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Por Adilson Cabral
Número 39
O direito
de comunicar é um dos temas que as organizações
da sociedade civil consideram de fundamental importância para
concretizar a sociedade do conhecimento, concentrando especial expectativa
nas negociações que se travaram em Genebra. No entanto,
os relatos e informações que chegaram a respeito do
que foi negociado e acertado não foram animadores. São
muitas as implicações envolvidas nos interesses de
governantes e empresas, que colocam em xeque não só
os interesses particulares de seus negócios e domínios,
como também a própria essência de uma Cúpula
Mundial capitaneada pela ONU que se pretenda tripartite.
Um primeiro aspecto
a se salientar na diversidade de temas relacionada ao direito de
comunicar é a capacidade de expressão por parte de
todos os povos. Essa necessidade tão básica quanto
respirar está relacionada à idéia de que a
comunicação é um direito e como tal deve ser
compreendida, pois diferente da respiração, onde o
ar que respiramos não é privatizado, existem sérias
limitações ao potencial comunicacional dos povos nos
vários lugares do planeta.
Desde quando começaram
a trabalhar nessa perspectiva, organizações da sociedade
civil como a AMARC - Associação Mundial das Rádios
Comunitárias, a APC - Associação para o Progresso
das Comunicações, a ALAI - Agência Latino-americana
de Informação e a WACC - World Association for Christian
Communication, dentre outras, vêm buscando firmar junto à
sociedade civil e expandir para a sociedade em geral a idéia
de que, tal como qualquer outro direito, se entendemos a comunicação
como tal, este precisa ser reivindicado e exercido através
da expressão da diversidade social e cultural dos povos,
da afirmação de meios próprios de comunicação
e da quebra dos monopólios de empresas de comunicação,
cultura e entretenimento.
Segundo Sean O Siochrú,
coordenador da Campanha CRIS, apesar de tanto a declaração
intergovernamental como a da sociedade civil assinalarem a idéia
de que "a comunicação é um processo social
fundamental, uma necessidade humana básica e a base de toda
a organização social", a Declaração
da Sociedade Civil é a que mais avança nas propostas
de como podemos construir uma sociedade da informação
e da comunicação que diga respeito às pessoas.
Outra temática
não menos importante que está relacionada ao avanço
na sociedade da informação e do conhecimento diz respeito
à qualidade dos serviços implementados, sua devida
fiscalização pelos órgãos competentes
e sua mais do que necessária cobrança por parte da
sociedade. Sendo que, para isso, torna-se necessário compreender
que bens e serviços se adquirem e que benefícios se
podem esperar deles, para que se possa efetivamente reclamar sua
melhor utilização por parte de quem os produziu, distribuiu
ou vendeu.
O movimento pela qualidade
no consumo não deve ser tomado como fim em si mesmo, mas
também não é por isso que deva ser relegado
da pauta de reivindicações, pois tem um enorme papel
de agregar pessoas que, como consumidoras, precisam satisfazer também
seus desejos e necessidades, que nesse caso estão relacionadas
também à consciência em relação
aquilo que adquirem. E nessa se revela uma outra constatação
que não é somente o fato de termos uma tecnologia
disponível que faz com que tenhamos bens e serviços
relacionados a ela à disposição, mas também
a qualidade da oferta determina o quanto se consolida a sociedade
da informação e do conhecimento num determinado contexto.
Diante dos grandes
desafios que a sociedade civil terá pela frente, demanda-se
igualmente também um plano de ação da sociedade
civil com base em sua declaração de princípios
tida como visionária por parte de seus signatários.
Nesse sentido, colocamos aqui algumas pistas para seu delineamento,
que visam contribuir para o debate e conspirar para que esse movimento
se expanda e se materialize cada vez mais, cativando representantes
de todos os povos e todos os setores:
- dar visibilidade
a idéias positivas (a favor de determinados projetos ou
processos, não contra ações governamentais
ou privadas), que sejam resultados de consensos mínimos
entre organizações da sociedade civil e possam ser
de fácil assimilação tanto para o entendimento,
quanto para o engajamento de mais e mais pessoas.
- partir de ações que convidem à reflexão
e não de reflexões ou propostas que fundamentem
práticas, pois as práticas têm a capacidade
de engajar e envolver, sendo capazes de cativar para evidenciar
melhor uma situação complexa, num primeiro momento,
que é o entendimento da comunicação como
um direito.
- avançar na visibilidade de metodologias de uso de meios
de comunicação (rádio, TV, impressos, digitais
e via Internet), que incorporem não só aspectos
relacionados à linguagem desses meios, como também
o conhecimento técnico para sua implementação
e de desmistificação dos meios comerciais.
Essas contribuições
ao debate são apenas idéias simples, mas por isso
mesmo demandam especial atenção de seus articuladores,
pois fariam enorme diferença na relação com
a sociedade em geral, no que diz respeito à capacidade de
apreensão de uma pauta tão ampla de valores a serem
transformados e estabelecidos, ainda mais diante de uma mídia
cada vez mais concentrada e profissional, que atinge corações
e mentes desavisados com extrema e perversa facilidade.
Prof.
Adilson Cabral
Coordenador do Informativo
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