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INTRODUÇÃO

Por Betania Maciel
Número 60

Sejam bem-vindos à edição especial da Revista Razón y Palabra - Teoria da Folkcomunicação !

Neste número temático, vários pesquisadores desta inovadora disciplina, a Folkcomunicação, e de disciplinas correlatas, provenientes em sua maioria do Brasil, apresentam o panorama teórico e metodológico da primeira teoria brasileira das Ciências da Comunicação. Criada na década de 60 pelo teórico, romancista e jornalista Luiz Beltrão (Olinda, 1918-1986), a Folkcomunicação tem como objeto os procedimentos comunicacionais através dos quais as camadas excluídas da sociedade, principalmente aquelas marginalizadas, por meio da cultura popular, do folclore e dos chamados "agentes e meios populares de informação", expressam seus fatos e idéias, em contraposição à comunicação de massa industrializada e massificada, estabelecendo uma influência em sentido bidirecional.

Nos artigos que apresentamos nesta edição, portanto, exploraremos na primeira parte o desenvolvimento histórico da teoria de Beltrão, a partir do contexto de seu surgimento no período que compreende as décadas de 50 e 70 no Brasil com a contribuição de José Marques de Melo, Maria Cristina Gobbi & Juliana Betti e Tâmara Brandão. A segunda parte trata da conexão do pensamento seminal de Beltrão e outros teóricos da Comunicação como Habermas e Gilberto Freyre, com o aporte de Heitor Costa Lima da Rocha e Antônio Teixeira Barros.

Na terceira parte analisamos os procedimentos teóricos e metodológicos para compreender o funcionamento das estratégias e enunciações, dos discursos, da produção e recepção de suas manifestações dentro do objeto folkcomunicacional. Contribuem Osvaldo Meira Trigueiro, Betania Maciel & Nelson Varela do Nascimento Neto, Pedro Paulo Procópio de Oliveira Santos, Mayra Cristine de Melo Waquim & Meiriédna Queiroz Mota e Maria Érica Oliveira.

A perspectiva que o ciberespaço e a conjunção com outras disciplinas e das correntes teóricas da contemporaneidade, incluindo o foco na exclusão social e desenvolvimento local, impõe ao estudo são aprofundados na quarta e última parte, com os trabalhos de Marcelo Sabbatini, Andréa Moreira Gonçalves de Albuquerque & Augusto Aragão de Albuquerque e Irenilda Souza Lima & Ana Paula Gomes da Silva.

Finalmente, Carlos Mauricio Arroyo Gonçalves da Universidad Católica Boliviana San Pablo, Bolívia, brinda-nos com a resenha do livro Folkcomunicação na Arena Global: Avanços Teóricos e Metodológicos (2006), que traça o panorama geral da disciplina.

Sendo uma teoria preponderantemente brasileira, gostaríamos portanto, de introduzir ao leitor internacional e especificamente ao hispano, alguns fatos sobre esta corrente teórica dos estudos da Comunicação Social, pertencente legítima da Escola Latino-Americana. Considerando como pedra fundamental de sua fundação a tese de doutorado defendida por Luiz Beltrão em 1967 (trabalho censurado pela ditadura militar brasileira e que somente veio a ser publicado em 2002, devido ao esforço do professor Antonio Hohlfeldt), a Folkcomunicação inicia sua trajetória percorrendo as manifestações populares do Nordeste do Brasil, destacando a literatura de cordel, o repente, as poesias e festas populares e religiosas. Este pensamento folkcomunicacional será resgatado e continuado por vários dos alunos e discípulos de Beltrão, notadamente José Marques de Melo, Roberto Benjamin e Joseph Luyten ( in memorian ), que irão disseminar e consolidar o campo teórico. Por sua vez, estes pioneiros foram capazes de inspirar uma segunda geração de pesquisadores, muitos dos quais compõe esta edição.

Neste processo histórico, destacamos a institucionalização da pesquisa em Folkcomunicação, através da criação do ciclo de Conferências Brasileiras de Folkcomunicação (FOLKCOM), que completa sua décima edição consecutiva neste ano de 2007 e a partir de 1998 a criação da Rede de Estudos e Pesquisa em Folkcomunicação, amparada pela Cátedra UNESCO de Comunicação na Universidade Metodista de São Paulo. A rede tem como objetivo angariar e suportar a pesquisa e reflexão acadêmica no campo, estudando a cultura popular e o folclore como um processo permanente de comunicação e a mídia como instrumento. Da mesma forma a Folkcomunicação encontra seu espaço de reflexão em Grupos de Trabalho dentro da INTERCOM - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e da ALAIC - Associação Latino-Americana de Ciências da Comunicação. Finalmente, destacamos a Revista Internacional de Folkcomunicação , proposta de divulgação da publicação eletrônica da Universidade Estadual de Ponta Grossa, vinculada à Rede Folkcom.

Porém, existe ainda um largo caminho a percorrer na luta para que a Folkcomunicação seja aceita plenamente pela academia. Segundo o professor José Marques de Melo

a resistência acadêmica a novos campos da pesquisa faz parte da trajetória conservadora das nossas universidades. As culturas popular e massiva, mesmo depois de meio século da presença dos estudos de comunicação no Brasil, ainda continuam a ser vistas com menosprezo por setores universitários geralmente ancorados em postulados dogmáticos. Isso, contudo, não nos deve atemorizar. Cabe aos pesquisadores de Folkcomunicação, como de outras disciplinas conexas, enfrentar as resistências no plano teórico, argumentando, além de avançar na produção de conhecimentos capazes de demonstrar a pertinência dos referenciais escolhidos. A legitimação dos novos campos do saber demanda tempo, competência e perseverança. Quanto mais se avoluma e adquire densidade um novo segmento investigativo, é natural que suscite reações, especialmente daqueles que se sentem ameaçados ao constatar que perderam a hegemonia intelectual. Estamos vivendo uma conjuntura marcada pelo pluralismo teórico e metodológico, onde há espaço para todas as correntes de idéias.

Entre as várias atividades da Rede Folkcom e de seus participantes, destacamos a preocupação com definir previamente um recorte de estudo dentro do âmbito da Folkcomunicação. A finalidade de tal postura está em estimular a reflexão e produção acadêmica com referenciais e parâmetros comuns, além de proporcionar uma concentração mais sistematizada em determinadas temáticas de acordo com os aportes contextuais da contemporaneidade. Notadamente, também observamos a renovação da proposta teórica, com a inclusão dos grupos urbanos e culturalmente marginalizados, da comunicação dos imigrantes, do multiculturalismo e do fluxo de mensagens e de identidades frente à globalização, e finalmente, da comunicação digital e impacto da Internet dentro de seu objeto de estudo.

Os pontos que norteiam as ações da Rede Folkcom estão fincados no delineamento da Folkcomunicação definindo um arcabouço teórico metodológico compreendendo seu contexto a partir da localização do ser humano entendido como ser social: na festa, na culinária, no artesanato, na música, na religião, na arquitetura, no trabalho, etc . e a partir daí a realização de estudos documentais e empíricos que identifiquem e descrevam os processos e fenômenos folkmidiáticos, seus agentes codificadores, seus canais de expressão, o tipo de mensagem, e o público ao qual se destina.

Em sua atual gestão, a Rede Folkcom tem como objetivo fortalecer esta rede de pesquisa através da captação de associados e do fornecimento de serviços diferenciados a seus pesquisadores, ampliando os limites teóricos, práticos e metodológicos dos estudos de Folkcomunicação. Em nosso horizonte, vislumbramos o estabelecimento de conexões com os estudos das culturas populares, desenvolvimento local e inclusão social e inclusão digital.

Neste sentido, destacamos a criação do Núcleo de Pesquisa através do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (POSMEX) da Universidade Federal Rural de Pernambuco para desenvolver pesquisas temáticas inter-regionais, com foco no uso das mediações culturais com o objetivo de promover o desenvolvimento local junto a cooperativas, movimentos sociais, assentamentos, comunidades indígenas e demais atores sociais tradicionalmente excluídos do processo de comunicação, utilizando além disso, cortes de análise geracionais e de gênero.O estudo das culturas populares através de suas expressões folclóricas busca fortalecer as condições materiais e imateriais não somente de forma imediata, mas promover um programa de auto-sustentabilidade em longo prazo para estas comunidades.

Em relação ao mencionado ponto da inclusão digital, também faz parte da proposta da Rede Folkcom, de forma similar à iniciativa da revista Razón y Palabra , utilizar amplamente as tecnologias de informação e comunicação na mediação destes processos, buscando o trabalho colaborativo e agilizando a comunicação científica entre seus membros e pesquisadores. O leitor é convidado a conhecer nosso portal na Internet, no endereço eletrônico http://www.redefolkcom.org , para conhecer mais, e inclusive participar, desta empreitada intelectual.

Agradeço imensamente, portanto, o convite do professor Octavio Islas para coordenar a edição deste número e o espaço privilegiado concedido para que possamos promover o intercâmbio de subsídios com os pesquisadores ligados a Rede Folkcom com pesquisadores de outros países e correntes de pesquisa, em âmbito ineternacional. A publicação este número especial da revista Rázon y Palabra , nos permite trespassar as fronteiras brasileiras da contribuição folkcomunicacional, e desejosamente, do estabelecimento de novos vínculos e do recebimento de novos enfoques teóricos e metodológicos a partir da contribuição do pensamento comunicacional latino-americano.

Betania Maciel
Doutora em Comunicação Social, Mestre em Comunicação Rural ,- linha de pesquisa Folkcomunicação, Máster em Ciência, Tecnologia e Sociedade: Comunicação e Cultura pela Universidade de Salamanca, professora do POSMEX - Programa de Mestrado em Extensão Rural e Desenvolvimento Local - UFRPE e Presidente da Rede Folkcom-Rede de Estudos e Pesquisas em Folkcomunicação - Cátedra UNESCO de comunicação para o desenvolvimento regional.

 

 

 

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