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Por Denis Porto y Sebastião
de Morais
Número
56
Introdução
Pesquisar sobre documentarismo sempre foi motivo
de fascínio, por acreditar que o gênero
representasse um importante papel dentro da comunicação
que, por sua vez, possui uma difícil tarefa
social e cultural, que é a de contribuir
com a educação da grande massa.
Isso sempre foi motivo de obstinação
para que essa pesquisa fosse desenvolvida por
crer que com a oferta de melhores produtos audiovisuais,
em maior quantidade e de caráter educacional,
arestas da educação brasileira
poderiam ser sanadas. Afinal, o Brasil possui
um índice de analfabetismo funcional que
foge aos padrões dos países de
seu eixo.
Por outro lado,
os processos comunicacionais estão em
constante mutação, em parte provocados
pelo desenvolvimento tecnológico e a conseqüente
convergência das mídias para plataformas
e ferramentas digitais. Com a chegada da Internet,
o que era consolidado desde Gutenberg passou
a ser diferente, como ocorreu com a escrita,
com a estrutura textual (agora hipertextual)
ou mesmo com as formas de inspiração
e atração nos caminhos do comunicar.
Agora não basta um bom texto. É
preciso interagir. Mas vale lembrar que mesmo
a invenção de Gutenberg causou
revolução, pois o acesso ao conhecimento
era restrito a poucos, assim como a escrita.
E essa migração para a qual o audiovisual
acena também gera resistência em
alguns grupos conservadores que acreditam no
audiovisual como produto de qualidade somente
em salas de projeção. Porém,
tal resistência reforça a justificativa
da necessidade de se investigar a respeito, como
defende Marshall McLuhan na epígrafe deste
trabalho.
Esta pesquisa
aborda a exibição de obras audiovisuais
do gênero documentário, oriundos
do vídeo ou do cinema, na Internet. Para
tanto, foi definido como objeto de pesquisa o
site Porta Curtas, veículo que oferece
ao ambiente virtual uma expressiva coleção
de obras de ficção e documentários
gratuitamente, com limitações que
a tecnologia impõe no momento em que as
observações foram realizadas, mas
que em um curto espaço de tempo poderão
ser minimizadas, como aconteceu com diversos
outros processos comunicacionais. Analisou-se
o site de forma detalhada, oferecendo à
comunidade científica um trabalho descritivo
sobre o Porta Curtas, desde seu funcionamento
como instituição, com apoios financeiros,
até os procedimentos de seleção
de obras e a oferta das mesmas na Internet. A
partir dessa análise, chegou-se a um retrato
maximizado do site, podendo este trabalho servir
como base de informação e reflexão
para futuros estudos sobre o audiovisual na Internet.
A discussão
teórica do trabalho apoiou-se em opiniões
diversas e em áreas distintas, tanto do
cinema quanto da tecnologia. Sobre cinema, foram
adotadas teorias de Nichols e Luca, mas com contribuições
de outros teóricos, como Leite, Gervaiseau
e Bernardet. O teórico Bill Nichols (2005)
aborda questões históricas do documentário,
atentando-se, porém, às escolas
inglesa e norte-americana. Seu trabalho oferece
uma visão bastante densa a respeito do
gênero, assim como diversos olhares a respeito
da estrutura e da ética do mesmo. Já
o brasileiro Luiz Gonzaga de Luca (2004) oferece
à ciência dados significativos que
discutem o cinema digital e os processos de convergência
tecnológica que a sétima arte vem
vivendo, tanto no que se refere ao mercado quanto
à tecnologia empregada nos processos de
produção e distribuição.
Porém, o autor se atenta mais profundamente
no que se refere às salas de projeção
com tecnologia digital por ser esta a sua área
de formação e atuação.
Ao lado destes
teóricos, caminhou Gervaiseau (2000),
que apresenta dados históricos do documentário
no mundo, decorrentes de sua pesquisa de Doutorado.
Tais informações complementaram
as fornecidas por Nichols (2005) que, junto a
Bernardet (2003) e Xavier (2005), contribuiu
fundamentalmente para que o papel do documentário
pudesse realmente ser compreendido nesta pesquisa.
Um olhar sobre
o documentário foi fundamental para construir
o alicerce da pesquisa, pois era preciso, antes
de analisar o gênero, conhecê-lo,
e as dificuldades foram acumulativas, por se
tratar de mais de cem anos de história
e consolidação teórica,
apesar de dinâmico como qualquer processo
cultural. Definidas as linhas teóricas
de maior preocupação deste trabalho,
especialmente a francesa, a norte-americana e
a inglesa, observou-se a história do documentário
desde seu surgimento e chegou-se aos dias de
hoje, com a convergência tecnológica,
para perceber em que sentido caminha a produção,
especialmente no Brasil.
Num segundo
momento, investigou-se sobre a Internet. Conhecer
o ambiente, assim como seus efeitos e, conseqüentemente,
a comunidade que a utiliza foi fundamental para
que a convergência tecnológica pudesse
ser discutida, e o estudo de caso pudesse ser
realmente observado. Esse momento da pesquisa
foi difícil por se tratar de uma temática
nova e, portanto, frágil em conhecimento
e conclusões a respeito. Com uma bibliografia
ainda escassa, os estudos sobre Internet se viram
em meio a teóricos fundamentais para essa
discussão, como McLuhan e seus conceitos
de ligação entre o homem e a máquina.
McLuhan (2005)
aborda em suas pesquisas uma visão futurista
para a época em que a obra foi escrita,
porém realista para os dias atuais, quando
o homem e a máquina realmente atuam como
se fossem somente um, uma extensão um
do outro. Neste momento da pesquisa, desenvolveu-se
uma discussão bastante ampla sobre a geração
multimídia, que exige da Internet uma
maior participação nos processos
comunicacionais, com a interatividade. Foi preciso
dedicar um significativo volume de estudos para
que conceitos pudessem ser compreendidos e interligados
a outros, e a discussão oferecesse dois
alicerces conceituais aos leitores leigos ou
mesmo contribuir com a compreensão das
análises do estudo de caso desenvolvido
no trabalho. Percebeu-se, nesta fase da pesquisa,
a tamanha contribuição de McLuhan
e suas “profecias” sobre o futuro
da sociedade com a tecnologia.
Porém,
a discussão neste campo foi longa, apoiando-se
em diversos outros teóricos, como Vilches,
Squirra e Lévy, que discutem entre si
ou revelam cumplicidades em conceitos e idéias
sobre o novo ambiente que surge: a Internet e
sua linguagem binária de zero e um, com
a presença ou ausência de impulsos
elétricos.
Lorenzo Vilches
(2003) apresenta em sua obra uma leitura bastante
rica sobre a convergência digital, contemplando
com maior ênfase a televisão digital,
apesar da mesma dividir espaço no campo
da convergência com a Internet e com os
diversos campos comunicacionais que tentam descobrir
as melhores formas de adaptação
no novo ambiente multimidiático e participativo.
Já Squirra (1998) apresenta dados e olhares
fundamentais para se compreender a Internet e,
claro, a convergência de hábitos,
mesmo sendo proveniente de um momento em que
pouco se conhecia sobre o ambiente, tanto no
mundo quanto no Brasil. Para complementar essas
duas visões, soma-se Lévy (1999),
que discute a sociedade com o novo ambiente cibernético
proporcionado pela Internet e suas ferramentas
comunicacionais.
A convergência
audiovisual
É
comum um novo processo sofrer barreiras para
ser implantado, pois sugere novas situações
e, conseqüentemente, a necessidade de adaptações
a elas. Isso tem ocorrido com a comunicação
desde a chegada da tecnologia digital, seja através
da Internet, seja pelos meios de registro de
imagens estáticas (fotografia) ou em movimento
(vídeo). Discussões são
alimentadas em congressos com o objetivo de tentar
compreender o destino desses temas, pois agora
é preciso conviver com novos suportes
tecnológicos e, conseqüentemente,
inovadores recursos. Squirra (2005) define a
convergência tecnológica como o
surgimento de novas oportunidades de ação.
Para o autor:
A convergência
tecnológica deve ser entendida como a
chegada de um vasto cenário de instrumentos
sobretudo digitais que desempenham -ou podem
desempenhar- funções técnicas
assemelhadas ou complementares. Nascida na área
tecnológica, logo recebeu amplitude com
o linguajar deslumbrado e futurista dos tecnólogos
comunicacionais e das empresas midiáticas.
Encontra-se hoje razoavelmente assimilada nos
distintos cenários científicos
e comerciais pela concordância de que
as tecnologias -sobretudo as da comunicação-
devem se enxergar, possibilitar conexões
e acoplagens e trocar dados entre si, permitindo
que os consumidores tenham pleno e fácil
acesso aos enlaces digitais que passaram a ser
disponibilizados. (SQUIRRA, 2005: 80)
As definições
de Squirra com relação ao real
entendimento do termo convergência tecnológica
estão diretamente ligadas às características
do site Porta Curtas, como será visto
adiante. Nele, o usuário escolhe o que
quer assistir dentre o acervo do site, e ainda
pode comentar o que achou da obra com a curadoria
do Porta Curtas ou mesmo com o diretor da obra.
Essas condições de não escravidão
de uma programação audiovisual
são comentadas por Squirra (2005), que
acredita numa alforria com a chegada da convergência
tecnológica.
A “mão
única” da emissão -com a
formatação unilateral dos seus
estilos e conteúdos- não permite
a seleção e muito menos a interação
com o que está sendo transmitido. Neste
mundo de autoritarismo e unidirecionamento programático-televisivos,
assiste-se ao que o dono da emissora (e seus
setores de marketing) entende ser bom para todos,
de forma massificada. No universo tecnológico
da máxima convergência, isto não
mais atrofiará os desejos já que
se antevê amplas possibilidades de pleno
atendimento das vontades individualizadas dos
usuários. (SQUIRRA, 2005: 83)
Porém,
é inevitável que momentos de convergência
sofram resistências, historicamente. Tal
resistência ocorreu com a chegada do som
sincrônico ao cinema, em 1929, ou mesmo
a sonorização e o filme colorido,
em 1939, apesar de uma reagente massificação
da mídia (LUCA, 2005:182). Com a televisão,
na década de 50, novas mudanças,
desta vez nos hábitos do público.
Acostumados a sentarem em confortáveis
poltronas em uma sala de projeção
com sua grande tela, os espectadores passaram
a assistir obras audiovisuais em suas salas,
com a comodidade de receber a diversão
sem custo, rompendo com os padrões até
então vigentes. Segundo Luca:
Se, como veículo
de comunicação, a televisão
viria a se firmar como mais uma alternativa
de transmissão de filmes, como alternativa
da exibição coletiva, ela representou
uma ruptura dentro do sistema tradicional da
indústria cultural. Primeiramente, a
exibição do filme passou a ser
dividida, mesmo que para um veiculo nascente
e de baixa qualidade. (LUCA, 2005: 191)
Novamente inovando,
a indústria da tecnologia lança
o vídeo-cassete, no final da década
de 70 (LUCA, 2005:194). Considerado o cinema
doméstico, ele veio a alterar novamente
o comportamento do espectador, agora acostumando-se
também a interagir com a programação,
definindo-a ele próprio. Esse era um grande
passo para alcançar o que tem-se hoje:
o computador pessoal, funcionando com tecnologia
digital, que oferece ao usuário/espectador
a oportunidade de definir a sua programação
e ainda armazenar suas obras preferidas.
Com a chegada
da tecnologia digital, houve uma expansão
dos meios de comunicação de massa,
além de sua aceleração,
tornando determinadas formas comunicacionais
instantâneas e acopladas a recursos e ferramentas
que facilitaram a comunicação,
como o e-mail. Hoje é possível
enviar dados, documentos, informações,
fotos ou mesmo vídeos por e-mail, e o
destinatário recebe instantaneamente,
substituindo, assim, a tradicional carta. Da
mesma forma, tornou-se possível delimitar
e monitorar uma gama de usuários de determinado
veículo. A publicidade e o jornalismo
tiveram de aprender a conviver com essa mudança,
descobrindo, inclusive, novas formas de operacionalizar
seus serviços.
Hoje é
inimaginável, como define Squirra (1998)
a existência de um jornalista ou publicitário
atuante no mercado que não conheça
um mínimo de recursos tecnológicos
relacionados ao computador pessoal ou mesmo à
Internet, pois desde o surgimento destes o mercado
foi adaptado ou selecionado. E, com a chegada
desses recursos, criticas foram dirigidas à
tecnologia, simultaneamente aos elogios. Como
defende Luca:
Se substituições
de aparelhos domésticos por modelos que
sucedam com concepções tecnológicas
que alteram a lógica analógica
pela digital são encaradas pelos consumidores
tradicionais como de difícil entendimento,
mais complexas elas se manifestam quando se
processam no âmbito das utilizações
profissionais. (LUCA, 2005:19)
Squirra (1998),
em seu livro Jornalismo Online, revela um contentamento
pela tecnologia oferecida na ocasião,
válido até os dias de hoje, quando
a convergência tecnológica está
mais presente no cotidiano. Como diz o pesquisador:
As fantásticas
conquistas tecnológicas na área
da informática têm proporcionado
crescentes – e cada vez mais rápidas
– condições de expansão
aos diversos meios de comunicação
de massa. Boa parte do globo está conectado
e isto proporciona aos meios eletrônicos
primazia na divulgação de eventos
e na conquista – a distancia – dos
espectadores. (SQUIRRA, 1998:7)
Da mesma forma
que Squirra demonstrou-se entusiasmado com relação
às inovações tecnológicas
conhecidas durante pesquisas internacionais,
outros teóricos, ou mesmo cidadãos
comuns, sem relações às
buscas do conhecimento, ficaram impressionados
com as constantes novidades tecnológicas
que surgiram. Porém, muitas dessas tecnologias
surgiram com tamanha rapidez e com tal teor inovador
que determinados grupos sociais tiveram dificuldades
para se acostumarem com elas, ou mesmo aceitá-las,
como ocorreu com a invenção da
prensa por Gutenberg, o cinema falado ou mesmo
a chegada da televisão.
Dentre as inovações
surgidas nos últimos anos, a que interessa
à pesquisa em questão é
a do campo do audiovisual. Uma delas, de grande
importância, relaciona-se com a transmissão
de dados via Internet. Segundo dados apresentados
por Squirra (1998: 43-44), cada segundo exibido
na televisão, o equivalente a 30 quadros
no cinema, são enviadas 240 megabits de
informação digital. Complementando
essas informações, Luca (2005:
60) apresenta dados referentes ao armazenamento
e à compressão de vídeos
digitalizados. Segundo ele, o MPEG-1 possui,
para vídeos padrão NTSC, uma resolução
de 352 linhas por 240 pontos a 30 quadros por
segundo. Já o MPEG-2 apresenta soluções
mais avançadas de captura e compressão
de imagens, podendo transformar duas horas de
vídeo de alta resolução,
o equivalente a 144 GB de memória, em
apenas 4,7 GB de memória, produzindo,
assim, uma compressão equivalente a 32:1.
Outra inovação
com relação ao audiovisual na era
digital está na transmissão de
dados. Segundo Luca (2005), o crescente desenvolvimento
da tecnologia de transmissão de dados
tem provocado um aumento de aquisição
de obras audiovisuais, piratas ou não,
através da Internet. E apresenta dados
contundentes:
Jack Valenti,
o então todo-poderoso presidente da MPA
(Motion Picture Association), instituição
que congrega todos os setores da indústria
cinematográfica, expôs no Showest
de 2004, em seu discurso de aposentadoria do
cargo ocupado por quase trinta anos, que a atividade
está em risco de extinção,
caso não ocorra um rápido e efetivo
esforço de conscientização
do consumidor, estimando que um número
intermediário entre 400.000 e 60.000
filmes está sendo “baixado”
ilegalmente na Internet. (LUCA, 2005: 78)
Tais números
revelam uma significativa mudança nos
hábitos dos admiradores de obras audiovisuais,
e isso graças a uma inevitável
convergência tecnológica do analógico
para o digital. Porém, essas novas plataformas
possuem uma identidade histórica com o
usuário. Como argumenta Vilches (2003:17),
“essa nova fronteira, que alguns chamam
de ciberespaço, é um novo espaço
de pensamentos e de experiências humanas,
formado pela coabitação de antigos
meios e novas formas de hiper-realidade”.
O Porta
Curtas
No dia 8 de abril de 2000 abria-se o caminho
para o surgimento do site Porta Curtas, especializado
em disponibilizar curtas-metragens na Internet.
O que motivou inicialmente o projeto foi uma
encomenda da UOL – Universo Online, o maior
provedor de conteúdo do Brasil, para a
empresa Synapse Produções, especializada
em comercializar produções nacionais
e internacionais audiovisuais para canais de
televisão. Na ocasião, em homenagem
ao ex-goleiro Barbosa, falecido naquele período,
o provedor de conteúdo e acesso acertou
com a Synapse a veiculação online
do curta-metragem Barbosa, dirigido por Ana Luíza
Azevedo e o premiado Jorge Furtado, diretor de
Ilha das Flores, por uma semana. O valor investido
pela UOL foi de R$1.000,00, exibindo um link
logo abaixo do lead da matéria (1º
parágrafo). O resultado impressionou Julio
Worcman, representante da Synapse, que se encantou
com as 27.654 exibições contabilizadas
nos sete dias de exposição1.
Como citado no projeto oficial do Porta Curtas2,
“comprovou-se assim o potencial da Internet
para difusão do curta-metragem brasileiro,
e a grande vantagem de se explorar sua distribuição
através de promoção localizada
e segmentada”.
Logo após
a experiência, os idealizadores do projeto
Porta Curtas, o jornalista Julio Worcman e o
cineasta e especialista em Internet Bruno Vianna,
começaram a pensar no projeto como algo
maior, que pudesse oferecer ao internauta cultura
e entretenimento gratuitamente, tudo financiado
por patrocinadores que teriam seu retorno devido
à alta visibilidade da marca através
das exibições, provenientes de
acessos nacionais ou internacionais3.
A partir da
experiência relatada anteriormente [a
comercialização com a UOL], refletindo
sobre maneiras de potencializar a difusão
de filmes curtos via Internet, e acompanhando
experiências diversas ao redor do mundo,
chegamos ao projeto Porta Curtas, um poderoso
instrumental de marketing para atrair e instigar
o espectador em potencial ao contato sistemático
e participativo com o curta-metragem brasileiro.
Para eles, a
visibilidade dos curtas-metragens poderia estar
em diversos momentos através de links,
desde uma matéria sobre os indicados ao
Oscar de melhor curta-metragem até em
sites específicos e segmentados, como
de história, onde seriam ofertadas exibições
sobre a temática discutida no texto.
Segundo dados
fornecidos pelo Porta Curtas4,
existem atualmente 75.902 usuários cadastrados,
sendo 55.389 assinantes do informativo Curta-Clube.
Até o momento, o site conta com um total
de 5.702.767 exibições de curtas,
a maior parte acessada diretamente do Porta Curtas
(3.535.716). Foram enviadas 104.161 obras por
e-mail e realizados 122.492 votos aos curtas
pelos usuários. Dentre as pesquisas de
busca respondidas aos usuários, um total
de 5.040.012, destacam-se a busca por obra completa
pelo nome, somando-se 4.132.159 consultas, seguida
das buscas genéricas, com 780.576 consultas.
Foram realizados 62.937 downloads de roteiros
para leitura, o que revela interesses diversos
pelo site além do produto audiovisual.
Hoje, estão disponíveis par consulta
os dados de 3.880 curtas. Deste total, estão
disponíveis para exibição
410 obras divididas nos gêneros animação,
documentário, experimental e ficção.
O site Porta
Curtas possui hoje uma equipe de dez pessoas
e seus dados estatísticos são auditados
pela empresa Darse & Arimatéia Auditores
LTDA. O patrocínio continua a cargo da
Petrobras Cinema, departamento da estatal responsável
pelo apoio a projetos culturais de caráter
audiovisual.
Outra estatística
que demonstra bons resultados no projeto refere-se
ao papel pedagógico do site Porta Curta.
Segundo o mais recente relatório fornecido
ao patrocinador5,
já somam-se 24.829 acessos pedagógicos,
com a adesão de 200 novos cadastros de
professores no mês de abril de 2006.
Além
de oferecer obras audiovisuais para exibição
gratuita, o site Porta Curtas disponibiliza aos
usuários indicações de diversos
sites que discutem a mesma temática audiovisual
e notícias sobre o assunto. Também
possibilita que os vídeos disponíveis
em seu acervo possam ser exibidos por outros
sites através de recursos hipertextuais.
A atual
exibição via Internet
A transmissão de dados via Internet vive
um rápido processo de desenvolvimento,
com novas tecnologias surgindo a cada momento.
Segundo Luca (2005: 67), “a melhoria das
características das memórias de
computação, principalmente no que
se refere à capacidade de armazenamento
de dados, tem ocorrido de forma rápida
e gradativa”. Porém, os recursos
tecnológicos disponíveis atualmente
para o usuário comum, pertencente à
grande massa de conectados, ainda são
acompanhados de limitações de memória
e transmissão de dados, assim como as
tecnologias disponíveis para estes no
que se refere a equipamentos de visualização
(monitores) e utilização.
Com a pesquisa,
observou-se uma relação de características
que prejudicam a qualidade de acesso e exibição
dos vídeos disponíveis no site
Porta Curtas. Tais problemas podem, em um curto
espaço de tempo, ser solucionados. Porém,
no momento de desenvolvimento desta pesquisa
tais limitações existem. Limitações
no que se refere à qualidade de imagem
ou mesmo na transmissão de dados via tecnologia
streaming.
Sabe-se que
a qualidade de definição das imagens
transmitidas pela Internet a usuários
da grande massa possui uma limitação
de definição tanto do áudio
quanto do vídeo por questões de
tecnologia disponível. O vídeo,
para que o arquivo possua uma extensão
menor, possui uma qualidade mais baixa, o que
provoca uma pigmentação ou um embaçamento
da imagem. O áudio, por sua vez, sai muitas
vezes com a qualidade diminuída e de certa
forma com a compreensão prejudicada pelos
mesmos motivos do vídeo. As pesquisas
sobre transmissão de vídeos pela
Internet não são recentes e acompanham
o desenvolvimento e a popularização
da Internet. No Brasil, uma das primeiras experiências
sobre transmissão de vídeo foi
realizada pelo jornal O Estado de São
Paulo, com exibição de curtas-metragens
pela Internet. Segundo Luca (2005: 67), “a
todo o instante, eram anunciados testes operacionais
da exibição de filmes na Internet,
seja na Inglaterra, na Suécia e ou nos
Estados Unidos. Até no Brasil anunciava-se
a exibição de curtas-metragens
no site Estadao.com.br”.
Outro problema
de transmissão refere-se à plataforma
disponível. Apesar do sistema operacional
Windows ocupar a maior parte do mercado e do
Porta Curtas oferecer versão do Windows
Media Player para computadores com o sistema
operacional Mac OS, percebe-se uma tendência
inversa ao mercado internacional, que tem adotado
vídeos em plataforma Quicktime, por possuir
melhor qualidade audiovisual, apesar de uma extensão
maior que a do Windows Media Player num mesmo
arquivo.
Por fim, percebe-se
que determinados vídeos apresentam uma
estética destinada às telas do
cinema ou da televisão, diferentes das
telas de computador. Algumas obras exploram o
uso de legendas e créditos com tamanho
que se tornam ilegíveis no monitor de
computador, e isso em alguns casos compromete
o resultado final da exibição.
Opiniões de quem acessa
A proposta da pesquisa não abrange análise
de recepção, mas considerou-se
que um breve relato de um pequeno grupo de entrevistados
sobre o Porta Curtas poderia contribuir com o
resultado desta e a elaboração
de pesquisas futuras. Para tanto, foram apresentadas
cinco perguntas fechadas, mas com espaço
para comentário, se considerado oportuno.
Para que os entrevistados pudessem responder
às questões, foi preciso que os
mesmos assistissem obras escolhidas aleatoriamente
no acervo do site Porta Curtas. Com essa experiência,
as respostas foram enviadas, revelando algumas
características consideradas problemáticas.
Apesar dos problemas
levantados por essa pesquisa, apresentados anteriormente
no inventário do acervo, percebe-se nos
dados estatísticos divulgados nos relatórios
do site Porta Curtas que diversas opiniões
de usuários contrariam a existência
dessas limitações, o que ocorreu
também na pesquisa aplicada aos 20 alunos
do curso de pós-graduação
a distância Máster em Novas Tecnologias
da Informação e da Comunicação,
participantes da disciplina Produção
e Transmissão de Cinema e Vídeo
I, proposto na metodologia. O grupo de alunos
do curso de pós-graduação
é composto por cinco jornalistas, dois
publicitários e 13 engenheiros de computação.
O site Porta Curtas recebeu elogios da maioria
dos 20 participantes da pesquisa sobre qualidade
de transmissão das obras audiovisuais.
Dos entrevistados, apenas três participantes
não utilizavam banda larga para conexão
à Internet, e destes apenas um entrevistado
reclamou sobre qualidade de conexão discada,
o que representa 15% de descontentamento com
relação à conexão
ao site Porta Curtas.
Outro questionamento
apresentado ao grupo abordou a qualidade audiovisual
das obras, tendo em vista as limitações
tecnológicas existentes atualmente. Apesar
de todos comentarem sobre a limitação
da qualidade, comparando a exibição
oferecida com a da televisão convencional,
apenas dois entrevistados consideraram a qualidade
prejudicial, o que representa apenas 10% do universo
entrevistado.
O terceiro questionamento
referiu-se ao acervo apresentado. A aprovação
foi uniforme, atingindo 100% dos entrevistados,
que comentaram, inclusive, que nunca poderiam
ter acesso a tais obras pelos meios convencionais
(cinema, televisão e vídeo-locadora),
mesmo para os que tiveram opiniões negativas
nas duas perguntas anteriores.
O quarto questionamento
sobre o site Porta Curtas abordou as ferramentas
disponíveis no mesmo. Apesar de importantes,
dos 20 entrevistados, 11 disseram que as opções
de acesso existem em excesso, e que isso prejudica
a escolha e a busca. Tal opinião contrária
à gama de ferramentas de busca oferecidas
representou 55% dos entrevistados, que responderam
considerar a qualidade ruím.
Por fim, a quinta
pergunta dirigida aos participantes da pesquisa
on-line referiu-se á importância
do gênero documentário na Internet
como ferramenta pedagógica. O resultado
foi diversificado, porém a maioria colocou-se
a favor do documentário como recurso pedagógico
na Internet. Dos 20 entrevistados, três
consideraram a Internet como um veículo
limitado e para alguns, com a observação
de que a tecnologia não está disponível
para todas as escolas, o que transforma-a em
uma ferramenta ineficaz pedagogicamente. O resultado
deste questionamento representou 15%, contra
85% a favor do gênero documentário
na Internet como recurso pedagógico. Vale
ressaltar que o grupo participante da entrevista
não relaciona-se profissionalmente com
educação, tampouco academicamente.
Trata-se de um grupo heterogêneo no que
diz respeito à formação
acadêmica, porém todos atuam no
mercado de trabalho nas áreas práticas
de suas profissões, não possuindo,
assim vivencia pedagógica.
Conclusão
O resultado da pesquisa aplicada ao grupo,de
20 estudantes, formado quase que em sua totalidade
por profissionais não-ligados do segmento
de produção audiovisual, avaliou
o Porta Curtas de forma semelhante aos elogios
apresentados pelo site em relatórios específicos
(anexos à pesquisa). Percebeu-se, porém,
que 55% dos entrevistados considera as ferramentas
de busca ineficazes por sua exagerada quantidade
de filtros. Isso, de fato, pode ocorrer, pois
determinados filtros disponíveis são
direcionados apenas a um pequeno grupo, o que
pode vir a confundir o usuário comum.
Através
da pesquisa, concluiu-se que o documentário
pode ser exibido na Internet, apesar das limitações
tecnológicas existentes atualmente. Tais
limitações, porém, devem
ser solucionadas num curto espaço de tempo,
assim como diversos outros problemas de cunho
tecnológico (LUCA, 2004). Percebe-se,
também, que a exibição de
obras no monitor de computador pode não
ser desgastante quando se trata de curtas. Nestes
casos, o tempo de permanência em frente
ao monitor passa a se dividir em curtos espaços
de tempo. As estatísticas apresentadas
nos relatórios do Porta Curtas apresentam
o tempo médio de 18,36 minutos de permanência
no site para cada usuário, o que determina
a exibição de uma ou duas obras
numa seqüência única. Talvez
seja esse o tempo médio que um usuário
suporta para assistir a uma obra audiovisual
no computador. Porém, com a criação
de obras audiovisuais interativas, esse período
de permanência pode aumentar, pois será
atendida uma exigência cada vez maior entre
os usuários, que refere-se à interatividade.
Deve-se, ainda, observar que os dados apresentados
referem-se a levantamentos amplos, em que não
se conhece o perfil do usuário, e que
uma nova geração aproxima-se dos
acessos ao Porta Curtas: a geração
participativa.
Contudo, a tendência
da comunicação é a convergência
de ambientes e a Internet não se limita
a computadores conectados, mas também
a aparelhos multimidiáticos que podem
oferecer num só espaço diversas
ferramentas, dentre elas a da navegação.
Com isso, a exibição dos documentários
disponíveis no site Porta Curtas poderão
num curto espaço de tempo, estar ao alcance
dos usuários do futuro Sistema Brasileiro
de Televisão Digital através do
controle remoto de uma televisão com conversor,
ao menos. Com isso, a qualidade de áudio
e a limitação de legenda passarão
a inexistir.
Vale ressaltar
que no momento da conclusão deste trabalho,
um novo ambiente para hospedagem e exibição
de documentários na Internet ganhava força:
o site Youtube6,
que reúne diversos documentários
em seu acervo, gratuitamente. Nele, qualquer
usuário previamente cadastrado pode hospedar
vídeos de até 10 minutos de exibição,
com o máximo de 100 Mb, mas a maioria
das obras possui duração de 4 minutos.
Na conclusão deste, o Youtube ganhou notoriedade
graças às suas estatísticas,
com um total de 100 milhões de vídeos
exibidos diariamente, o equivalente a quase 3
bilhões de exibições por
mês, em todo o mundo. Tais dados justificam
futuras pesquisas relacionadas ao tema, pois
o documentário tende a mudar e a ganhar
força com esse novo espaço de exibição.
Notas:
1
Dados publicados no projeto Porta Curtas, disponibilizado
no site da empresa em
(http://www.portacurtas.com.br/relatorios/files/portacurtas_3.pdf).
Acessado em 07/07/2006.
2 Idem, p.02.
3 Dados publicados
no projeto Porta Curtas, disponibilizado no site
da empresa em
(http://www.portacurtas.com.br/relatorios/files/portacurtas_3.pdf).
Acessado em 07/07/2006.
4 Dados publicados
na estatística on-line do serviço
Porta Curtas. Disponível em (http://www.portacurtas.com.br/estatisticas1.asp).
Acessado em 07/07/2006.
5
Dados publicados no relatório estatístico
de 1 de dezembro de 2005 a 31 de março
de 2006. Disponível em (http://www.portacurtas.com.br/relatorios/2006_1/5-aplicabilidadespedagogicas/5-3-resultados.htm).
Acessado em 07/07/2006.
6Disponível
em (http://www.youtube.com).
Acessado em 14/09/2006.
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Mtro.
Denis Porto Renó
Professor da Universidade
Metodista de São Paulo. Membro do
grupo de pesquisa Comtec e da Red INAV, Brasil.
Dr. Sebastião Carlos de Morais Squirra
Diretor da Faculdade de Comunicação
Multimídia da Universidade
Metodista de São Paulo e coordenador
do Programa de Pós-graduação
da Umesp, Brasil. |