados
possuem celular, sendo que alguns até
afirmaram que o aparelho é uma necessidade
do próprio trabalho. Porém, apenas
dois entrevistados disseram ter página
na internet, Blog ou cadastro no Orkut e a idade
destes entrevistados está na faixa entre
21 e 30 anos. Se, por um lado, os mais jovens
parecem estar mais familiarizados com as novidades
da Internet, as duas entrevistadas que possuem
laptop têm idade superior a 31 anos. Isto
acontece, provavelmente, por exercerem cargos
mais elevados e terem salários mais altos
para poder adquirir um “gadget” mais
caro.
As opiniões
foram bastante divididas com relação
ao relacionamento dos entrevistados com a tecnologia:
enquanto metade afirmou gostar de estar atualizado
com as novidades, a outra metade disse só
usar o que for indispensável para o trabalho.
De qualquer forma, pode-se notar uma certa resistência
em opiniões como a da entrevistada Ana
Paula Bonimani: “Não me interesso
muito não e acho que não tenho
muita familiaridade. Só uso tecnologia
por necessidade. Não faço muita
questão de conhecer as novidades”
ou a de Talita F. Feliciano: “Só
uso o que é indispensável para
o trabalho. Me dou melhor com a agenda de papel”.
Um motivo alegado por duas entrevistadas para
não estarem tão atualizadas como
gostariam foi a falta de tempo, como afirma Nora
Gonzalez: “É uma relação
boa, amigável, gosto de estar atualizada,
mas tenho pouco tempo para isso. Falta tempo
para aprender a utilizar. Depois que aprendo
a usar, gosto das novidades”.
A maioria dos
entrevistados concordou com a afirmação
de que a tecnologia facilitou o trabalho (70%),
tornando-o mais rápido (50%), dinâmico
(20%) e organizado (20%). Porém, alguns
problemas foram apontados: “Facilitou,
mas a gente acaba trabalhando de uma forma muito
impessoal. Perde menos tempo, mas é impessoal
e dificulta o trabalho em equipe”, segundo
Renata Farhud. Ou, ainda, a questão da
dependência com relação à
tecnologia, em um mundo onde não é
possível o trabalho sem computador: “E-mail
e celular são ferramentas primordiais
e essenciais para o meu trabalho. Por exemplo,
um microcomputador offline impossibilita
o trabalho”, afirmou Ana Paula Bonimani.
Dentre algumas
práticas apresentadas, é grande
o número de entrevistados que acredita
que as atividades vêm sendo substituídas
por formas de comunicação mais
recentes, como os comunicados impressos sendo
substituídos por e-mail (70% atribuíram
valor 6 ou 7, que representa maior grau de substituição).
Ao contrário
do que se pensava, os entrevistados não
acreditam que seu departamento utiliza mais tecnologia
que os demais (70%). Isto não significa
que o departamento usa pouca tecnologia, mas
é reflexo de uma empresa que necessita
de muita tecnologia na prestação
de serviços como um todo. Além
disso, o uso de tecnologia em uma área
de relacionamento é visto negativamente,
já que acredita-se que ela cause uma certa
impessoalidade: “Nosso departamento não
é o que usa mais, mas, na maior parte
do tempo, a gente usa a Internet e Intranet.
Na realidade, como é uma área de
relacionamento, dependemos ainda do contato pessoal”,
alegou Sonia Maria Achatkin.
80% dos entrevistados
acredita que as ações de comunicação
que utilizam tecnologia proporcionam um feedback
mais favorável. Segundo o entrevistado
José Henrique Lopes de Oliveira, “nessa
rotina que temos aqui, sim. Porque facilita a
vida, é mais rápido, viável,
economiza papel e é mais acessível”.
Por outro lado, alguns ainda afirmam sentir a
necessidade de materiais impressos, como Cíntia
Cinaldi Fernandes: “eu acho que os materiais
impressos ainda têm forte apelo. Eles ainda
não foram substituídos” ou
Ana Paula Franquine: “por exemplo, hoje
eu recebi um comunicado via Internet que tive
que imprimir. Às vezes não consigo
ler algo na tela. Para me concentrar melhor,
preciso ter o arquivo impresso”.
Quando se comparou
a facilidade de homens e mulheres para lidar
com a tecnologia, pouco mais da metade dos entrevistados
(60%) disse que parece que o homem tem mais facilidade.
As razões que sustentam esta crença
são: os homens exploram mais as potencialidades
da tecnologia (60%), têm mais interesse
(20%) ou por uma questão cultural (20%).
Para Cíntia Cinaldi Fernandes, “os
homens que eu conheço têm mais facilidade
que eu. Eu acho que eles têm mais interesse
pela máquina, pelo que ela pode oferecer”.
Por outro lado,
algumas entrevistadas afirmaram que, para elas,
a mulher tem mais facilidade para assimilar a
tecnologia que os homens: “as mulheres
pegam mais fácil, são mais perspicazes.
O homem fica focado num ponto só. As mulheres
têm uma visão mais global das coisas”,
disse Isilda Magalhães Costa.
A maioria dos
entrevistados utiliza a Internet para o trabalho
e para o lazer. Foi interessante verificar que,
na área de comunicação,
os sites de notícia são os mais
visitados, seja para comparar informações,
ou para pesquisa sobre as práticas da
concorrência (benchmarking).
Todos os entrevistados
acreditam que houve um distanciamento das mulheres
em relação à vida moderna.
30% dos entrevistados concordou que a tecnologia
ajudou nesse afastamento e outros 30% afirmou
que esse afastamento ocorreu devido à
entrada da mulher no mercado de trabalho. Ana
Paula Bonimani, por exemplo, disse “eu
moro sozinha e não sei cozinhar. O mundo
moderno influenciou este distanciamento. A mulher
usa o tempo para outras coisas, como ficar na
Internet. São vários fatores que
influenciaram o distanciamento, como a saída
da mulher para o mercado de trabalho”.
Outros depoimentos
interessantes foram de Cíntia Cinaldi
Fernandes e Nora Gonzalez. Para Cíntia,
“houve um distanciamento sim. Apesar de
as mulheres trabalharem muito, ainda existe a
preocupação com os filhos e a casa.
A tecnologia ajudou a mulher a compatibilizar
a vida em casa com o trabalho. Ela proporcionou
mais tempo para cuidar da casa”. Já
Nora ressaltou a falta de tempo que ainda persiste:
“Muito pouco [distanciamento]. Na medida
em que não se tem horário para
nada. A tecnologia acabou reduzindo o tempo das
pessoas para outras atividades, que não
o trabalho”.
Para os entrevistados
que discordaram da afirmação de
que foi a tecnologia que possibilitou a inserção
das mulheres no mercado de trabalho, outros motivos
tiveram maior influência. José Henrique
Lopes, por exemplo, afirmou: “acho que
não foi devido à tecnologia e sim
por outros motivos, como a própria mudança
de postura da mulher e predisposição
do mercado”.
A questão
da falta de tempo, até mesmo para o cuidado
de si mesma, retornou à entrevista quando
foi perguntado se os entrevistados concordam
com a afirmação de que a tecnologia
disponibilizou mais tempo para a mulher cuidar
de si mesma. 60% dos entrevistados disse concordar
com a afirmação, inclusive, a entrevistada
Sonia Maria Achatkin disse concordar porque “como
as informações vêm mais rápidas,
sobra mais tempo para ela se cuidar”. Por
outro lado, a entrevistada Rosana Fernandes acha
que as mulheres continuam sem tempo e Nora Gonzalez
ainda completa que discorda parcialmente da afirmação:
“porque te encontram em qualquer lugar”.
A entrada da
mulher no mercado de trabalho parece ter incentivado
sua procura por cursos de capacitação
também na área de tecnologia. Todos
os entrevistados acreditam que a mulher está
mais interessada em aprender sobre tecnologia,
sendo que metade deles acredita que isso aconteceu
devido ao aumento da concorrência no mercado
de trabalho. Para Sonia Maria Achatkin, “a
mulher procurou cursos porque está no
mercado e disputa pau-a-pau com a ala masculina
e com outras mulheres também”. Seguindo
a mesma linha de raciocínio, Isilda Magalhães
Costa destacou “para concorrer no mercado,
a mulher quis procurar se atualizar primeiro,
para estar mais capacitada”.
A transformação
do papel da mulher na sociedade ficou bastante
visível durante o desenvolvimento da pesquisa
de campo. Agora, além das suas atividades
relacionadas à casa e à família,
a mulher procura cada vez mais seu próprio
espaço em um mercado de trabalho extremamente
competitivo.
A mulher quer
conquistar seu lugar na sociedade “pós-moderna”
através de seu esforço próprio
e sente a necessidade crescente de capacitação
profissional e atualização para
poder competir de igual para igual, seja com
os homens ou com as próprias mulheres
que já estão no mercado. E, para
estar atualizada, a mulher de hoje parece conhecer
a importância do domínio das mais
modernas ferramentas tecnológicas.
Na área
de comunicação, as profissionais
empregam tecnologia para proporcionar agilidade,
dinamismo e rapidez ao seu trabalho. Porém,
não se esquecem de que uma comunicação
efetiva também depende de bons relacionamentos
e, relacionamentos, também dependem do
contato pessoal com o público para quem
se quer transmitir uma mensagem.
Notas:
1
Aforça masculina legitima uma relação
de dominação, segundo a visão
predominantemente androcêntrica, sob uma
ótica natural / biológica que é,
ela própria, uma construção
social naturalizada.
Referencias:
ALEGRIA, Rosa.
Flores Tecnológicas. Disponível
em
<http://www.perspektiva.com.br/futuro/flores_tecnologicas.htm>
. Acesso em 20 de abril de 2004.
ARAÚJO,
Betania Maciel de; SANCHES, Conceição
A.; LOPES, Tânia. Mulher e Tecnologia.
In: III ENCONTRO LUSÓFONO DE CIÊNCIAS
DA COMUNICAÇÃO – Federação
Lusófona de Ciências da Comunicação.
Universidade do Minho – Campus de Gualtar.
Braga, Portugal, 27 a 30 de outubro de 1999 –
CT: TECNOLOGIA, MEDIA E SOCIEDADE. Disponível
em <http://www.sabbatini.com/bemaciel/textos/lusocom99.htm>
. Acesso em 21 de abril de 2004.
BOURDIEU,
Pierre. A dominação masculina.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
CASTELLS,
Manuel. Internet e sociedade em rede. In: MORAES,
Dênis de (org.). Por uma Outra Comunicação.
Rio de Janeiro: Record, 2003.
DE MASI,
Domenico. O Ócio Criativo. Rio de Janeiro:
Sextante, 2000.
HARVEY,
David. Condição pós-moderna.
São Paulo: Loyola, 1993.
KUNSCH,
Margarida Maria Krohling. Planejamento de Relações
Públicas na Comunicação
Integrada. São Paulo: Summus, 2003.
LEMOS,
André; PALACIOS, Marcos. As Janelas do
Ciberespaço. Porto Alegre: Sulina, 2001.
LOPES,
Maria Immacolata V. O campo da Comunicação:
reflexões sobre seu estatuto disciplinar.
In: Revista USP, 48, 2001.
_______________________.
Pesquisa em Comunicação. São
Paulo: Loyola, 2003, 7ª ed.
NEGROPONTE,
Nicholas. A Vida Digital. Sào Paulo: Companhia
das Letras, 1995.
SCOTT,
Joan. História das Mulheres. In: BURKE,
Peter (org.). A Escrita da História: novas
perspectivas. Tradução de Magda
Lopes. São Paulo: Editora da Universidade
estadual Paulista, 1992.
Sites consultados
Família
Sabbatini: <http://www.sabbatini.com>.
Acesso em 21 de abril de 2004.
IBAM –
Instituto Brasileiro de Administração
Municipal: http://www.ibam.org.br. Acesso em
30 de setembro de 2004.
Ibope:
<http://www.ibope.com.br>
. Acesso em 23 de novembro de 2004.
Maximídia
2004: <http://www.maximidia2004.com.br>.
Acesso em 23 de novembro de 2004.
NetSmart:
<http://www.netsmart.research.com>.
Acesso em 30 de setembro de 2004.
Perspektiva:
<http://www.perspektiva.com.br>.
Acesso em 20 de abril de 2004.
Stats:
<http://www.e-land.com/e-Statpages/e-stat-main.html>.
Acesso em 30 de setembro de 2004.
Ana
Maria Franchon
Asociación Latinoamericana
de Investigadores de la Comunicación (ALAIC),
Brasil |