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Por Adilson Cabral
Número 39
O
crescimento exponencial da adoção do software livre
em universidades, empresas e no setor público aponta para
uma demanda muito maior, que é a necessidade de expansão
desse modelo no âmbito doméstico, possibilitando também
transações comerciais entre as pessoas. Uma pesquisa
desenvolvida com 238 empresas, realizada pelo TechLab, mostrou que
78% delas já utilizam o sistema operacional Linux em seus
servidores, mas indicadores de crescimento do uso doméstico
do software livre ainda são necessários para credenciar
sua verdadeira expansão.
Por se provar cada
vez mais como um modelo que proporciona maior economia, afastado
o fantasma do custo alto da manutenção que seria mais
dispendioso e trabalhoso que o preço pago ao software proprietário,
as diversas organizações que o utilizam envolvem os
usuários nesse novo sistema, mas seus recursos e possibilidades
não são tão bem aproveitados. Além disso,
fora do contexto organizacional, o software livre não tem
tanta aceitação como as soluções proprietárias,
pois a publicidade em torno desse sistema é bastante envolvente
e há, nos diversos setores, uma rede de produtos e serviços
que ainda não dialoga com o software proprietário,
já instalado nas máquinas e assimilado pelos usuários
domésticos.
Por outro lado, como
sistema tecnológico, o software livre oferece mais vantagens
ao usuário: possibilidade de manipulação do
software para o atendimento das necessidades dos usuários,
com base no código aberto que o constitui; utilização
e redistribuição de cópias, sem custo adicional;
compartilhamento das versões originais e modificadas pelos
usuários e, em conseqüência dessas possibilidades,
o respeito às adequações culturais de cada
contexto, seja regional, cultural ou relacionado às atividades
para as quais venha a ser adotado. Mas, a qual realidade, a quem
efetivamente se aplicam essas possibilidades? Aos usuários
finais? Muito provável que não!
O desafio que se coloca
para uma possível e desejada disseminação do
software livre no meio doméstico está na capacidade
de atender a determinadas necessidades já contempladas na
facilidade do acesso ao software proprietário: ser de utilização
fácil e segura e oferecer suporte técnico de qualidade,
com facilidade de constante atualização na medida
da disponibilidade. A existência de soluções
de software livre baseadas nas utilizações mais comuns
realizadas por usuários domésticos, tais como editar
textos e imagens, navegar na Internet, tocar MP3 e vídeos,
se comunicar em programas como o ICQ, etc. E essas soluções
serão tão melhores quanto puderem ser oferecidas com
base em sistemas operacionais baseados em software livre, não
a partir de soluções que funcionem a partir da instalação
do Windows.
A ênfase dos
técnicos mais relacionados com o software livre chega a beirar
o fanatismo dogmático. Embora imbuídos de argumentos
bem fundamentados e até mesmo precisos, contar com adesões
mais amplas na sociedade significa contemplar princípios
dos mais caros ao desenvolvimento da Internet que são a interatividade
e a amigabilidade. Em entrevista concedida à Folha de São
Paulo, em 8 de maio de 2002, o presidente da Linux International
John "Maddog" Hall disse que "quem usa computador
em casa pede ajuda para os vizinhos, para os filhos ou amigos da
igreja", mas que a densidade desse mecanismo ainda não
se formou para o Linux e essa realidade não é teão
diferente ainda hoje, dois anos depois.
Disposição
da sociedade civil para assumir o software livre é o que
não falta, mas também, no que diz respeito a trabalhos
que precisam ser feitos com base na articulação das
pessoas, o software livre precisa ser adotado em conjunto com modelos
já existentes, até para que a consciência de
sua eficácia seja estabelecida pela contraposição,
não pela imposição.
Dessa forma, mais do
que de argumentos técnicos para impulsionar a adoção
de software livre nos mais variados espaços, os partidários
desses sistemas necessitam cada vez mais de argumentos de base social
para conquistar mais adeptos e, sem dúvida, várias
pistas já estão sendo desenvolvidas nos vários
fóruns e encontros promovidos pela comunidade. Entretanto,
para além do círculo técnico e corporativo,
o ambiente doméstico se pauta por uma série de outras
demandas que precisam ser levadas em conta na hora de modificar
o sistema, principalmente em relação ao costume com
um modelo que até pode dar problemas, mas não decepciona.
Imagem que vem se modificando com a quantidade de vírus e
derivados que circulam recentemente na Internet.
São de excelente
iniciativa, portanto, projetos governamentais como o softwarelivre.gov.br,
que visa disseminar esforços e bons projetos em software
livre na esfera federal, estadual e municipal ou ainda projetos
de organizações da sociedade civil, como o Somos@telecentros
(http://www.tele-centros.org/), que tem como proposta pesquisar
as iniciativas e histórias dos telecentros para promover
um encontro permanente de colaboradores e desenvolver metodologias
de uso.
Projetos como este
necessitam contemplar, em escala mais ampla quanto possível,
a sociedade civil como disseminadora do software livre, como interessadas
e envolvidas na capacidade de se apropriar da tecnologia para construí-la
também, utilizando-a em favor de seu próprio desenvolvimento.
Para isso, desde já podemos afirmar como ponto de partida
e pressuposto básico dessa atuação, um princípio
que bem pode servir como lema de campanha explicativa em larga escala:
inclusão digital com software proprietário: não
obrigado!
Prof.
Adilson Cabral
Coordenador do Informativo
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