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O BRASIL QUE A GENTE NÃO VÊ POR AQUI: UMA ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE BRASILEIRA A PARTIR DO TELEJORNALISMO DA CNN INTERNACIONAL

Por Pedro Paulo Procópio de Oliveira
Número 60

RESUMO

O estudo proposto traz como análise central a construção social da realidade brasileira através da exibição de matérias sobre o país na CNN Internacional. Acreditamos na relevância da televisão como um veículo de comunicação de forte penetração nos diversos estratos sociais e em todo o planeta, em especial, graças à popularização de tecnologias mais complexas, como é o caso das transmissões por cabo. Entendemos ainda como problemático o agendamento adotado pelos principais veículos de comunicação do mundo desenvolvido, além dos elementos tipificadores usados em uma tentativa clara de “ensinar” o modo de vida e expor os acontecimentos dos países mais pobres para o hemisfério norte. A maneira como o Brasil é agendado – tipificado e, finalmente, como tem a sua realidade socialmente construída no cenário global, afinal, é o fator que motiva todo este trabalho.

Este artigo analisa um país que a gente não vê por aqui, termo usado em uma visível alusão à Rede Globo de Televisão, o trabalho concentra-se em reflexões bastante pontuais balizadas por autores que buscam entender questões como o agendamento, os elementos tipificadores, a construção social da realidade, afinal. A partir de autores que se baseiam no citado trinômio, ou seja, agendamento, elementos tipificadores e construção social da realidade, aprofundamos nossa discussão em torno de um Brasil imaginado pelo mundo a partir do telejornalismo da CNN Internacional.

A relevância do que o artigo pretende discutir pode ser inicialmente avaliada pelo que Whittemore (1990) destaca a respeito da CNN. Conforme o autor, ela é a emissora a que todas as outras assistem quando querem se informar. De acordo com Whittemore (1990), a emissora norte-amerciana estreou nos Estados Unidos em 1980 sob descrédito, uma vez que ninguém acreditava no seu conceito de telejornalismo 24 horas. Nos anos noventa, ainda segundo Whittemore (1990), a CNN tornou-se a mais importante rede internacional de notícias, notabilizando-se devido à cobertura da Guerra do Golfo.

Na mesma época em que a CNN ganha notoriedade, o Brasil começa a vivenciar a sua reabertura democrática de fato, uma vez que ocorrem eleições diretas para a Presidência da República em 1989 após décadas de regime militar. Em 1994 o Brasil conquista nos Estados Unidos o seu quarto título mundial de futebol, que atrai para o país grande visibilidade internacional, certamente maior que o tempo destinado à reconquista da democracia pelo país poucos anos antes.

São fatos como esses que motivam os nossos argumentos: Brasil importante enquanto “país do futebol” e ignorado talvez em relação a aspectos que reformulam todo o seu mecanismo interno de funcionamento, além de uma política amparada na busca por maior competitividade na economia global.

Defendemos assim, que o país vem sendo construído em torno de elementos tipificadores que o transformam na “terra do samba e pandeiro” cantada por Ary Barroso no último século e de forma muito antagônica, como um país mergulhado na violência urbano devido ao tráfico de drogas.

Para Carril (2006), não só corporações e produtos promovem suas marcas na contemporaneidade, mas até mesmo pessoas e localidades o fazem. O motivo disso seria a busca por visitantes e a “luta pela sobrevivência” da indústria do turismo, que estaria promovendo com intensidade cada vez maior a “marca” dos destinos que pretende divulgar. Exemplo dessa política, é a Espanha, que vende sua imagem baseada no seguinte slogan publicitário: Espanha Marca .

O aparente desvio no nosso foco é proposital e traz consigo uma análise, que busca entender se o país promove um imaginário carnavalesco e futebolístico para o mundo em busca da construção de uma marca, que o diferencie de outros países igualmente tropicais e propícios ao desenvolvimento turístico. Refutamos a possibilidade por identificarmos de modo geral – uma construção de “marca” mais forte através do telejornalismo do que através da lógica do marketing e mesmo da publicidade.

A marca de que o Brasil dispõe hoje, portanto, antes de funcionar como um elemento de atração de visitantes e consagração de sua boa gente, belas praias, futebol arte é um conjuntos de elementos construídos. Construídos, em especial, pela CNN Internacional, que leva para o cenário global uma imagem do país interpretada por seus correspondentes e editores.

Esses profissionais, através do seu trabalho dizem ao planeta, não apenas o que este país é, mas sim o que cidadãos de múltiplas crenças religiosas, realidades sócio-econômicas e culturais devem pensar a seu respeito. No julgamento de Tuchmann (1978), para refletirmos a mídia é necessário estudarmos os trabalhadores da notícia – os jornalistas – e as TVs como organizações complexas. Tais corporações circulam e moldam o conhecimento em nossa perspectiva. É o que percebemos a partir deste instante no tocante ao Brasil. Pereira Júnior (1997) traz igual contribuição a esse respeito, ao relatar o foco do seu trabalho concentrado nas rotinas jornalísticas e no papel desempenhado pelo produtor da notícia:

Dentro do percurso que estamos desenvolvendo neste trabalho, onde vemos o jornalista como um autor/produtor, no contexto das indústrias culturais, submetido à rotina de trabalhos que contribuem para definir seu processo de produção... (PEREIRA JÚNIOR; 1997; p. 98)

Ainda sobre esse processo de “exportação” da notícia, é importante destacarmos o que McCombs (2006) e Shaw (1993) afirmam sobre agendamento, no que estamos de acordo. Para ambos os autores a mídia diz às pessoas sobre o que debater; que conteúdos devem incluir em seu conhecimento; a que acontecimentos dar importância. Portanto, o telejornal agenda o seu espectador.

O Brasil, em nossa análise e sem que reduzamos a discussão, torna-se, portanto, a terra do carnaval, do futebol, do samba e, em um período mais contemporâneo, da violência urbana, do narcotráfico, da corrupção política “explorada” pelo telejornalismo da CNN Internacional.

Nos telejornais, óbvio, apesar das discussões trazidas até o momento em torno do agendamento, há também os diálogos nutridos sobre temáticas de ordem mais urgente como a violência nos grandes centros urbanos mundiais; os escândalos políticos em diferentes partes do globo e algo que tem espaço garantido no telejornalismo da CNN ao menos uma vez por ano: O carnaval brasileiro.

A imagem da marca jornalística Brasil na época carnavalesca, está envolta em uma festa exótica no olhar de outras partes do planeta, fomando uma espécie de realidade suprema sobre o país. A respeito do que denominam realidade suprema, Berger e Luckmann (1972; 39) afirmam: “Entre as múltiplas realidades existe uma que se apresenta como a realidade por excelência. É a realidade da vida cotidiana. Sua localização privilegiada lhe dá o direito que seja chamada de realidade suprema.”

Sustentamos que não é exagerado afirmar que o mundo inteiro reconhece hoje a marca brasileira centrada – de forma geral – no imaginário do carnaval, do futebol, das belas mulheres e praias, além do samba. Informações sobre o período carnavalesco, por exemplo, habitam o conhecimento comum de um número cada vez maior de indivíduos das mais diversas nacionalidades. O porquê disso está centrado em uma necessidade humana primária: a comunicação; cada vez mais acessível aos diversos povos com a expansão tecnológica dos meios.

Sobre a comunicação, Berger e Luckmann (1972) trazem importante consideração: “Na realidade, não posso existir na vida cotidiana sem interagir e me comunicar continuamente com os outros.” Frisamos que isso vale também para as localidades; seria o Brasil em busca dessa interação e...

Vamos além e afirmamos que na contemporaneidade essa existência humana é inconcebível sem os veículos de comunicação. O simples fato de recebermos informações funciona como um instrumento capaz de atenuar tensões e trazer segurança ao indivíduo, colocando-o sob uma aura de “proteção informativa”, conforme revelam Correia(2006) e Pereira Júnior (2006). Essa aura de “proteção informativa” suspende por instantes o medo da entropia e faz com que o alívio de ao menos estarmos informados sobre os acontecimentos do nosso país e do mundo, façam-no sentirmos um tanto seguro.

Viemos ao longo deste texto demonstrando a relação entre o jornalismo televisivo e a construção social da realidade, em especial, da formação da imagem brasileira vista pelo estrangeiro. Essa formação está concentrada em boa medida nos itens já destacados aqui de festas populares, belezas naturais, futebol. Tais aspectos formariam uma espécie de cadeia imaginativa a respeito do país.

Os tópicos que recebem a maior cobertura pela mídia são provavelmente os tópicos que a audiência identificará como os assuntos mais importantes do dia. Esta pesquisa acerca da agenda setting tenta indicar que o ranking de prioridades da mídia torna-se prontamente o ranking de prioridades atribuído pelos consumidores da notícia (TUCHMAN; 1978;2).

Precisamos também reforçar o que foi exposto há pouco por Tuchmann(1978) e que trata das prioridades de notícia atribuídas pela mídia e pelo consumidor da notícia. No período do carnaval discute-se a festa, com maior ou menor intensidade, nos diversos lugares do globo; a discussão está presente nos meios e influi no consumidor da notícia. O país se beneficia de modo direto uma vez que a repercussão midiática acaba por fomentar o turismo nas regiões do país que mais festejam o carnaval, como: Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, mas vale lembrar que essa está longe de ser a única imagem que o país vê divulgada no exterior.

Após reflexão fundamentada em boa medida a partir de Tuchman (1978), é importante trazermos – para uma análise igualmente consistente – pontos trabalhados por Berger e Luckmann (1972). Tais reflexões têm ligação imediata com o objeto desta pesquisa e fazem alusão ao que os autores denominam como elementos tipificadores da realidade. Esses elementos acabam por formar “imagens” ou “idéias” sobre determinadas coisas, montando assim, uma aura imaginativo-discursiva ao seu redor.

O Brasil significa no espaço dos telejornais da CNN Internacional, graças aos elementos tipificadores adotados pelos seus profissionais, não só as coisas boas que atraem turistas ávidos por futebol, praia e samba. Outros aspectos – como já referendado – de narcotráfico e violência urbana também permeiam fortemente essa construção, o que termina por dotar o Brasil de profunda dicotomia face à sua “interpretação” junto ao cenário mundial. Afinal, pensar em alegria e festa em um lugar mergulhado no caos social e urbano parece no mínimo, “exótico”. Identifiquemos, portanto, o significado dos esquemas tipificadores:

A realidade da vida cotidiana contém esquemas tipificadores em cujos termos os outros são apreendidos e “tratados” em encontros “cara a cara”. Desse modo, posso perceber o outro como “homem”, “europeu”, como “cliente”, como “tipo jovial”, etc. Todas essas tipificações afetam continuamente minha interação com ele quando, por exemplo, decido convidá-lo uma noite para que se divirta antes de tratar de vender-lhe meu produto. (BERGER E LUCKMAN 1972;49)

Refletimos assim o papel desempenhado pelas tipificações no processo de preensão de informações acerca dos diferentes atores sociais, mas não apenas isso, obtivemos também dados de toda ordem no tocante à construção social da realidade.

Com o objetivo de tornar mais didático o entendimento das tipificações e – dessa forma – identificarmos ainda mais claramente o porquê de inserirmos no estudo o quesito das tipificações para apreensão acerca da construção social da realidade brasileira, iremos aludir mais uma vez a Berger e Luckmann (1972). Dessa vez fazemos uso do seu próprio exemplo de tipificações.

Em outras palavras “o que todos sabem” tem sua própria lógica, que pode aplicar-se para ordenar as diversas coisas que sei. Por exemplo, sei que meu amigo Henry é inglês e que sempre é muito pontual em relação aos seus compromissos. Dado que todos sabem que a pontualidade é uma característica inglesa, posso agora integrar estes dois elementos de meus conhecimentos sobre Henry em uma tipificação significativa em termos da acumulação social do conhecimento. (BERGER E LUCKMAN; 1972;62)

Passamos a partir de então a ampliar as discussões que reforçam o papel da mídia como instrumento construtor social da realidade. Fazemos conexões a, todo momento com o Brasil, e a sua construção midiática em torno de elementos tão díspares que vão de alegria, belezas naturais, festa ao narcotráfico - violência, ou seja, com as tipificações que dominam na esfera sócio-midiática a imagem a seu respeito. Identificamos na seqüência elementos diversos que constroem tal realidade porque...

A realidade da vida cotidiana sempre parece ser uma zona de claridade detrás da qual há uma profundidade sombria. Quando umas zonas de realidade se iluminam, outras se obscurecem. Não posso saber tudo que hei de saber sobre essa realidade (Berger e Luckmann 1972; 63).

Levantamos a partir de agora pontos de intersecção entre as obras de Berger e Luckmann(1972) e Mayo (2004), a fim de continuarmos no entendimento da íntima relação da imagem dicotômica do nosso país com o jornalismo televisivo trabalhado pela CNN Internacional. Junto a Mayo (2004) somamos às análises que tangem à construção social da realidade outros conceitos como “manipulação informativa” e “desinformação”, por exemplo. Concordamos com Mayo (2004) quando ele afirma: “A realidade” se produz de forma massiva e cotidianamente no âmbito dos “meios de comunicação” e, de maneira hegemônica, no meio televisivo.”

De fato, é isso que apontamos a todo instante neste texto quando abordamos pontos alusivos ao nosso país e a contribuição do telejornalismo da CNN Internacional na divulgação de um dos maiores carnavais do mundo, daquelas que estão entre as melhores praias, daqueles que estão entre os melhores jogadores de futebol do planeta – mas também de um dos países mais violentos e sujeitos à interferência do tráfico de entorpecentes em âmbito mundial, o que terminou por consolidar uma marca jornalística muito confusa de um exótico lugar chamado Brasil – localizado em algum “ponto qualquer da Terra.”

Acreditamos no poder da mídia televisiva como sendo a “ferramenta” responsável por produzir, e não apenas reproduzir, a realidade sobre o povo brasileiro e ,claro, a respeito do próprio país; nessa produção, de forma hegemônica, encontra-se a CNN Internacional. A emissora desde o início dos anos 80 do último século, transmite a imagem do país para o mundo, como destaca Whittemore (1990). O Brasil não é mais um país qualquer da América Latina, a partir de então ganha uma nova identidade para todo o planeta e torna-se um lugar “exótico”.

Concordamos com a postura de Mayo (2004) no tocante aos conteúdos da produção midiática, conforme o autor, indubitavelmente, um dos âmbitos de produção midiática mais analisados acerca do tema que nos ocupa, ou seja, o quesito referente a construção social da realidade , aponta com grande relevância os aspectos relacionados aos conteúdos de caráter informativo.

Da mesma forma que Mayo (2004) este trabalho ocupa-se da produção dos meios de caráter informativo, e mais especificamente de uma emissora hegemônica em âmbito global como é a CNN, para compor um estudo capaz de levar-nos a uma coerente reflexão sobre a construção de imaginário acerca do Brasil. Para Mayo (2004) toda a valoração do impacto dos media na construção social da realidade exige também uma valoração analítica das repercussões que as representações simbólicas midiáticas têm na percepção subjetiva da realidade social.

Com o exemplo demonstrado no parágrafo anterior buscamos ilustrar a força da repercussão midiática no tocante ao Brasil visto do exterior. É importante reforçar que Mayo (2004) traz à tona relevante consideração sobre o papel exercido pelos meios na contemporaneidade, enfatizando a complexidade da vida social atualmente.

A crescente complexidade da vida social faz com que muitos de seus aspectos escapem à percepção direta, e que por isso aumente a dependência experimental – de caráter vicário – dos espectadores com respeito aos meios de comunicação que, de maneira massiva e incessantemente, produzem e difundem determinadas imagens da sociedade e da realidade. (MAYO;2004;16)

A complexidade da vida social descrita por Mayo (2004) fez com que de fato surgisse uma necessidade; uma busca pela informação. Nessa busca acreditamos que há uma realidade construída pelos meios, de modo especial, pela TV que apresenta à sociedade àquilo que seria impossível ter acesso com a mesma riqueza de detalhes sobre os países da Ásia, as novas leis vindas de Brasília, o último desastre aéreo, ou sobre o fato de haver na América Latina uma nação capaz de viver em “harmonia” mesmo que seja narrada como um lugar sem lei por vezes e como uma terra de felicidade em outros momentos.

Concordamos com Fernandez (apud Mayo 2004) porque o autor levanta dados de caráter muito enfático sobre os meios, o que nos ajuda a refletir sobre como o telespectador de outras nacionalidades, por exemplo, sente e pensa acerca da existência desse país latino americano que chega até o seu conhecimento a partir de símbolos tão díspares de “guerra urbana e paz na avenida do samba.”

De acordo com Fernandez (apud Mayo 2004), uma parte importante do que fazemos, pensamos e sentimos se encontra midiatizada, o que define como a realidade simbólica que, de maneira constante, é criada pelos meios de comunicação. É por essa perspectiva que pudemos identificar nosso país também: uma realidade midiático-simbólica. Tal realidade de início abstrata (mesmo que soe um tanto paradoxal) torna-se concreta pela existência de uma marca jornalística, que faz com o país seja pensado e sentido como uma terra de disparidades brutais, o que a torna um lugar exótico e talvez imcompreensível .

Meyrowitz (apud; Mayo 21) também destaca importante relevância sobre o papel da mídia eletrônica. Conforme esse autor a referida categoria de mídia não nos dá apenas acesso mais rápido aos eventos e acontecimentos. Ela nos deixa a par de novos eventos e comportamentos. Graças a ela, o Brasil existe para povos que cultuam tradições muito diferentes das brasileiras, como é o caso dos asiáticos, europeus ou norte-amercianos, por exemplo. Tradições muito diferentes; hábitos muito iguais: informação diária sobre o mundo graças à TV.

Aludimos então à linguagem da mídia porque a consideramos elemento de relevo na formação da própria linguagem do consumidor da notícia. Além disso, sendo mais específico no que concerne ao aspecto Brasil, a linguagem torna-se uma cadeia una de elementos tipificadores já demonstrados neste artigo e que constroem o imaginário do país. A esse respeito – em termos comparativos evidentemente – trazemos um exemplo norte-americano:

Hoje discussões do movimento contrário à guerra ainda refletem a linguagem da mídia. Por exemplo, homens jovens que se recusaram a servir no Vietnam são comumente chamados de “fugitivos” do alistamento militar ( o termo da mídia) ao invés de “opositores” ao alistamento militar, como eles preferem ser chamados. As palavras “fugitivos” e “opositores” implicam em diferentes posições políticas para esses homens e sua relação com o país e a guerra. (TUCHMAN; 1978; 2).

Diante dos aspectos apresentados, uma série de constatações: a imagem do Brasil no cenário do telejornalismo mundial, apesar da profunda disparidade no tempo destinado às notícias sobre países ricos, em vias de desenvolvimento e subdesenvolvidos está consolidada; as características originais das matérias sobre o país centradas em aspectos profundamente antagônicos, que terminam por construir uma realidade exótica em torno da população brasileira e do seu estilo de vida.

Como conclusão deste artigo, acreditamos que foi possível não apenas demonstrar porque a CNN internacional “exporta” o Brasil, mas também refletir à luz da teoria da construção social da realidade o poder da televisão como um todo na construção dessa realidade e na influência exercida perante o público telespectador. Evidentemente, destacando também a influência exercida pelo campo midiático em outras esferas sociais. Sobre essa influência, Guareschi (2004) nos ajuda a refletir:

Não seria exagero dizer que a comunicação constrói a realidade. Num mundo todo permeado de comunicação – um mundo de sinais – num mundo todo teleinformatizado, a única realidade passa a ser a representação da realidade – um mundo simbólico, imaterial. Isso é tão verdade, que na linguagem do dia-a-dia já se podem ouvir frases como estas: “Já acabou a greve?” E se alguém pergunta por que, a resposta é: “Deve ter acabado, pois o jornal não diz mais nada...”, ou: “A televisão não mostrou mais nada...” A conclusão a que chegamos é de que uma coisa existe, ou deixa de existir, à medida em que é comunicada, veiculada. É por isso, consequentemente, que a comunicação é duplamente poderosa: tanto porque pode criar realidades, como porque pode deixar que existam pelo fato de serem silenciadas. (GUARESCHI; 2004; 14)

Percebemos na passagem a seguir, importante correlação entre os estudos de Guareschi (2004) e nossa reflexão em torno de um Brasil que a gente não vê por aqui, mas sim tem a construção social de sua realidade “transferida” para uma emissora de televisão estrangeira. Não uma empresa jornalística qualquer, mas aquela a que todas as outras assistem quando buscam estar informadas, como destaca Whittemore (1990): a CNN.

Quem tem a palavra constrói identidades pessoais ou sociais. Já foram feitos estudos interessantes sobre o que determinados povos pensam de outros povos. Essa opinião está baseada, principalmente, nas informações que as pessoas recebem. Em estudos e pesquisas realizados no campo da comunicação, verificou-se que a opinião pública é preparada com informações sobre determinadas populações de tal modo que isso pode chegar a justificar até mesmo uma invasão de um país adversário. (GUARESCHI; 2004; 15)

Conforme Guareschi (2004), os meios de comunicação estão sempre presentes na vida em sociedade e são fator indispensável tanto na criação como na transmissão, mudança, legitimação e reprodução de determinada cultura, exercendo, portanto, papel de grande envergadura na era contemporânea.

Defendemos assim, a validade e o caráter de urgência de estudos em comunicação que ampliem a discussão face ao que é construído acerca do Brasil por emissoras estrangeiras de televisão, como é o caso da CNN, hegemônica no telejornalismo internacional, como afirma Whittemore (1990).

Sustentamos que dessa forma, a ciência da comunicação estará prestando relevante benefício à sociedade do país por contribuir de modo incisivo em uma seara cada vez mais necessária ao desenvolvimento sadio de qualquer nação: a mídia e os processos sociais.

Esperamos, dessa forma, que o artigo contribua ensejando novas discussões e mesmo contribuindo com a abertura de novos desdobramentos e suscitando críticas capazes de enriquecer um estudo tão urgente. Afinal, vivemos em uma sociedade dotada de complexidade cada vez maior e por isso mesmo tão carente de informações que a façam exercer o seu pleno acesso ao que Berger e Luckmann (1972) julgam como aspecto imprescindível à vida social: a comunicação.


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Mtro. Pedro Paulo Procópio de Oliveira Santos
Mestre em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco.

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