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Por Mágda Cunha
Número
53
Resumo:
O objetivo neste texto é refletir sobre
a mudança de conceitos relacionados à
mídia convencional, abordando a narração
de informações, crescente por intermédio
de iniciativas como blogs. Pretende-se ainda
abordar a personalização de conteúdos,
considerando esta tendência como uma reação
da audiência. As reflexões aqui
propostas consideram a existência de linguagens
que permanecem apesar das velozes e crescentes
transformações das tecnologias.
Resumen:
El objetivo en este texto es reflejar en el cambio
de los conceptos relacionados con los medios
convencionales, acercando a la narración
de la información, aumentando para el
intermediario de iniciativas como blogs. Todavía
se piensa para acercar a la personalización
de la información, en vista de esta tendencia
como reacción de la audiencia. Las reflexiones
consideran la existencia de las lenguages aquí
que sigue habiendo aunque aprisa y las transformaciones
de las tecnologías.
A obsolescência
de conceitos envolvendo as mídias e o
direcionamento para uma personalização
cada vez maior de conteúdos são
dois fatores que começam a se desenhar
no atual horizonte, envolvendo as áreas
da comunicação, informação
e tecnologia. Isto ocorre por intermédio
das possibilidades tecnológicas acessíveis
e também amigáveis, onde comunicação
e informação misturam-se no processo,
tornando muitas vezes nebulosas as fronteiras,
especialmente no que diz respeito às diferentes
utilizações das tecnologias e ainda
sobre quem produz os conteúdos que circulam
cada vez mais sem controle. E é exatamente
nesta ausência de um comando central, onde
está baseada a lógica da rede,
amparada na internet, que surgem iniciativas
como a crescente produção de blogs
e também se organizam possibilidades,
ainda sutis, de personalização
da informação.
Neste artigo,
o objetivo é refletir sobre a obsolescência
de conceitos evolvendo a mídia convencional,
abordando a narração de informações,
crescente por intermédio de iniciativas
como blogs. Pretende-se ainda um ensaio sobre
o conceito de personalização da
informação, considerando esta tendência
como uma reação daquela que até
agora era conhecida como recepção.
É esta mesma recepção que,
em momento de expansão tecnológica
mais facilitado, assume o papel da narração
antes delegado a outros centros emissores e busca
construir um conteúdo cada vez mais individualizado.
Para tanto, a recepção se apropria
das linguagens que estão na base de qualquer
narração midiática e passa
a produzir para si e para os públicos
que se auto-organizam na rede.
O contexto
e a rede
Castells (2006:225) afirma que “a era da
informação é nossa era.”
Trata-se de um período histórico
caracterizado por uma revolução
tecnológica centrada nas tecnologias digitais
de informação e comunicação,
concomitante, mas não causadora, com a
emergência de uma estrutura social em rede.
Isto ocorre em todos os âmbitos da atividade
humana. “É um processo de transformação
multidimensional que é, ao mesmo tempo,
includente e excludente em função
dos valores e interesses dominantes em cada processo,
em cada país e em cada organização
social.”
O autor faz
referência ao paradoxo proporcionado pela
comunicação em rede. O momento
de eclosão das tecnologias de liberdade,
em particular da internet, mas também
do conjunto de tecnologias informáticas
em rede, de telecomunicação de
banda larga, comunicação móvel
e de computação distribuída,
é também, sob pretexto de terrorismo
e pornografia, o momento da obsessão pela
segurança. Se estabelece uma ameaça
à liberdade de expressão, dentro
e fora da internet, do controle dos Estados sobre
a comunicação. Mas, Castells (
2006:227) também afirma que a “arquitetura
da internet foi desenhada deliberadamente para
dificultar seu controle, mas não a vigilância
da mensagem.” Por isso, mesmo sofrendo
cada vez mais interferências à livre
comunicação, é o meio de
comunicação local-global mais livre
que existe, permitindo descentralizar os meios
de comunicação de massa.
O conceito de
rede, descrito pelo próprio Castells (2003),
aponta para essa descentralização
dos meios. Prática humana antiga, a formação
de redes (conjunto de nós interconectados)
ganhou vida nova e foi energizada pela internet.
Flexíveis e adaptáveis, as redes
se proliferam em todos os domínios da
economia e da sociedade, desbancando corporações
verticalmente organizadas e burocracias centralizadas
e superando-as em desempenho. Neste contexto,
estão presentes as linguagens por intermédio
das quais a informação tem sido
distribuída pelas tecnologias de comunicação.
Historicamente, as linguagens se mantém
na base dos meios que passam por transformações
tecnológicas. Plataformas de distribuição,
os meios são confundidos, muitas vezes,
com as próprias linguagens neste processo.
As linguagens
e a tecnologia
Chartier (1998:9) faz uma avaliação
sobre a chamada revolução eletrônica,
passando por aspectos voltados ao autor, ao texto,
ao leitor e a leitura. Relata a transição
ocorrida da reprodução de um texto
copiado à mão, para a nova técnica
baseada nos tipos móveis e de um tempo
que não é tão veloz, como
muitas vezes se acredita. A transformação
não é tão absoluta, como
se diz, e um livro manuscrito, sobretudo nos
seus últimos séculos, XIV e XV,
e um livro pós-Gutenberg baseiam-se nas
mesmas estruturas fundamentais, as do códex.
“Há, portanto, uma continuidade
muito forte entre a cultura do manuscrito e a
cultura do impresso, embora durante muito tempo
se tenha acreditado numa ruptura total entre
uma e outra.”
O relato de
Chartier (1998) confirma o continuum
descrito por alguns autores. Já na época
do surgimento do impresso, as mudanças
não eram tão radicais. Precisavam
sem dúvida passar por uma transição
por intermédio da cultura para se integrarem
à vida cotidiana. Persistia uma forte
suspeita diante do impresso, que supostamente
romperia a familiaridade entre o autor e seus
leitores e corromperia a correção
dos textos, colocando-os em mãos “mecânicas”
e nas práticas do comércio. As
desconfianças fazem parte dos diferentes
períodos históricos em que as mudanças
parecem trazer rupturas. Estes rompimentos são
resultado da própria cultura, são
influenciados por ela, mas precisam do tempo
desta mesma cultura para se acomodarem à
rotina.
Se o homem é
propulsor do surgimento de mudanças, como
do manuscrito para o impresso, e assim por diante,
a cultura da qual ele é parte tem o seu
tempo de adaptação. Por isso o
continuum, esta convivência e
sobreposição de eras, culturas
e linguagens. Uma diferença clara existe,
porém, entre os diferentes períodos:
a velocidade com que as mudanças ocorrem
e se integram à sociedade. Todavia, afirma
Chartier (1998:77), ao citar Michel de Certeau,
a leitura é sempre apropriação,
invenção, produção
de significados de parte do leitor. É
ele quem determina os tempos de leitura, mesmo
influenciado pela cultura. Toda história
da leitura supõe, em seu princípio,
esta liberdade do leitor que desloca e subverte
aquilo que o livro lhe pretende impor. Mudam
os gestos segundo os tempos e lugares; os objetos
lidos e as razões de ler. Novas atitudes
são inventadas, outras se extinguem. “Do
rolo antigo ao códex medieval, do livro
impresso ao texto eletrônico, várias
rupturas maiores dividem a longa história
das maneiras de ler.”
Nos séculos
XVII e XVIII, um jornal não tem uma estrutura
diferente daquela do livro. Quando o jornal adquire
um grande formato e uma distribuição
ampla e é vendido na rua a cada número,
ocorre então uma atitude mais livre: ele
é carregado, dobrado, rasgado, lido por
muitos.
Neste continuum,
porém, que até aqui traçou
esse recorte pela palavra escrita e também
impressa, está anteriormente a oralidade
ou, como defende Ong (1998:16), “a oralidade
básica da linguagem é constante.”
Segundo ele, ler um texto significa convertê-lo
em som, em voz alta ou na imaginação.
“A expressão oral pode existir –
e na maioria das vezes existiu – sem qualquer
escrita; mas nunca a escrita sem a oralidade.”
Cinco séculos
depois do nascimento da imprensa, o rádio
tenta fazer com a voz, essa forma tão
primitiva de comunicação, o que
antes só podia ser feito com a impressão:
armazená-la, repeti-la e transmiti-la
a grandes distâncias. O que surge como
emissão de rádio é um instrumento
que se escuta sozinho ou com a família.
“Era o companheiro das horas solitárias,
as drogas dos que não tinham amigos”
(Pool, 1992:84). A radiodifusão substitui
o bar da esquina, a reunião na igreja,
a banda local ou o concerto. No início
do século XX, os sociólogos descrevem
uma civilização urbana em expansão.
As grandes cidades, as fábricas, a mobilidade
geográfica, a burocracia e os meios de
comunicação criam, segundo eles,
uma sociedade marcada pela ausência de
personalidade e produtos pouco diferenciados
e o rádio se inclui nesta descrição.
Sevcenko (1998:585)
relembra que os indivíduos partem, cada
um de seu isolamento real, e se encontram todas
nesse território etéreo, nessa
dimensão eletromagnética,
Nessa voz sem
corpo que sussurra suave, vinda de um aparato
elétrico no recanto mais íntimo
do lar, repousando sobre uma toalhinha de renda
caprichosamente bordada e ecoando no fundo da
alma dos ouvintes, milhares, milhões,
por toda parte e todos anônimos.
O rádio
religa o que a tecnologia veloz havia separado
no início do século e, não
por acaso, na linguagem popular, costuma ser
carinhosamente chamado de capelinha, tanto pelo
formato dos aparelhos com caixa em arco, quanto
pelo simbolismo transcendente que irradiava.
É um modo de remeter a um recôndito
familiar das tradições e das memórias
um artefato moderno e de efeito arrebatador.
Cada um põe naquela voz o rosto e o corpo
dos seus sonhos e como o som se transmite pelo
espaço, onde quer que se ande pela casa,
aquela voz vai atrás. Até então,
todas as pessoas tinham uma voz incessante que
lhes falava de dentro do corpo, que os teólogos
e filósofos chamavam de consciência.
A força
da palavra falada, impressa ou representada por
imagens está, antes de tudo, ligada à
linguagem e à cultura. O rádio,
tendo como suporte esta palavra falada, que é
também oralidade e áudio, insere-se
na cultura. Muitas são as controvérsias
que acompanham a permanência ou não
da oralidade, especialmente se comparada à
escrita. Todavia, são suportes com características
diversas e que não podem ser comparados,
mas considerados dentro de uma mesma cultura.
Definida pelos autores como primária,
secundária ou mista, a oralidade está
presente nas diferentes sociedades. O que permanece
é a vocalidade e a audição.
Assim como outros meios têm sua trajetória
própria e integrada, a escrita não
se confunde com a voz ou com a imagem. Tem seu
ritmo próprio de desenvolvimento. O texto
falado é um novo texto, uma vez que as
diferentes formas de expressão oral têm
forte influência sobre a escritura. Trata-se
de uma nova produção de sentido,
seguindo o pensamento de Barthes.
As diferentes
sociedades encontram meios específicos,
como o rádio para a voz, a impressão
para a escrita e assim por diante. Os meios respondem,
são apropriados e se acomodam às
exigências da humanidade, da cultura, convivendo,
estacionando ou, em muitos casos, desaparecendo.
Isto ocorre conforme o efeito e o preparo social
para sua utilização. O próprio
surgimento da televisão é um exemplo.
Em meados da década de 30, não
foi fácil para os que estavam comprometidos
com a radiodifusão, dos dois lados do
Atlântico, decidir como a TV poderia se
encaixar. Mesmo nos Estados Unidos, que poderiam
ter tomado a liderança, os primeiros anos
da década foram de depressão. A
palavra experiência era mencionada sempre
quando a televisão era citada. Ao final
da Segunda Guerra era reduzido o entusiasmo nos
círculos do rádio e do cinema.
Havia muita apreensão e nenhum grupo saiu
a campo para fazer pressão, como ocorreu
com os radioamadores, que desempenharam um papel
importante nos anos iniciais do rádio,
conforme relatam Briggs e Burke (2004). Nos chamados
círculos informados, acreditava-se que
somente os grupos de alto rendimento pudessem
ser atraídos por ela.
A TV, que anos
depois assumiu o espaço ocupado pelo rádio
nos lares, é também um caso de
ruptura e adaptação da cultura,
evidenciando ainda na história dos meios
uma re-acomodação de mídias.
Estão nesta base o fato de o ser humano
ser predominantemente visual e verbal. Não
há sociedade sem palavra. Oralidade permanece
sempre sendo oralidade, mas existindo por intermédio
de diversas formas de transmissão da palavra
criadas pelo homem, inclusive junto à
imagem.
Com o texto
eletrônico ou multimídia convergem
todas as linguagens, até agora conhecidas,
como acredita Machado (2002), reunindo num único
suporte os outros meios e invocando os sentidos
mais desenvolvidos no homem. Porém, esta
convergência ocorre em uma lógica
de rede, proporcionando mudanças significativas
nas relações. Neste mundo, como
afirma Chartier (1998), um produtor de texto
pode ser imediatamente o editor, no sentido daquele
que dá forma ao texto e daquele que o
difunde diante de um público de leitores.
Na rede eletrônica esta difusão
é imediata. O autor cita ainda o sonho
de Kant de que cada um fosse ao mesmo tempo leitor
e autor, que emitisse juízos sobre as
instituições de seu tempo, quaisquer
que elas fossem e que pudesse, ao mesmo tempo,
refletir sobre o juízo emitido pelos outros.
Este é talvez um dos grandes diferenciais
deste contexto. E quando Michel de Certeau afirma
que a leitura é produção
de significados de parte do leitor e que os gestos
de leitura mudam segundo os tempos e lugares;
os objetos lidos e as razões de ler, também
é possível refletir que atualmente
os gestos de leitura assumem uma função
e um espaço de produção
da informação.
A recepção
no contexto
Em Comunicação-Mundo, ainda no
início dos anos 90, Mattelart (1994:279)
descreve o cenário que hoje chega talvez
à exacerbação. Segundo ele,
o consumidor é, na reorganização
de livre empresa, uma peça central. É,
ao mesmo tempo, como co-produtor, um dos elos
do processo de produção. Não
se trata, segundo ele, de qualquer consumidor,
mas de um consumidor soberano em suas escolhas,
em um mercado livre.
Essa lógica,
que coloca à frente a reabilitação
do consumidor e constitui uma nova conjuntura
nas sociedades submetidas às leis do
mercado, não facilita a apreensão
critica dos diversos movimentos teóricos,
de natureza contraditória, que se foram
desenvolvendo desde o início dos anos
80, em torno do estatuto do consumidor, receptores
ou usuários dos meios de comunicação
de massa e das máquinas destinadas a
comunicar.
Os estudos sobre
as relações entre os veículos
de comunicação e o receptor não
são novos e vêm sendo realizados
desde o início do século XX. Novos
são os enfoques e as posturas com que
a questão vem sendo tratada, deslocando
os modos de ver e analisar o receptor. Esses
enfoques expressam mudanças nas práticas
da comunicação e da cultura, num
contexto marcado pela tensão e disparidade
entre mudanças sociais e tecnológicas.
Há ainda
estratégias interdisciplinares em curso,
visando não apenas superar limites ou
dificuldades de suas áreas – objeto
de estudo, mas para dar conta de forma mais efetiva
da contribuição do conhecimento
ante a pluralidade e velocidade das mudanças
que caracterizam o atual momento.
O pensamento
de Mattelart e Mattelart (1999) complementa tal
idéia, salientando que a noção
de comunicação recobre uma multiplicidade
de sentidos. A proliferação das
tecnologias e a profissionalização
das práticas acrescentam novas vozes a
essa polifonia, num fim de século que
faz da comunicação uma figura emblemática
das sociedades do terceiro milênio.
As constantes
transformações sociais e tecnológicas
tornam os estudos de recepção uma
atividade complexa. Muitos são os limites
impostos pelas próprias teorias quando
relacionadas ao objeto. Cultura, linguagem e
historicidade são fatores envolvidos na
multiplicidade de sentidos que recobrem a comunicação.
Paralelo a isto, as próprias relações
da recepção com os meios começa
a mudar, conforme referido anteriormente, num
ambiente em que o receptor pode assumir também
o papel de produtor da informação,
levando a uma discussão que pode tornar
obsoletos alguns conceitos referentes à
midia.
Obsolescência
A obsolescência desses conceitos é
alvo de reflexões em diferentes áreas
e o pensamento de Alasuutari (2005) em torno
do futuro dos meios é pertinente neste
debate. Para ele, o conceito básico dos
meios começa a torna-se obsoleto, pois
está rodeado por um conjunto de imagens,
baseado na idéia de esfera pública
como arena onde as pessoas que nela falam podem
ser ouvidas por muitas outras. A outra imagem
é a do canal por onde se tem informação
sobre a sociedade, “a lente pela qual se
tem a imagem da realidade fornecida pelos media,
que pode ser distorcida ou não”
(Alasuutari,2005: 13).
De acordo com
o autor, os dois conceitos tornam-se obsoletos
em um contexto com diversidade de canais, incluindo
a telefonia celular ou a internet, onde existem
diferentes argumentos e informação
variada, não fazendo sentido debater se
a imagem dada por determinado canal estaria ou
não distorcida. Na essência desta
“imagem dada” pelo canal está
a narração de informações
e a prática da comunicação.
Traquina (2002)
escreve, ainda no início deste século,
que alguns autores arriscam, quando o jornalismo
mal começa a sofrer o impacto do cibermídia,
tomar posições categóricas
sobre o futuro. Ele cita o pensamento de John
Pavlik, diretor do Centro de Novos Media da Universidade
de Columbia, por exemplo, para quem os jornalistas
são uma espécie ameaçada
ou David Bartlett cuja previsão é
de que os jornalistas tornar-se-ão desnecessários.
Com o assunto em pauta, surgem os opositores
a este pensamento, como é o caso de Howard
Rheingold, também citado por Traquina(2002),
que defende uma valorização do
papel dos jornalistas nas sociedades contemporâneas
com a chegada do cibermedia. Porém, no
ambiente até aqui descrito, a recepção
busca seus espaços de produção,
oferecidos por uma rede, amparada por uma tecnologia
facilitada. Torna-se possível ter voz,
sem depender dos meios de distribuição
convencionais a quem cabia decidir sobre o que
informar.
Blogs
A crescente expansão e importância
dos blogs, em diferentes dimensões, tem
gerado um questionamento relevante: a narração
de todos para todos e a possibilidade de muitos
gerarem informação pode tornar
obsoleto o papel do jornalismo? Uma iniciativa
que começou associada aos diários
íntimos, hoje ganha uma perspectiva de
espaço para narração de
informações antes restritas ao
jornalismo. Profissionais da área estão
se apropriando disso e, atuando ou não
em empresas jornalísticas, são
autores de blogs.
No Brasil, os
blogs tratados jornalisticamente com preconceito
numa fase inicial, hoje tem respeitabilidade
e são largamente citados pelos jornais
convencionais. Algumas empresas jornalísticas
lançam blogs de seus profissionais mais
conhecidos que, ao acompanhar um determinado
acontecimento para o veículo, narram simultaneamente
para o seu blog.
Tais iniciativas
começaram como um treinamento, por intermédio
de páginas pessoais, para dominar a técnica
de como colocar texto e fotos na internet. De
certa forma, como afirma Schittine (2004) o blog
surgiu como um sistema de disponibilização
de textos e fotos na web, menos complexo e mais
rápido, o que facilitou a fabricação
de páginas por indivíduos com pouco
conhecimento técnico.
A comunicação,
por intermédio de blogs, permite uma individualização
ou personalização cada vez maior
de conteúdos. Todos podem produzir para
todos e encontrar na rede a informação
que mais lhe interesse ou com a qual mais esteja
identificado naquele momento. Lipovetsky (2004)
descreve a hipermodernidade baseada numa sociedade
hiperindividualista, onde investe-se emocionalmente
naquilo que é mais próximo, nos
vínculos fundados sobre a semelhança
e a origem em comum. Ainda de acordo com o pensamento
de Lipovetsky na atual sociedade nasce toda uma
cultura hedonista e psicologista que incita à
satisfação imediata das necessidades,
enaltecendo o “florescimento” pessoal.
Na comunicação, estas características
apontam para uma tendência à produção
individualizada ou personalizada de informação,
seja no âmbito da publicidade ou mesmo
do jornalismo.
Personalização
O conceito de personalização de
conteúdos em comunicação
social, ainda não descrito claramente,
começa a ser desenhado em um horizonte
que viveu durante muitos anos baseado na segmentação
de informações, ainda relacionada
aos meios convencionais, com finalidades especialmente
comerciais. As tecnologias digitais oferecem
a possibilidade de personalizar as informações,
chegando ao extremo da individualização.
Mais uma vez, os meios, acostumados a falar para
as grandes massas, a informar as grandes audiências,
encaram um paradoxo: a demanda por uma informação
individual.
Personalização
em comunicação entende-se, até
o momento, como a possibilidade de o público
interagir sobre a forma e o conteúdo do
jornal, para consumir unicamente o que quer e
como quer, dentro dos limites da própria
tecnologia. Incluem-se aí as notícias,
o recebimento de um jornal a la carte, o recebimento
de newsletters ou mensagens com fins publicitários.
Mas outras questões começam a ter
destaque em relação ao comportamento
dos meios habituados a uma produção
massiva, especialmente quanto à impressão
em larga escala ou mesmo a radiodifusão.
Chega-se a um
horizonte em que as linguagens da comunicação
estiveram centralizadas e organizadas verticalmente,
a partir de um eixo emissor localizado nos meios
convencionais para produção massiva.
A energização da formação
de redes provocada pela internet leva a recepção,
até então tratada apenas como tal,
a se apropriar destas linguagens e possibilidades
tecnológicas narrativas, gerando iniciativas
hoje evidenciadas especialmente pelos blogs.
Isto coincide com uma individualização,
mas resulta numa personalização
de conteúdos.
A relação
destas variáveis também está
ligada à conjunção de fatores
como citado por Castells (2003). Três processos
se uniram de acordo com o pensamento do autor,
inaugurando uma nova estrutura social predominantemente
baseada em redes: as exigências da economia
por flexibilidade administrativa e por globalização
do capital, da produção e do comércio;
as demandas da sociedade, em que os valores da
liberdade individual e da comunicação
aberta tornaram-se supremos; e os avanços
extraordinários na computação
e nas telecomunicações possibilitados
pela revolução microeletrônica.
Apontar uma
tendência quando o tema é comunicação,
informação, relacionados à
tecnologia hoje é impossível. Isto
porque os modelos se desenham e são implantados
simultaneamente e é neste processo que
se constróem. Sabe-se, porém, que
as tecnologias digitais trouxeram a possibilidade
de personalizar conteúdos, individualizar
interesses ou conhecer os interesses individuais.
Até mesmo medicamentos já estão
entrando em produção personalizada,
conforme Kelleher (2006:136). Na base, está
um forte apelo comercial, do qual a publicidade
rapidamente se apropriará, mas que não
pode ser ignorado quando o assunto é produção
de conteúdo. Na sociedade hipermoderna.
receptores desejam ser atendidos individualmente,
ou passam a produzir para si mesmos, distribuídos
e relacionando-se em rede.
Referencias:
Alasuutari,
Pertti. O conceito clássico de mídia
está a tornar-se obsoleto. Entrevista
a Anabela de Souza Lopes e Carla Baptista. In
Media & Jornalismo. Coimbra: Edições
Minerva Coimbra, 2005.
Briggs, Asa & Burke, Peter. Uma história
social da mídia. De Gutenberg à
Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
Castells, Manuel. A galáxia da internet.
Reflexões sobre a internet, os negócios
e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2003.
_______. (2006) Inovação, liberdade
e poder na era da informação. In
Moraes, Dênis de (org.) Sociedade Midiatizada.
Rio de Janeiro: Mauad.
Chartier, Roger. A aventura do livro, do leitor
ao navegador. São Paulo: Fundação
Editora da Unesp, 1998.
Kelleher, Kevin. Personalize it. Revista Wired,
julho: 2006.
Lipovetsky, Gilles. Os tempos hipermodernos.
São Paulo: Editora Barcarolla, 2004.
Mattelart, Armand. Comunicação-mundo.
História das idéias e das estratégias.
Petrópolis: Vozes, 1994.
________; Mattelart, Michele. História
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Machado, Arlindo. As mídias são
os livros do nosso tempo? In Cicilia Peruzzo.
A mídia impressa, o livro e as novas tecnologias.
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Ong, Walter. Oralidade e Cultura escrita. Campinas,
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Pool, Ithiel de Sola. Discursos e sonidos de
largo alcance. In: WILLIAMS, Raymond (Org.).
Historia de la comunicación. De la imprenta
a nuestros dias. Barcelona: Bosch, 1992.
Schittine, Denise. Blog: comunicação
e escrita íntima na internet. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2004.
Sevcenko, Nicolau. História da vida privada
no Brasil. República: da Belle Époque
à era do rádio. São Paulo:
Companhia das Letras, 1998.(História da
vida privada no Brasil; 3)
Traquina, Nelson. O estudo do jornalismo no século
XX. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2002.
Dra. Mágda Cunha
Faculdade de Comunicação Social,
Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, Brsail.
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